“Os homens
deviam ser o que parecem ou,
pelo menos, não parecer o que não são.”
William
Shakespeare
A
sinceridade é uma virtude! E por ser uma virtude tem lá os seus riscos. Riscos
em assumir tal qual se é enquanto sujeito, sem margens para retoques, nem medo
do ridículo.
Falando
nisso, algumas vezes vejo-me envolvida com situações em que chega a bater a
dúvida no correr ou não os riscos de dizer a verdade. Não que seja algo
costumeiro, mas que tem vez em que sou pega desprevenida e isso requer uma
postura frente aos fatos. É aquela insegurança do sim ou do não, do assim ou do
assado. E acontece, principalmente, quando se está diante de um evento, ou do
momento ou até mesmo do local.
Uma vez
instalada a situação, acontece de a intuição chegar e dizer baixinho (opa),
digo, ela belisca de mansinho avisando que aquilo vai dar em cena, vai virar
comédia, mas se é o preço a pagar... Deve ser pago!
Desta vez
aconteceu numa tarde tão gostosa deste outono, daquelas com solzinho morno a
aquecer a friagem dos ventos revoltosos. Sentei por entre aqueles bancos em
fileiras da capela quase vazia e acomodei-me bem na ponta de um deles, entre as
paredes de granito e o corredor. O ambiente despojado era um convite à calma,
um acalanto na alma.
Enquanto
esperava pelo evento, logo à frente um rapaz mexia no emaranhado de fios e
ajeitava microfones para a cerimônia; foi testando, falando e até cantando. Por
fim, pediu a alguém que testasse por ele, enquanto fazia a audição através dos
corredores.
Não me
recordo de quantas pessoas havia no momento em que ele se postou à minha
frente, pelas fileiras de bancos; voltou-se para frente e acenou ao seu
auxiliar e virou-se de novo como que auscultando a caixa de som que ficava bem
à altura da minha cabeça. Aproximou-se e perguntou:
- O som aqui
está bom? Dá para ouvir bem?
- ???
Entendi
perfeitamente a pergunta, mas não respondi prontamente, amarrada que estava na
dúvida repentina, da qual falei. Ser sincera ou enrolá-lo? Sinceridade naquela
hora comportava não só dizer a verdade, como também estar preparada para a
chuva de perguntas costumeiras que viriam, que acontece na maioria das vezes.
Enrolar o rapaz significava mentir. Talvez uma mentirazinha rápida e sem
compromisso, que passaria despercebida e economizaria em palavras, ainda mais
ali.
Decidi pela
primeira:
- Não estou
ouvindo nada, respondi. Aliás, eu não ouço nada!
O rapaz
emudeceu. Talvez não esperasse uma resposta assim, tão na lata. De que outro
modo agiria? Parecia que fora afetado pela mesma dúvida que me acometera
segundos atrás, ou seja, quisesse argumentar que ele sim, ouvia bem dali e que
era eu quem estava equivocada, ou zoando até...
Antes que
ele se distraísse em sua função, tive que agir com rapidez de modo a deixar
claro que aquilo tudo foi questão da surdez e não o fato de querer tirar sarro
da sua figura. O entendimento provocou uma mudança em sua fisionomia e percebi
que ele seguiu aliviado.
Reconheço
que foi uma cena cômica, ainda bem que com final feliz.
Pela
Inclusão e pela Vida.
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