Imaginei um lugar.
Um lugar onde cabem todos:
brancos e amarelos, negros e orientais, índios, idosos e deficientes, crianças
e adolescentes; empregados e desempregados; estudantes e desocupados; ricos e
pobres; anarquistas e politizados; religiosos e agnósticos; diversos enfim...
O que é? Uma igreja?
Um campo de futebol?
Mas não é todo dia que todo
mundo vai à igreja ou no estádio ou outro lugar. Seu uso é diário, ao menos
para a grande maioria.
Imaginei os ônibus, o interior do popular busão tão necessário, prioritário,
imprescindível!
Pensou?
Quem mais inclusivo que ele,
quando junta e mistura todos em seu interior? O local do encontro de amigos ou
parentes; de reencontros e desencontros; novas amizades que surgem; amores que
florescem e rumores que desaparecem; de brigas cabeludas e gestos de caridade;
de gente educada e também casca grossa; fofocas e rezas contínuas; histórias de
dor, de vidas e lições de sabedoria... Enfim o buzão, esse grande meio de locomoção.
Pensei tanto nele nestes dias
de trânsito caótico e conturbado. E também nas pessoas privadas de se locomover
por meio dele na luta diária. Só quem não tem outro meio de mobilidade senão o
ônibus, é que sabe o quanto dói o sacrifício a que foi submetido por uma greve;
a inércia, a imobilidade e o cansaço diante de estressante situação. Fazer o
quê nessa hora?
Sem querer entrar no negativo dos
fatos ocorridos na semana - porque agora o que todo mundo quer é descansar
junto da família, dos amores e desfrutar do que é bom e sagrado para recarregar
o astral e as energias -, recordei-me de um fato que, de início, foi uma
brincadeira vista nas redes sociais, alegava nunca ocorrer de alguém tirar foto
num ponto de ônibus e divulgá-la na rede. Como que a insinuar ser todo mundo
chique a ponto de nunca por os pés num coletivo, tipo “coisa de pobre” ou algo assim. Assídua que sou nesse ofício,
resolvi aderir à brincadeira e colar imagens apontando fazer parte sim do povão
que usa o busão, e com muito orgulho.
Saí então à caça, mesmo que avessa
a esses tais de “selfies”. Escolhi uma
quinta-feira qualquer, que é o dia que mais me utilizo de diversas linhas de
ônibus. Tirei meia dúzia deles em paradas diferentes, sem, contudo me preocupar
em verificar o conteúdo da imagem. No momento da transferência para o arquivo é
que fui dar conta do péssimo serviço executado, sem nitidez nem objetividade, com
vários fragmentos de vultos sem pés nem cabeça, nem ônibus nem nada...
Desisti.
Certa vez, acompanhei pela TV
um documentário abordando o transporte público em escala mundial. A matéria
tratava da mobilidade da população de diversas metrópoles apontando um índice
muito alto de utilização do transporte público, principalmente ônibus, para
todas as atividades como educação, trabalho e lazer. Citava a Suíça como o país
que melhor serve sua população em termos de mobilidade e locomoção, com frotas
modernas e pontuais. Outras metrópoles foram citadas, mas me ative
exclusivamente àquela pelo conteúdo que acrescentava pontos na eficiência do
serviço: a consciência da população em corresponder à eficiência e praticidade
do que é oferecido em termos de modernidade, economia de tempo, combustível e
pedágio, diminuindo assim os congestionamentos, bem como as filas em
estacionamentos. São vantagens que apontavam o motivo pelo qual a maioria não
tirava o carro da garagem.
O resumo está nas premissas de
que políticas públicas de transporte eficiente que promovem o direito à
locomoção com qualidade, atreladas a uma cultura responsável, visando a
economia, praticidade e respeito ao coletivo, são os caminhos de melhoria na
qualidade de vida de uma população.
Transporte coletivo é pauta
primordial.
Para o povo voltar às ruas, deve ser muito
mais do que por alguns centavos!
Pela Inclusão e pela Vida
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