SEIS horas da manhã, pleno outono. Passo a chave sobre a fechadura do portão, tenho pressa. Mas algo que roçou nos cabelos chamou atenção ao pequeno detalhe da natureza bem ali no jardim. Com a luz natural que chega muito preguiçosamente nesta época, anunciando o novo dia, observo a movimentação de abelhas que vem chegando para mais um dia de trabalho, sob a luz das lâmpadas da rua ainda.
Tão cedinho assim?
Uma delas, vindo por trás, roça-me os cabelos enquanto atravesso o portão, desvia-se muito levemente para rosto e, provocando cócegas com o bater suave das asas, segue adiante e vai pousar sobre o caramanchão de amor-agarradinho que se formou sobre a estrutura do portão. São centenas delas que vem “bater cartão” quando o dia mal raiou. Outras centenas ainda virão quando o sol estiver mais forte, e só encerrarão o expediente à tardinha, quando a luz se for.
E amanhã se reinicia tudo de novo...
ANTIGONON LEPTOPUS é uma espécie de trepadeira que além de “Amor agarradinho” como é chamada, denomina-se também “Mimo-do-Céu”, “Sorriso-de-Anjo”, “Lágrima-de-Noiva”, “Entrada de baile”, dentre outras. Chega a durar o ano inteiro se bem cuidada, excetuando-se a época do inverno onde acontecem as podas. Perene, sempre verde e florida, faz a festa e alegria de abelhas, sejam quais forem e que, presentes ininterruptamente, dividem harmoniosamente o espaço na captura do produto para fabricação do mel, essa delícia mais doce que há sobre a terra.
Saio de casa pensando nelas. Na planta, que será podada no início do inverno para que floresça robusta para a primavera; nas flores que embelezam o jardim e forram a calçada como um tapete; nas abelhas que vem e vão, de domingo a domingo chegando cedinho e partindo quase à noitinha.
Como não se cansam? Quem trabalharia mais que elas?
Talvez as formigas empatem...
Penso na diversidade de abelhas que ali vem como a europa, jataí e outras, e seguem sua missão: tão agrupadas polinizando flores, captando néctar e produzindo mel, cera, própolis, geleia real e derivado. Nem se importam com nossa presença no movimento de entra e sai pelo portão e pelo jardim. Algumas vezes até nos esbarramos, mas nenhuma ferroada. Tudo na paz.
De outro lado, fatos não tão naturais, notícias recentes tem revelado que, no país e pelo mundo, o uso indiscriminado de agrotóxicos e pesticidas na lavoura vem dizimando a população de abelhas. E tem sido cada vez mais crescente, uma vez que são elas os maiores polinizadores da agricultura e das matas. O efeito tem recaído sobre o número cada vez menor de rainhas, abelhas operárias perdidas e o colapso total da colmeia. Sem abelhas, ficamos sem mel e a natureza sem produtividade.
Ao tocar nesse assunto, uma sensação desagradável começa a se manifestar em meu interior, onde a negatividade mostra as suas garras diante das ameaças que estão sempre rondando o bem, o bom e o belo. As lindas flores, doces abelhas, árduo trabalho...
Resumo do post de hoje: As abelhas que vem cá no meu jardim não leem jornais. Provavelmente, até o presente elas não dominem toda a carga negativa do assunto e, creio, ainda não deve constar em seus currículos alguma experiência em campos afetados por agrotóxicos. Assim, desconhecendo o perigo, prossigam dispostas e felizes em sua missão sublime, todo santo dia, de manhã à noitinha na produção do que mais doce há nesta vida, o mel.
Plantemos jardins e as abelhas virão. Que neles não haja venenos nem pesticidas. Apenas flores que embelezam a alma e a vida!
A Esperança é a última que morre!
(Post editado no outono de 2015 e repostado hoje, dia das Abelhas, promulgado pela ONU, como meio de preservação e fomento à sustentabilidade)
Pela Inclusão e pela Vida.
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