PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Fragmentos de uma Formatura – Final


Os três posts aqui transcritos, que são apresentados em sequência, escrevi-os em janeiro de 2012 por ocasião da formatura de um dos sobrinhos, César. Dois anos se passaram e novas formaturas estão ocorrendo na família, uma delas, a do Pedro que acaba de se formar também pela ESALQ. Na pretensão de falar um pouco sobre ele e, para não tornar alguns fatos repetitivos, importei os posts seguidos do antigo blog, de modo a conservar a tradição com que a faculdade preserva e perpetua sua história. 




Quebrando Regras

Finalmente a tia babona vai falar sobre o sobrinho recentemente formado, César Frizo, de quem fez referência nos posts anteriores. Não apenas digo que sou uma delas, como também assumo o fato em relação a todos os pupilos da família, cada qual a seu modo. Dizem que as tias se assemelham mais às avós do que às mães, o que não deixa de ser uma verdade.

Entre falar aqui sobre as virtudes, aptidões e habilidades do César, preferi abordar algumas atitudes tomadas por ele, por ocasião do último ano de Agronomia, mais precisamente no que se referem à apresentação da tese final do curso, em que escolheu utilizar os seis meses de residência na França voltados para análise, pesquisa e fabricação de vinho orgânico, aquele de processamento natural, sem químicos.

Não pretendo discorrer sobre seu experimento pela região de Bordeaux, que já foi objeto de uma publicação no caderno Paladar, do jornal O Estado de São Paulo, em 08 de dezembro de 2011, a qual poderá ser conferida no link abaixo:


Quero me ater mais precisamente sobre uma atitude dele, eu diria audaciosa, na apresentação da tese perante a banca examinadora, assim que retornou ao país. Tem a ver com ‘quebrar regras’ quando uma verdade se impõe, mas que não convence pela totalidade de argumentos em que se baseia e há a necessidade de ir mais a fundo na questão.

Quem já defendeu uma tese de final de curso em pleno “céu de brigadeiro”? Para alguns é até possível pela diversidade de comportamentos das pessoas, mas, para outros (eu incluída), é enorme a descarga de adrenalina sobre o organismo, somada ao nervosismo e suor incontidos, comum naquele momento. Apesar da normalidade com que é considerada a situação, já tremi feito vara e, mesmo assim, fui feliz com esse sintoma apenas, quando o pior de todos é aquele famoso “branco” que costuma acometer. Aí é mico.

Então, imbuído desses sintomas característicos, o César defendeu seu trabalho, documentado através de impressos, fotos, amostras de terra e outros agregados à pesquisa de solo, videira, frutos e finalmente, do vinho que fabricou. E destacou que, quando chegou à França e ouviu dos produtores de vinho que o solo de lá, por ser muito seco, as raízes da videira podiam chegar a profundidades absurdas na procura pela água. Ele não acreditou. Pôs-se então a cavar um buraco, vários buracos para analisar a veracidade do fato, pois, lembrou-se das aulas ministradas sobre o solo, onde as raízes podem descer sim alguns metros mais ao fundo na busca de água, mas não tanto como aqueles produtores franceses afirmavam, talvez pela própria cultura secular que atravessa gerações, de auferir também a esse feito da raiz a qualidade do vinho.

À medida que cavava o buraco, tinha sempre algum agricultor à sua volta, perguntando o que fazia. Quando respondia sobre a raiz, ouvia então argumentos num misto de perplexidade e absurdo com aquela cena:

- Mas para quê, se a raiz está aqui ó!

Na conclusão, de todos os buracos que cavou, em nenhum dos terrenos as raízes passavam dos limites, da forma como os produtores diziam. Conseguiu então provar e documentar seu experimento.

E ali, naquela sala diante dos examinadores, terminada as explanações e respostas às perguntas feitas, um dos professores, do alto de seus oitenta anos, dirigiu-lhe a palavra e questionou-o:

- Mas filho, você saiu daqui do Brasil, no Mundo Novo e, na curiosidade, foi cavar alguns buracos em solo francês, eles que tem séculos e séculos de tradição com vinho?
...

Em apartado, a banca se reuniu para decisão da nota.

Suado e com a tensão crescendo depois daquele questionamento do velho mestre, sob o enfoque da tradição e do quebrar de regras, ficou alerta. Pensou na nota sendo colocada em xeque. Bem, pensou para si: Já arrisquei e provei a mim mesmo a teoria, o que resta agora é enfrentar. Que venha a nota!

O professor caminhava agora em sua direção, para elogiar não só a coragem como também seu ceticismo, desejoso de querer entender e provar o contrário. Seu trabalho foi considerado a melhor tese de conclusão do ano. Teve sua nota avaliada como o melhor rendimento da turma.

César e os pais


Com o irmão Pedro


 
Vanessa, a namorada que contribuiu com informações



Pela Inclusão e pela Vida.




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