Aquelas senhas numeradas que encontramos em
hospitais, laboratórios e assemelhados são de muita utilidade para quem tem surdez
ou deficiência auditiva, pois permite facilitar o atendimento a algum serviço
sem maiores complicações.
Até aí, tudo bem. O que acontece em diante é a necessidade do surdo sempre
ter que identificar-se como tal, para que continue recebendo um atendimento
que possibilite entender – compreender - e interagir em relação aos demais,
ou seja, a senha apenas dá acesso inicial aos serviços, sendo que no momento
da consulta ou dos exames, há necessidade da comunicação ser facilitada para
que ambos os lados se entendam e sejam entendidos. Esta comunicação pode ser
oral, sinalizada, interpretada pelo acompanhante (quando houver) e até mesmo
trocada por escrito.
Por ser oralizada e possuir certa independência quando da utilização
desses serviços, mesmo assim estou sujeita às desinformações do mundo dos
ouvintes. E tenho observado que, se não ficar atenta aos detalhes, perco não
só a informação como também o rumo dos fatos.
A verdade é que a inclusão vem promovendo grandes avanços a favor das
pessoas com deficiência, provocando a consciência e a transformação na
sociedade e nos órgãos públicos em relação ao acesso à informação e aos
serviços. Mas, ainda temos encontrado resistências, tornando-se necessárias
mudanças atitudinais e estruturais em certos ambientes.
E têm acontecido cenas tão repetitivas, como se fossem ensaiadas em
conjunto, que vejo a necessidade dos surdos agirem sem timidez nem receio em
todas as vezes que isso ocorrer, como medida de correção de comportamentos
fora da realidade. Embora alguns consultórios façam a chamada também pela
mesma senha da entrada, refiro-me ao momento em que o prontuário do paciente
segue para a sala do médico e pedimos que anexem nele um bilhete avisando que
somos surdos e temos necessidade daquele profissional nos chamar de frente,
bem à porta, para que possamos atender quando for nossa vez.
É medida simples. Deve ser rotineira até... Até o dia em que as
pessoas aprenderem que é simples ser diferente. E normal!
Falando em anexar bilhete, recordei-me de uma das vezes em que o fiz,
quando compareci pela primeira vez numa clínica, assim que fui chamada à sala
e logo atendida, o doutor pediu licença e virou-se de lado para atender um
telefonema. E pude ler o conteúdo do bilhetinho anexado ao prontuário pela
recepcionista: “Quando for chamar esta
moça, fale bem alto porque ela não ouve”.
Nossa, ele deve ter gritado até que...
Nem ouvi!
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Pela Inclusão e pela Vida.
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