PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

domingo, 4 de maio de 2014

SÃO DUAS VIDAS! Final


Imagem: Google



“Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.”

(Rubem Alves)



Só depois de um tempo que cheguei àquela instituição para colaborar no trabalho voluntário é que fui conhecendo a história de alguns dos pacientes ali residentes. Creio que talvez leve mais algum tempo ainda para conhecer a história de outras quinhentas e tantas vidas que compõem aquela imensa família. Como um jardim cultivado com as mais diversas espécies de flores, cada um daqueles moradores especiais que apresentam deficiência intelectual associada ou não com sequelas físicas e do desenvolvimento, é uma história única e irrepetível. Quer tenham famílias ou não, estão ali por alguma razão.

E a razão pela qual dou sequência a este, como sendo a parte final dos três posts anteriores, é justamente um brevíssimo comentário de uma vida. Por respeito não revelo sua identidade. É já homem feito e tem uma cabeça exemplar; não anda, não fala e só se expressa por meio do olhar em uma prancha de comunicação Bliss. É um lutador desde o nascimento, isto porque sua mãe tentou abortá-lo assim que engravidou e, fracassada a tentativa, resultou os sérios comprometimentos físicos que apresenta.

Mesmo sendo uma pessoa em total dependência para as atividades da vida diária, ele tem um ofício a desempenhar na casa e também é escritor. Milagre? Obra do destino? Quem o vê pela primeira vez assusta-se. Quem fica seu amigo, deslumbra-se.

Como esta vida persistente, quantas outras poderemos considerar “verdadeiros guerreiros” que sobreviveram a um aborto? E depois, sobreviver com as sequelas, as limitações físicas, familiares, econômicas e sociais. Sobreviver em uma sociedade preconceituosa e machista é desafio à superação constante.

Não há necessidade de palavras ou retóricas quando se está diante de fatos onde uma simples observação já é suficiente para expressar quão estupenda é a força que tem a vida. Tem força e potência porque é sagrada e está ligada à obra da Criação, reportada ao Gênesis, o livro das origens contido na Bíblia, que nos primeiros capítulos (Gn 1-3) narra a criação do universo, do homem e da mulher a partir de um jardim, onde Deus tudo dispõe do bom e do melhor para a felicidade das suas criaturas. O Criador é aqui retratado como o amor concentrado que gera vidas exclusivamente porque amor não pode ficar contido em si mesmo, deve redundar, projetar-se em outras vidas.

E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom” (Gn 1,31). Esta frase é repetida inúmeras vezes pelo autor bíblico como a designar a supremacia do homem e da mulher sobre as demais obras criadas. E na sequência: “Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e a submetam” (1,28), o Criador incute a promoção da vida através da fecundidade do casal originário, como meta de que cada indivíduo que venha a ser gerado, seja enamorado, apaixonado, amado e fecundo, multiplicando-se conforme o “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança” (1,27), donde a origem divina de todos nós.

A profundidade dessa filiação é um convite para que cada pessoa humana saiba que não somos seres formados da matéria apenas. Temos transcendência divina e carregamos essa essência em nosso interior. Cada um é chamado a descobrir e investir essa filiação, cuja espiritualidade gira exclusivamente sob a força do amor, que tudo move e transforma. Amar e crer na força da vida é deixar-se apaixonar pela mesma. E quem ama de fato, só deseja o bem e a promoção do outro, do amado.

Oxalá, que o amor seja a moeda circulante em nossos contatos e nos torne sensíveis e abertos àquilo que esteja a nosso alcance para colaborar na promoção da vida, sempre.





Pela Inclusão e pela Vida.





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