ANÔNIMOS, A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA?
A caminhada matinal sempre tem um
quê de especial além do exercício de movimentar o corpo por um determinado
tempo.
Como exercito na praça, por entre
árvores e avenidas, que incitam o olhar e o meditar sobre a vida, natureza e o
planeta, vez ou outra, acontece de alguém interromper aquele movimento para
pedir informação.
Hoje foi diferente: para mim, se
há algo que desmonta, é deparar com pessoas profundamente humildes, e essa
virtude dá para reconhecer pelo olhar.
O rapaz educado que me
interrompeu perguntou sobre determinada rua que eu desconhecia e, ante minha
negativa, mostrou um papelote impresso com o nome de um órgão público onde
deveria se apresentar e que constava a referida rua, então uma novidade.
Reconheci o local, e afirmei que ele poderia alcançá-lo em quinze minutos de
caminhada e expliquei como chegar lá. Uma senhora o acompanhava.
Quando terminei de falar, os dois
olhavam de tal maneira que aquilo me derreteu. Aí a ficha caiu: será que ele
tirou a dúvida grande em relação ao local, ou esta ficou dobrada com os meus
argumentos? Será que entenderam???
Perguntei e eles afirmaram com um
balançar de cabeça, agradecendo. Sei não, creio que ficaram com vergonha em
responder.
Fico cá pensando nos dilemas da
comunicação. É tão simples dar uma informação, como também querer ajudar. Pena
que, às vezes, esbarramos na forma com que certas pessoas compreendem seu
interlocutor e não dão prosseguimento para encerrar o diálogo: - Muito
obrigado, entendi perfeitamente! Ou ainda: - Desculpe, mas não entendi, poderia
repetir? De modo a possibilitar que a interação seja completada.
Essa realidade é uma constante na
vida de pessoas surdas e oralizadas. De minha parte, vivo sempre perguntando!
Se não entendo algo que me foi anunciado ou dirigido, pergunto de novo até
conseguir realizar o desejo elementar do intelecto. Mas não é sempre que
alcanço essas facilidades... mesmo com amigos e conhecidos, muitas vezes fico
“boiando”. E se cobro aqueles que não são muito familiarizados, até acontece de
acharem que fico no pé! Mas eu fico mesmo, de que adianta a comunicação de “mão
única”? Isso não existe.
O engraçado é também que algumas
amigas e conhecidos afirmam que já aconteceu com eles próprios, de considerarem
eu aparentar ser uma pessoa mal-educada quando me conheceram, pelo simples fato
de que falavam comigo, perguntavam algo ou pediam favores e eu não dar retorno,
ignorando-os, ou passava direto por eles, simplesmente porque não os ouvia. Até
que foram alertados de que a “palavra mágica” que estava faltando naqueles
casos era apenas um toque ou então um aceno, ou ainda agitar os braços como se
estivesse fazendo estardalhaço, que sempre chama a atenção...
É só assim que funciona para
chamar alguém quem não ouve.
Gritar??? É café menor ainda...
Já pensou em quantas pessoas
hoje, na rua, devem ter a primeira impressão como a dos meus amigos... Quantos
perguntam as horas, buzinam do carro, dão um alô, e eu nem aí...
Fazer o quê? É só de frente
mesmo!
Somos todos anônimos...
P.S.: Extraí este post do antigo
blog: Inclusão & Sagrado. Resolvi publicá-lo após um fato idêntico (isso é
constante, diria normal) ocorrido na semana, quando saía da instituição em que atuo como
voluntária. Assim que cheguei à saída, alguém corria atrás desde o pátio para
deixar um recado, coisa que nem percebi, nem ouvi, nem vi... Foi cômico!
Inclusão é vida.
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