PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sábado, 29 de abril de 2017

OS RISCOS DA SINCERIDADE




“Os homens deviam ser o que parecem ou, 
pelo menos, não parecer o que não são.”
William Shakespeare



A sinceridade é uma virtude! E por ser uma virtude tem lá os seus riscos. Riscos em assumir tal qual se é enquanto sujeito, sem margens para retoques, nem medo do ridículo.

Falando nisso, algumas vezes vejo-me envolvida com situações em que chega a bater a dúvida no correr ou não os riscos de dizer a verdade. Não que seja algo costumeiro, mas que tem vez em que sou pega desprevenida e isso requer uma postura frente aos fatos. É aquela insegurança do sim ou do não, do assim ou do assado. E acontece, principalmente, quando se está diante de um evento, ou do momento ou até mesmo do local.

Uma vez instalada a situação, acontece de a intuição chegar e dizer baixinho (opa), digo, ela belisca de mansinho avisando que aquilo vai dar em cena, vai virar comédia, mas se é o preço a pagar... Deve ser pago!

Desta vez aconteceu numa tarde tão gostosa deste outono, daquelas com solzinho morno a aquecer a friagem dos ventos revoltosos. Sentei por entre aqueles bancos em fileiras da capela quase vazia e acomodei-me bem na ponta de um deles, entre as paredes de granito e o corredor. O ambiente despojado era um convite à calma, um acalanto na alma.

Enquanto esperava pelo evento, logo à frente um rapaz mexia no emaranhado de fios e ajeitava microfones para a cerimônia; foi testando, falando e até cantando. Por fim, pediu a alguém que testasse por ele, enquanto fazia a audição através dos corredores.

Não me recordo de quantas pessoas havia no momento em que ele se postou à minha frente, pelas fileiras de bancos; voltou-se para frente e acenou ao seu auxiliar e virou-se de novo como que auscultando a caixa de som que ficava bem à altura da minha cabeça. Aproximou-se e perguntou:

- O som aqui está bom? Dá para ouvir bem?

- ???

Entendi perfeitamente a pergunta, mas não respondi prontamente, amarrada que estava na dúvida repentina, da qual falei. Ser sincera ou enrolá-lo? Sinceridade naquela hora comportava não só dizer a verdade, como também estar preparada para a chuva de perguntas costumeiras que viriam, que acontece na maioria das vezes. Enrolar o rapaz significava mentir. Talvez uma mentirazinha rápida e sem compromisso, que passaria despercebida e economizaria em palavras, ainda mais ali. 

Decidi pela primeira:

- Não estou ouvindo nada, respondi. Aliás, eu não ouço nada!

O rapaz emudeceu. Talvez não esperasse uma resposta assim, tão na lata. De que outro modo agiria? Parecia que fora afetado pela mesma dúvida que me acometera segundos atrás, ou seja, quisesse argumentar que ele sim, ouvia bem dali e que era eu quem estava equivocada, ou zoando até...

Antes que ele se distraísse em sua função, tive que agir com rapidez de modo a deixar claro que aquilo tudo foi questão da surdez e não o fato de querer tirar sarro da sua figura. O entendimento provocou uma mudança em sua fisionomia e percebi que ele seguiu aliviado.

Reconheço que foi uma cena cômica, ainda bem que com final feliz.



Pela Inclusão e pela Vida.






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