A foto contem um arranjo de rosas e amarilis sobre a mesa coberta de toalha cinza. Ao lado das flores, os canudos aveludados empilhados. |
Foi numa tardinha de forte calor
piracicabano. Naquela fazenda de verde exuberante, sob a qual a cidade gira, a
cerimônia acontecia no gramado do jardim como manda a tradição. As tendas
brancas já armadas estavam prontas para receber os convidados. Sob o piso, uma proteção
de madeira foi disposta em toda a extensão das tendas, de modo que não danificasse
a grama.
Do enorme saguão que recebia as famílias e parentes, podia se avistar de
frente os dois palanques em escadaria, reservados aos formandos, como que em
suspenso. Ambos separados por um hall da pracinha florida, em cujo centro as
bandeiras estavam hasteadas e dali seriam entronizados à cerimônia, em fileiras
e pela ordem o reitor, o prefeito do campus, os professores e finalmente os
formandos. Sobre a base dos palanques, uma comprida mesa ornamentada pelos arranjos floridos, bem como dos inúmeros e negros canudos
aveludados, então dispostos em quase toda sua extensão.
Bem à frente da mesa de
cerimônias foi providenciado um largo espaço para acomodar os professores da
instituição ali presentes e, sob as costas destes, a perder de vista, a grande galeria
então reservada às famílias e seus convidados. Tudo planejado e organizado de
modo a preservar e perpetuar um evento que segue fielmente a tradição da
instituição, na guarda com galhardia de seus valores, sem, contudo retê-los a
si.
Dezenove horas em ponto e a
orquestra sinfônica postada na lateral direita daquela multidão de convidados, saudou
a entrada do cortejo universitário, dando início à colação da 110ª turma de
Engenheirandos Agrônomos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”,
ou ESALQ como é comumente chamada.
Sob os últimos raios do sol
ainda, uma procissão de fileiras foi surgindo e aquele desfile de becas negras
distinguia os mestres dos formandos pela cor das faixas presas à cintura e as
muitas cabeleiras alvas de anos de magistério.
Mas o que é isto? Uma ata de
reunião?
Um relato detalhado?
Confesso que comecei
este post pensando em como transmitir em detalhes o que estes olhos viram e
se maravilharam numa formatura, de modo que pessoas com deficiência visual
possam participar dos cenários vistos. Resolvi escrever o pequeno início do
post como em “vídeo-descrição”, quando na verdade o processo chama-se Audiodescrição, ou seja, que Consiste num narrador que fala durante a
apresentação, descrevendo o que está a acontecer no ecrã durante as pausas
naturais do áudio e por vezes durante diálogos, quando considerado necessário. (Fonte:Wikipédia).
Audiodescrição é uma
tecnologia a favor dos deficientes visuais que vem sendo aplicada gradativamente,
mas que vem crescendo de modo a inteirá-los dos acontecimentos e favorecer a
inclusão.
Não possuo habilidades para
ser uma audiodescritora uma vez que a falta de audição me impede para tal. Mas
posso transmitir aqui, como se narrasse uma fotografia: seu enredo, as posturas
dos personagens, os sinais, as cores, etc.
Pena que a narrativa termine aqui. O que se seguiu ficou mais por conta do efeito "em áudio", a mim restrito. Não conseguindo captar 100% das falas, restou-me o usual: perguntar.
Naquela cerimônia não havia profissional de Libras para transmitir o
evento, então tratei de arranjar um assento nas primeiras fileiras que estavam
reservadas aos idosos (ponto a favor) e sentei-me bem de frente para o telão,
donde era possível ler, mesmo que precariamente, os lábios do
mestre-de-cerimônias (ele que tinha um bigode bem vistoso, grande entrave para
a leitura). A chuva, porém, prejudicou a iluminação naquele ponto e só restou as perguntas bem como as informações que vinham espontâneas. Mas nada
que tirasse a emoção num evento daqueles.
Em tempo, elaborei uma petição a ser encaminhada ao prefeito daquele campus com ideias e sugestões para melhor participação de pessoas com deficiência nas próximas festividades da
instituição.
(Este post foi editado originalmente em janeiro de 2014, ocasião da referida formatura)
Pela Inclusão e pela Vida.
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