PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

AS BECAS, O TROVÃO E A CHUPETA




 “Ao cantarmos as nossas conquistas
Numa vida de intenso labor,
Outra coisa não temos em vista,
Que pagar-te um tributo de amor”
ODE À ESALQ


Um tributo de amor foi o que vi no rosto daqueles jovens.

De tantas coisas boas da vida, tem momentos preciosos que merecem ser comemorados e também comentados como uma formatura, por exemplo. Poder ver jovens que um dia aceitaram o desafio de enfrentar o penoso vestibular, e depois a mudança para longe da família, a adaptação ao diferente, à rígida rotina dos estudos. E as novas amizades, descobertas e aprendizado. Ainda bem que os jovens são seres dotados de energia e vigor ao abraçar uma causa pela qual vale a pena viver.

Quando o Papa Francisco esteve no Rio de Janeiro, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude e ficou maravilhado com tudo que viu e ouviu daqueles rapazes e garotas cheios de coragem e alegria, deixou a estes uma mensagem da qual vou citar um trecho que considerei muito relevante:

“Não deixem que outros sejam os protagonistas da mudança. Vocês são os protagonistas do futuro. Estou certo de que vocês não querem viver a ilusão de uma liberdade que se deixa arrastar pela moda e pelas conveniências do momento. Sei que vocês apontam para o alto, para decisões definitivas que dão pleno sentido à vida.”

É uma grande verdade o que Francisco disse em sua exortação. Os jovens realmente são os verdadeiros protagonistas da mudança - sonhadores, corajosos, determinados, aguerridos e contestadores. São estes ingredientes que forjam os indivíduos amantes da justiça, da paz e da esperança na direção de um futuro decente para a humanidade e para o planeta.

E naquele momento solene, olhando os formandos que se postavam ali à frente em suas becas negras, atentos à mensagem do paraninfo cujo discurso os comparava como pássaros recém-saídos do ninho, de barriga farta (de bagagem transbordante) e que alçavam os primeiros voos, inicialmente pulando num galho, ora noutro (os primeiros passos decididos mesmo que inseguros), de modo que aquela experiência fosse a transposição do aprendizado para a vivência, onde a concretização de um sonho em realidade comportaria também desbravar os desafios dos novos caminhos que ora vão se descortinando. E pensei no apoio e na coragem de que irão precisar todos esses novos profissionais em início de carreira. Inclusive meu sobrinho Pedro, ali inserido.



Lembro-me de quando o Pedro era pequeno e nunca se desgrudava da chupeta. Mas chegara o tempo de desfazer-se dela e sua mãe pensou numa saída que não fosse traumática para o pequeno. Certo dia, enquanto ele dormia, ela teve a ideia de retirar a borracha da “gotosa” de sua haste plástica, virando-a pelo avesso e, com uma caneta preta, foi inserindo algumas pintas minúsculas como se fossem insetos. Recolocou a chupeta em seu estado normal, deixando-a ao alcance do menino, numa mesinha que era local costumeiro.

Aquilo foi tiro e queda! Assim que acordou e apanhou a chupeta, Pedro percebeu algo estranho e foi logo perguntar à mãe o que era aquilo. Soube que se tratava de pequenos vermes que não desgrudavam dela nem mesmo lavando-a, como ele viu depois. A partir de então, nunca mais o Pedro levou a dita cuja à boca e nem pediu outra. Ela ainda ficou um bom tempo sobre a mesinha para que ele pudesse vê-la sempre, como num gesto sentimental de desligamento.

O Pedro é uma pessoa determinada desde criança. E naquele momento da formatura, assim que o vi adentrar no recinto pela fileira dos formandos, alto, esbelto e elegante, uma brevíssima lembrança me veio à mente, daquele menininho que dizia com doçura: “- Tia, a ‘peta’ tá com bicho!”.

A colação de grau é a coroação de uma batalha vencida, de uma meta alcançada, de limites transpostos e também de novos caminhos abertos pelos conhecimentos adquiridos e assimilados no processo de formação. Onde tudo são desafios, nada se torna fácil. E o Pedro soube enfrentá-los com coragem e sabedoria graças ao apoio e carinho da família, mesmo morando longe de casa. Educado e atencioso, empenhando-se com afinco, trabalhando como estagiário e juntando as economias visando garantir parte dos cursos que fez no exterior. Um grande garoto!


E como não falar aqui do Pai do Céu e do seu Filho Jesus, a quem devem ser atribuídos todo o êxito alcançado, a força que sustenta, a luz que ilumina os caminhos dele e deles todos? Sem esquecer também do materno apoio de Nossa Senhora Aparecida, a mãe que cuida e protege seus filhos sempre!



Sobre isto, não poderia deixar de mencionar a chuva que caiu num momento tão peculiar e especial daquele evento, como se fosse uma predestinação. A oradora da turma fazia seu discurso (que não pude acompanhá-lo pela interferência do tempo nas imagens do telão) e apenas vi quando ela levantou um dos braços apontando ao céu, sorrindo. E seu sorriso foi compartilhado por muitos. Perguntei aos avós ao lado o que foi que ela havia dito para emocionar com seu gesto e soube que, no exato instante em que lia um texto com terno agradecimento a Deus pela força e presença durante a jornada, um trovão reboou com força, ao qual ela apontou então para o céu e disse:

- Olhem, é Ele!


Pela Inclusão e pela Vida.


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