Imagem: Google |
“Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.”
(Rubem Alves)
Só depois de um tempo que
cheguei àquela instituição para colaborar no trabalho voluntário é que fui
conhecendo a história de alguns dos pacientes ali residentes. Creio que talvez
leve mais algum tempo ainda para conhecer a história de outras quinhentas e
tantas vidas que compõem aquela imensa família. Como um jardim cultivado com as
mais diversas espécies de flores, cada um daqueles moradores especiais que
apresentam deficiência intelectual associada ou não com sequelas físicas e do
desenvolvimento, é uma história única e irrepetível. Quer tenham famílias ou
não, estão ali por alguma razão.
E a razão pela qual dou
sequência a este, como sendo a parte final dos três posts anteriores, é
justamente um brevíssimo comentário de uma vida. Por respeito não revelo sua
identidade. É já homem feito e tem uma cabeça exemplar; não anda, não fala e só
se expressa por meio do olhar em uma prancha de comunicação Bliss. É um lutador
desde o nascimento, isto porque sua mãe tentou abortá-lo assim que engravidou
e, fracassada a tentativa, resultou os sérios comprometimentos físicos que
apresenta.
Mesmo sendo uma pessoa em total
dependência para as atividades da vida diária, ele tem um ofício a desempenhar
na casa e também é escritor. Milagre? Obra do destino? Quem o vê pela primeira
vez assusta-se. Quem fica seu amigo, deslumbra-se.
Como esta vida persistente,
quantas outras poderemos considerar “verdadeiros guerreiros” que sobreviveram a
um aborto? E depois, sobreviver com as sequelas, as limitações físicas,
familiares, econômicas e sociais. Sobreviver em uma sociedade preconceituosa e
machista é desafio à superação constante.
Não há necessidade de palavras ou
retóricas quando se está diante de fatos onde uma simples observação já é suficiente
para expressar quão estupenda é a força que tem a vida. Tem força e potência
porque é sagrada e está ligada à obra da Criação, reportada ao Gênesis, o livro
das origens contido na Bíblia, que nos primeiros capítulos (Gn 1-3) narra a
criação do universo, do homem e da mulher a partir de um jardim, onde Deus tudo
dispõe do bom e do melhor para a felicidade das suas criaturas. O Criador é
aqui retratado como o amor concentrado que gera vidas exclusivamente porque amor
não pode ficar contido em si mesmo, deve redundar, projetar-se em outras vidas.
“E Deus viu tudo o que havia
feito, e tudo era muito bom” (Gn 1,31). Esta frase é repetida inúmeras vezes
pelo autor bíblico como a designar a supremacia do homem e da mulher sobre as demais
obras criadas. E na sequência: “Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a
terra e a submetam” (1,28), o Criador incute a promoção da vida através
da fecundidade do casal originário, como meta de que cada indivíduo que venha a
ser gerado, seja enamorado, apaixonado, amado e fecundo, multiplicando-se
conforme o “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança” (1,27), donde
a origem divina de todos nós.
A profundidade dessa filiação é
um convite para que cada pessoa humana saiba que não somos seres formados da
matéria apenas. Temos transcendência divina e carregamos essa essência em nosso
interior. Cada um é chamado a descobrir e investir essa filiação, cuja
espiritualidade gira exclusivamente sob a força do amor, que tudo move e
transforma. Amar e crer na força da vida é
deixar-se apaixonar pela mesma. E quem ama de fato, só deseja o bem e a
promoção do outro, do amado.
Oxalá, que o amor seja a moeda circulante em nossos contatos e nos torne
sensíveis e abertos àquilo que esteja a nosso alcance para colaborar na promoção
da vida, sempre.
Pela Inclusão e pela Vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário