“Ao cantarmos as nossas conquistas
Numa vida de intenso labor,
Outra coisa não temos em vista,
Que pagar-te um tributo de amor”
ODE À ESALQ
Um tributo de amor foi o que vi
no rosto daqueles jovens.
De tantas coisas boas da vida,
tem momentos preciosos que merecem ser comemorados e também comentados como uma
formatura, por exemplo. Poder ver jovens que um dia aceitaram o desafio de
enfrentar o penoso vestibular, e depois a mudança para longe da família, a
adaptação ao diferente, à rígida rotina dos estudos. E as novas amizades,
descobertas e aprendizado. Ainda bem que os jovens são seres dotados de energia
e vigor ao abraçar uma causa pela qual vale a pena viver.
Quando o Papa Francisco esteve
no Rio de Janeiro, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude e ficou
maravilhado com tudo que viu e ouviu daqueles rapazes e garotas cheios de
coragem e alegria, deixou a estes uma mensagem da qual vou citar um trecho que
considerei muito relevante:
“Não
deixem que outros sejam os protagonistas da mudança. Vocês são os protagonistas
do futuro. Estou certo de que vocês não querem viver a ilusão de uma liberdade
que se deixa arrastar pela moda e pelas conveniências do momento. Sei que vocês
apontam para o alto, para decisões definitivas que dão pleno sentido à vida.”
É uma grande verdade o que
Francisco disse em sua exortação. Os jovens realmente são os verdadeiros
protagonistas da mudança - sonhadores, corajosos, determinados, aguerridos e
contestadores. São estes ingredientes que forjam os indivíduos amantes da
justiça, da paz e da esperança na direção de um futuro decente para a
humanidade e para o planeta.
E naquele momento solene, olhando
os formandos que se postavam ali à frente em suas becas negras, atentos à
mensagem do paraninfo cujo discurso os comparava como pássaros recém-saídos do
ninho, de barriga farta (de bagagem transbordante) e que alçavam os primeiros voos,
inicialmente pulando num galho, ora noutro (os primeiros passos decididos mesmo
que inseguros), de modo que aquela experiência fosse a transposição do
aprendizado para a vivência, onde a concretização de um sonho em realidade
comportaria também desbravar os desafios dos novos caminhos que ora vão se
descortinando. E pensei no apoio e na coragem de que irão precisar todos esses
novos profissionais em início de carreira. Inclusive meu sobrinho Pedro, ali
inserido.
Lembro-me de quando o Pedro era
pequeno e nunca se desgrudava da chupeta. Mas chegara o tempo de desfazer-se
dela e sua mãe pensou numa saída que não fosse traumática para o pequeno. Certo
dia, enquanto ele dormia, ela teve a ideia de retirar a borracha da “gotosa” de
sua haste plástica, virando-a pelo avesso e, com uma caneta preta, foi
inserindo algumas pintas minúsculas como se fossem insetos. Recolocou a chupeta
em seu estado normal, deixando-a ao alcance do menino, numa mesinha que era
local costumeiro.
Aquilo foi tiro e queda! Assim
que acordou e apanhou a chupeta, Pedro percebeu algo estranho e foi logo
perguntar à mãe o que era aquilo. Soube que se tratava de pequenos vermes que
não desgrudavam dela nem mesmo lavando-a, como ele viu depois. A partir de
então, nunca mais o Pedro levou a dita cuja à boca e nem pediu outra. Ela ainda
ficou um bom tempo sobre a mesinha para que ele pudesse vê-la sempre, como num
gesto sentimental de desligamento.
O Pedro é uma pessoa determinada
desde criança. E naquele momento da formatura, assim que o vi adentrar no
recinto pela fileira dos formandos, alto, esbelto e elegante, uma brevíssima
lembrança me veio à mente, daquele menininho que dizia com doçura: “- Tia, a ‘peta’
tá com bicho!”.
A colação de grau é a coroação
de uma batalha vencida, de uma meta alcançada, de limites transpostos e também
de novos caminhos abertos pelos conhecimentos adquiridos e assimilados no
processo de formação. Onde tudo são desafios, nada se torna fácil. E o Pedro
soube enfrentá-los com coragem e sabedoria graças ao apoio e carinho da família,
mesmo morando longe de casa. Educado e atencioso, empenhando-se com afinco,
trabalhando como estagiário e juntando as economias visando garantir parte dos
cursos que fez no exterior. Um grande garoto!
E como não falar aqui do Pai do
Céu e do seu Filho Jesus, a quem devem ser atribuídos todo o êxito alcançado, a
força que sustenta, a luz que ilumina os caminhos dele e deles todos? Sem
esquecer também do materno apoio de Nossa Senhora Aparecida, a mãe que cuida e
protege seus filhos sempre!
Sobre isto, não poderia deixar
de mencionar a chuva que caiu num momento tão peculiar e especial daquele
evento, como se fosse uma predestinação. A oradora da turma fazia seu discurso
(que não pude acompanhá-lo pela interferência do tempo nas imagens do telão) e
apenas vi quando ela levantou um dos braços apontando ao céu, sorrindo. E seu
sorriso foi compartilhado por muitos. Perguntei aos avós ao lado o que foi que
ela havia dito para emocionar com seu gesto e soube que, no exato instante em
que lia um texto com terno agradecimento a Deus pela força e presença durante a
jornada, um trovão reboou com força, ao qual ela apontou então para o céu e
disse:
- Olhem, é Ele!
Pela Inclusão e pela Vida.
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