Estava voltando da celebração na igreja e...
Estava voltando da celebração na igreja e...
E algo desagradável ocorreu numa sequência de falas entrecortadas, que perdi o fio da meada.
Uma perguntinha...
Você tem ideia de como uma pessoa surda oralizada
(aquela que faz leitura labial), visualiza alguém utilizando um microfone
para se comunicar com a plateia??? Daqueles que mais se parecem com um sorvete
de massa, cuja bola incrustada no cone da casquinha vamos degustando numa
velocidade a ponto de não permitir que o sorvete derreta tão rápido e percamos
a degustação tão adocicada???
Porém, com o microfone é diferente: a bola nunca derrete e fica atrapalhando a visão de quem não ouve, no acompanhamento do que alguém está dizendo!
Pois é, eu direi que esse tipo de microfone é um
grande intruso... Um metido a indesejado que se posta à nossa frente e bloqueia
nosso canal de comunicação mais imprescindível: ler nos lábios de nosso
interlocutor a mensagem que ele está transmitindo! Ao menos ele o é para mim!
Desculpe leitor, vejo que preciso me identificar
primeiro para que este post seja inteligível:
- Olá, eu sou surda! Não, não sou portadora
de surdez; sou uma pessoa "com" surdez.
Portadora é uma palavra que se usa para designar, por exemplo, que uma pessoa é portadora de óculos ou de um documento de identidade, logo essa pessoa tem que tirar os óculos para dormir, para o banho, ou ainda, deixar o documento sobre a mesa. Com a surdez não dá para seguir a regra, ela me acompanhará sempre, faz parte de mim. Então, quando falamos de pessoas com deficiência, dizemos que elas têm ou são pessoas "com" deficiência e não que "portam" a deficiência.
Portadora é uma palavra que se usa para designar, por exemplo, que uma pessoa é portadora de óculos ou de um documento de identidade, logo essa pessoa tem que tirar os óculos para dormir, para o banho, ou ainda, deixar o documento sobre a mesa. Com a surdez não dá para seguir a regra, ela me acompanhará sempre, faz parte de mim. Então, quando falamos de pessoas com deficiência, dizemos que elas têm ou são pessoas "com" deficiência e não que "portam" a deficiência.
Leitor, por favor, sinta-se à vontade em usar o
termo "surdez" toda vez que se deparar com alguém que o seja. Não
estará cometendo erro nenhum, não há pecado algum. A surdez se refere quando a
pessoa tem audição zero. Se houver alguma porcentagem ou resíduo auditivo, aí
dizemos que ela tem deficiência auditiva. Viu, é fácil saber a diferença!
Então, como estava falando no início, sobre o tal
microfone-sorvete que é uma verdadeira arma de comunicação, esta mesma arma que
pode tornar-se motivo de desinformação para nós os surdos oralizados quando vemos
alguém se utilizando dessa ferramenta de uma forma não acessível, ou seja,
permitindo que ele bloqueie toda a visualização de seus lábios e boca,
impedindo que possamos ler e entender a mensagem transmitida, deixando-nos a “ver
navios”, sem compreender o que está sendo dito, como aconteceu acima, numa
celebração da igreja.
Não posso negar que a acessibilidade, de um modo
geral, vem crescendo a olhos vistos e beneficiando a mobilidade,
interatividade e comunicação das pessoas com deficiência - as PcD. Enquanto não
chegar a 100% a sua efetividade, precisamos viabilizar meios criativos de
promovê-la, seja individual ou coletivamente. Os Intérpretes de Sinais são uma
grande ferramenta para facilitar a comunicação dos surdos sinalizados (que se
utilizam da LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais para a comunicação), para
estes, o microfone não é nenhum vilão visto que eles têm sua atenção
voltada unicamente aos sinais do Intérprete. Nós, os oralizados, é que enfrentamos
essa batalha.
O que fazer? Com medidas simples, preliminarmente é
bom identificar-se e apresentar sua necessidade, pedindo para as pessoas
que fizerem uso do microfone, que o façam mais pausadamente e abaixem o nível
da postura do mesmo em relação à altura dos lábios, de modo que o rosto do
comunicador fique livre do foco do mesmo. Neste caso, é preciso paciência de
ambos os lados, pois é comum a pessoa que está comunicando costumar alterar
umas falas pelo comportamento, ora emotivo, ora apressado e se esqueça da
posição inicial.
Outra dica, esta mais prática, é utilizar-se do
equipamento "head fone" que deixa o rosto e as mãos do comunicador
livres para este se expressar, permitindo assim o entendimento.
Já que o objetivo primordial da comunicação não
é "fazer um relatório de fatos", mas fomentar o entendimento,
empenhemo-nos para que ela seja promovida sempre.
Enquanto quiser conviver com pessoas e participar
da interação social nos diversos segmentos, terei que focar sempre o visual e
não apenas esse ilustre instrumento. Pois as
pessoas que interagem, mudam, transformam-se e aprendem a conviver com as
diferenças.
E viva a comunicação!
(Postagem editada em 2013, porém, sempre atual em certas circunstâncias)
Pela Inclusão e pela Vida!
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