PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O GESTO DE UMA MULHER QUE TRANSFORMOU A FESTA




O sol ainda morno em plena manhã de inverno, a aquecer os passos rápidos que a caminhada exige por entre a trilha do parque, trouxe além do calor, um lampejo que foi seguido de uma breve interrupção na contemplação daquela segunda dezena do rosário:

“Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e aí estava a mãe de Jesus. Também Jesus foi convidado para o casamento... Faltou vinho, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não tem mais vinho!”... (Maria então) disse aos que estavam servindo: “Façam o que Ele acaso disser”. (João 2,1-3,5)

E me sobreveio ao pensamento: Como não ligar esta cena do primeiro milagre que Jesus realizou, escolhendo justamente uma festa de casamento, para transformar a carência de um ingrediente como o vinho - a sensação da festa - em motivo de alegria, permitindo que o evento se prolongasse e não fosse causa de constrangimento aos noivos, até aos dias atuais, com tantos casamentos que vem se realizando, dos perigos e carências rondando por todos os lados?

Esta reflexão que tiramos do milagre das “Bodas de Caná” é tão abrangente e complexa para comportar apenas uma festa de bodas. É muito mais que a festa de casamento...

Tal como aquela decisão que todo casal tomou um dia, de querer viver com o amado (a) para sempre! De construir uma vida fundada no amor. E a decisão fez com que os planos começassem a deixar os então esboços e ir apresentando as primeiras formas num projeto concreto de construir não apenas uma casa, mas um lar!

Só quem está noivo e de casamento marcado pode afirmar as delícias, como também as agruras de como é lançar os primeiros alicerces: os papéis e documentos; os trâmites legais; as obrigações; a residência própria ou o aluguel; os móveis; o vestido da noiva; os convites; a festa; etc., etc...

Quantos preparativos absorvem o tempo, a energia e as economias dos noivos!
 
– Mas é assim mesmo, dizem alguns.

- Faz parte do pacote, retrucam outros.

Mais que apontar cartilhas e esquemas da realidade faz-se necessário ser apoio, ser próximo, saber ouvir e aconselhar, pois os noivos são aprendizes de um novo projeto que está por vir, mesmo que muitos preguem o seu fracasso...

E quando surge algo que não se planejou, as surpresas inesperadas, o desemprego de uma das partes? A renúncia a algumas vontades pessoais e acessórias para se priorizar o conjunto e o principal? O aprendizado em lidar com as carências que surgem avassaladoramente indicam que a humildade é uma virtude que deve ser cultivada também. Que casal não cresce e amadurece com esse aprendizado?

A experiência de participar dos preparativos do casamento da primeira sobrinha da família trouxe-me essas interrogações. Temos conversado sobre o assunto, que tem sido motivo de alegria e entusiasmo, ao mesmo tempo que envolto em tantas preocupações e dificuldades. Não tem como ficar neutro nessas horas. Quanto crescimento essa vivência traz.

E naquela manhã, enquanto desfiava as contas durante a caminhada e meditava no mistério da alegria e júbilo de uma festa de bodas, onde tudo foi possível graças à intervenção de uma mulher como Nossa Senhora, que soube mais que ninguém apelar ao Filho para que algo não tirasse a alegria do jovem casal: a falta de vinho!

O vinho, símbolo da alegria, não poderia faltar somente naquela festa, mas nas nossas também. O vinho não pode faltar nas relações diárias do novo casal que vai descobrindo pela convivência diária os mistérios que um casamento encerra, suas nuances que são expressão do doar-se por amor porque é na doação de si que se encontra a verdadeira felicidade. A esse respeito disse BERTOLT BRECHT:

“Amor é o desejo de dar algo, não de receber. Amor é a arte de produzir algo com as capacidades do outro. Isto requer atenção e afeição do outro. Isto sempre se pode obter. O desejo exagerado de ser amado tem pouco a ver com amor genuíno.”

E o vinho não pode faltar nas relações familiares, no nosso ambiente de trabalho, de vizinhança, de igreja, nos círculos de amizades. Também não pode faltar esse vinho transformador nas relações econômicas e políticas, promotoras de vida e de justiça, da ecologia e da sustentabilidade do planeta. É tão urgente esse vinho para que a vida continue e seja sempre inclusiva!

Como podemos agir para esse vinho não faltar?

Voltando ao texto, percebemos e aprendemos que Jesus sabe que dele tudo precisamos, que sem Ele nada somos e nem podemos. Jesus tem um coração que é uma bomba sempre em estado de explosão de misericórdia e compaixão. Porém, Ele espera nossa fé e adesão. Tal como ocorreu com sua mãe, Ele bem sabia que ali faltaria vinho e poderia agir de imediato, mas deixou que a sutileza, intuição e solidariedade de uma mulher falasse primeiro. Ele preferiu atender o apelo da Mãe. O mesmo faz conosco: Ele espera nossas atitudes...

O gesto de uma mulher transformou uma festa. O coração de uma mãe intercede pelos filhos.

Peçamos então à Mãe, que o Filho atende!


(Post publicado em julho/2015).




Pela Inclusão e pela Vida!





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