O sol ainda morno em plena manhã
de inverno, a aquecer os passos rápidos que a caminhada exige por entre a
trilha do parque, trouxe além do calor, um lampejo que foi seguido de uma breve
interrupção na contemplação daquela segunda dezena do rosário:
“Três dias depois, houve um
casamento em Caná da Galiléia, e aí estava a mãe de Jesus. Também Jesus foi
convidado para o casamento... Faltou vinho, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles
não tem mais vinho!”... (Maria então) disse aos que estavam servindo: “Façam o
que Ele acaso disser”. (João 2,1-3,5)
E me sobreveio ao pensamento: Como
não ligar esta cena do primeiro milagre que Jesus realizou, escolhendo
justamente uma festa de casamento, para transformar a
carência de um ingrediente como o vinho - a sensação da festa - em motivo de
alegria, permitindo que o evento se prolongasse e não fosse causa de
constrangimento aos noivos, até aos dias atuais, com tantos casamentos que vem
se realizando, dos perigos e carências rondando por todos os lados?
Esta reflexão que tiramos do
milagre das “Bodas de Caná” é tão abrangente e complexa para comportar apenas
uma festa de bodas. É muito mais que a festa de casamento...
Tal como aquela decisão que todo
casal tomou um dia, de querer viver com o amado (a) para sempre! De construir
uma vida fundada no amor. E a decisão fez com que os planos começassem a deixar
os então esboços e ir apresentando as primeiras formas num projeto concreto de construir
não apenas uma casa, mas um lar!
Só quem está noivo e de
casamento marcado pode afirmar as delícias, como também as agruras de como é lançar
os primeiros alicerces: os papéis e documentos; os trâmites legais; as
obrigações; a residência própria ou o aluguel; os móveis; o vestido da noiva;
os convites; a festa; etc., etc...
Quantos preparativos absorvem o
tempo, a energia e as economias dos noivos!
– Mas é assim mesmo, dizem
alguns.
- Faz parte do pacote, retrucam
outros.
Mais que apontar cartilhas e esquemas
da realidade faz-se necessário ser apoio, ser próximo, saber ouvir e
aconselhar, pois os noivos são aprendizes de um novo projeto que está por vir,
mesmo que muitos preguem o seu fracasso...
E quando surge algo que não se
planejou, as surpresas inesperadas, o desemprego de uma das partes? A renúncia
a algumas vontades pessoais e acessórias para se priorizar o conjunto e o
principal? O aprendizado em lidar com as carências que surgem avassaladoramente
indicam que a humildade é uma virtude que deve ser cultivada também. Que casal
não cresce e amadurece com esse aprendizado?
A experiência de participar dos
preparativos do casamento da primeira sobrinha da família trouxe-me essas
interrogações. Temos conversado sobre o assunto, que tem sido motivo de alegria
e entusiasmo, ao mesmo tempo que envolto em tantas preocupações e dificuldades.
Não tem como ficar neutro nessas horas. Quanto crescimento essa vivência traz.
E naquela manhã, enquanto
desfiava as contas durante a caminhada e meditava no mistério da alegria e
júbilo de uma festa de bodas, onde tudo foi possível graças à intervenção de
uma mulher como Nossa Senhora, que soube mais que ninguém apelar ao Filho para
que algo não tirasse a alegria do jovem casal: a falta de vinho!
O vinho, símbolo da alegria,
não poderia faltar somente naquela festa, mas nas nossas também. O vinho não
pode faltar nas relações diárias do novo casal que vai descobrindo pela
convivência diária os mistérios que um casamento encerra, suas nuances que são
expressão do doar-se por amor porque é na doação de si que se encontra a
verdadeira felicidade. A esse respeito disse BERTOLT
BRECHT:
“Amor é o desejo de dar algo,
não de receber. Amor é a arte de produzir algo com as capacidades do outro.
Isto requer atenção e afeição do outro. Isto sempre se pode obter. O desejo
exagerado de ser amado tem pouco a ver com amor genuíno.”
E o vinho não pode faltar nas
relações familiares, no nosso ambiente de trabalho, de vizinhança, de igreja,
nos círculos de amizades. Também não pode faltar esse vinho transformador nas
relações econômicas e políticas, promotoras de vida e de justiça, da ecologia e
da sustentabilidade do planeta. É tão urgente esse vinho para que a vida
continue e seja sempre inclusiva!
Como podemos agir para esse
vinho não faltar?
Voltando ao texto, percebemos e
aprendemos que Jesus sabe que dele tudo precisamos, que sem Ele nada somos e
nem podemos. Jesus tem um coração que é uma bomba sempre em estado de explosão
de misericórdia e compaixão. Porém, Ele espera nossa fé e adesão. Tal como
ocorreu com sua mãe, Ele bem sabia que ali faltaria vinho e poderia agir de
imediato, mas deixou que a sutileza, intuição e solidariedade de uma mulher
falasse primeiro. Ele preferiu atender o apelo da Mãe. O mesmo faz conosco: Ele
espera nossas atitudes...
O gesto de uma mulher
transformou uma festa. O coração de uma mãe intercede pelos filhos.
Peçamos então à Mãe, que o
Filho atende!
(Post publicado em julho/2015).
(Post publicado em julho/2015).
Pela Inclusão e pela Vida!
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