Naquela manhã, enquanto acompanhava
minha genitora a uma consulta, ficamos aguardando no térreo daquela clínica a
avaliação preliminar de exames
complementares e rotineiros. Só depois destes é que se podia subir então ao
terceiro andar para a consulta propriamente dita.
Neste aguardo, sentada na sala ao
lado e de frente ao elevador, noto que a recepcionista acabara de afixar um
aviso na porta do referido: “Desculpe-nos o transtorno pelo defeito do elevador. Favor utilizar as
escadas”.
- Caraca, pensei! É hoje que o
povo vai se exercitar protestando!
Prédio novo, elevador idem.
Problemas acontecem, mas certas pessoas, cuja responsabilidade de gerenciamento
requer sensibilidade e estratégia humanas, ao contrário, agem como aquele
elevador: emperrando e dificultando.
E aquele doutor, cuja especialidade atendia
a maioria dos idosos, poderia ser mais condizente e solidário em descer os três
lances de escadas e montar o atendimento no térreo, facilitando o acesso aos
pacientes. Porém, venceu a ineficiência. Lamentável a situação onde falta comunicação
e atitudes.
Nesses casos, quando uma
reclamação não resolve, as caixas de sugestões também servem. Se nem isto
funciona, o consumidor deve saber que tem a quem recorrer pelos seus direitos.
*****
O liquidificador lá de casa está
com defeito em suas lâminas,
responsáveis pela trituração dos alimentos. Em relação à moagem dos tomates
para o molho de macarrão, pessoalmente nada tenho a reclamar, já que gosto
daqueles pedaços mal picados nadando na massa. Mas a vitamina de frutas batidas
fica tão esquisita com aqueles caroços escorregadios de banana mal triturada.
E, já que não se fazem mais produtos duráveis como antigamente, devo logo
comprar uma lâmina nova se quiser melhor funcionamento.
*****
Lendo um jornal da comunidade,
observei que, num artigo em defesa da vida, havia no comentário um termo assim:
“se essa pessoa tem um defeito”...
Arrepiei-me com a referência. E,
como não podia deixar de opinar, aproveito esclarecer que, como no caso e em
tantos outros milhares que são escritos e falados por este país, o termo “defeito” jamais deve ser utilizado
quando se referir à pessoa humana.
Como o próprio vocábulo comporta, defeito está ligado ao mau
funcionamento, falha ou erro de peça, equipamento, maquinário, utensílio. Pode
ser que o defeito destes tenha ocorrido na linha de produção, ou em uso. Para
isto, basta uma troca parcial ou total, que fica de novo pronto para uso.
Com a pessoa humana, todos sabem
que não funciona assim. Nada, portanto que catalogar pessoas como
“defeituosas”. A linha de montagem é outra!
A inclusão defende esta bandeira,
cujo termo correto a que se deve referir é: pessoas com deficiência, ou
deficiente, ou PcD.
Fácil, né?
Confesso que toda vez que alguém
diz “defeito” em relação às pessoas,
recordo-me do Evangelho de João (3,1-12), onde Jesus dialoga sobre o Reino com
Nicodemos, um mestre do judaísmo, e, apesar disso, com dificuldades em captar a nova
mensagem: “Como é que um homem pode nascer de novo, sendo já velho? Poderá
entrar outra vez no ventre de sua mãe e nascer?”.
Transformar paradigmas, pensamentos e atitudes é preciso!
Nota da autora: Este artigo foi publicado há algum tempo atrás. Como retornei novamente ao local citado acima (no primeiro plano), devo esclarecer que, diante da reclamação dos usuários, foram feitas mudanças na acessibilidade aos pacientes da clínica. Um ponto a nosso favor! Decidi então repostá-lo.
Ah, em relação ao DEFEITO do liquidificador... sem chance! Só comprando um novo mesmo. Hoje em dia, tudo é feito para durar pouco e logo ser substituído por um novo, como manda a linha de consumo...
Sobre o último item: o DEFEITO em relação às pessoas, esse realmente é difícil de transpor... Sem desânimo, mas com paciência e luta a gente chega lá!
Pela Inclusão e pela Vida!
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