De vez em quando, em algum
lugar, determinada ocasião, certos sujeitos que, por obra das voltas que o
mundo dá e que a vida naturalmente se encarrega de cruzar por nossos caminhos,
se dispõem a fazer um “perguntório”, daqueles como dizia Odorico Paraguaçu, e
vão desfiando uma série de interrogações sobre a minha deficiência, a surdez.
Se eu fosse ‘sinalizada’, isto
é, utilizasse a linguagem de sinais – Libras - não creio que seria assim tão
assediada por esses perguntadores de plantão. Até porque os sinalizados hoje
estão marcando presença por todos os cantos. E vê-los conversando numa rodinha
com os sinais das mãos e com o corpo, vem se tornando rotineiro.
E por ser oralizada e utilizar
a linguagem verbal como os demais mortais, a diferença que se destaca é sempre
o som diferente da minha voz e a forte gesticulação do rosto e dos lábios. Daí
a pergunta que mais lidera no ibope é:
- De onde você é?
Como nunca tenho uma resposta
pronta, levo sempre em conta o interesse da pessoa, que muitas vezes tem
demonstrado que, por trás daquela curiosidade, há um interesse de desvendar
melhor o universo das deficiências até então desconhecido. É uma curiosidade
boa, pois assim ajuda a pessoa a esclarecer-se melhor e ir desvendando o
universo das deficiências, alargando seus horizontes de conhecimento e
compreensão.
Cenas engraçadas acontecem muitas vezes por esse viés. Como no outro dia, enquanto
escrevia este artigo da pequena chácara onde me encontro em recuperação de uma
infecção, rodeada por muito verde e também chuva. E onde há verde e chuva, raramente
a internet trabalha 100% e, para completar, ficamos sem wi-fi.
Depois de solicitada
assistência, recebemos a visita do técnico na recuperação do dispositivo. Entre
uma conversa e outra, soube que rolara por ali, descontraidamente uma piada de português.
Aproveitando para emendar o assunto e matar a curiosidade diante de minha fala,
o rapaz voltou-se para a minha pessoa e indagou:
- E você, se ofendeu por ser
portuguesa também?
...
Pela Inclusão e pela Vida!
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