A PRIMEIRA PROFESSORA NINGUÉM ESQUECE
Procurando por uma foto antiga
da família encontrei, entre preciosidades da infância, os boletins e fotos
dos tempos iniciais de escola. Como é gostoso rever o passado, arquivo tão
cheio de histórias!
Tem professores que marcam
nossas vidas, primeiramente pelo fato de o serem, independente de nossa
escolha; outros, o são porque damos um destaque especial que o colocam como
sendo o primeiro. Não me refiro a preferências, nem de
preterir outros. Quero enfatizar o valor que atribuímos a alguém que, de uma
maneira especial e peculiar, marca profundamente nossa vida que,
mesmo com o passar do tempo, permanece conosco, fica vivo.
A tia Elita foi de fato a
terceira professora. Tive outras duas antes dela, por ocasião do ensino
especial preparatório ao ingresso no ensino regular, onde desenvolvi melhor a
fala e o aprendizado no método oralista, de leitura de gesticulação labial
para entendimento e conversação pós-surdez. Ambas prepararam o terreno, cada
qual a seu modo, mas o grande impacto estaria mesmo por vir.
Dizem que a primeira professora
é aquela que alfabetiza. Que pega no tranco e sofre conosco nossas dores no
casamento das vogais com as consoantes, gerando as mais belas escritas
iniciais de nossas vidas: mãe, pai, água, céu, pão... Assim como o foram as
primeiras falas. E também se desdobra nos números, nas continhas, nas primeiras
frases e nos ditados... Consumindo-se pela rouquidão e cansaço, mas feliz por
ver a alegria estampada nos rostinhos diante da descoberta do aprendizado, onde dois e dois são quatro e não apenas dois patos...
Sim, a tia Elita foi mais do que a
professora do primeiro ano. Com ela aprendi, antes mesmo de adentrar no mundo
da leitura e da escrita, a saber relacionar-me com os outros como equipe;
perceber as diferenças de gostos e opiniões dos colegas; que na sala de aula
a diferença não estava na minha deficiência, mas na variedade de
comportamentos com que eu interagia e deveria aprender a respeitar. Aprendi
que, além de relacionar-me com os colegas, com as outras tias e os
funcionários, a escola era o leque que se descortinava no horizonte depois
da família e que transformaria meu mundo a partir dos relacionamentos
simples, mas concretos.
Sua amizade ultrapassou os
muros da escola. Gostava de reunir as famílias (inclusive a dela) e
combinar passeios conjuntos, futebol com os pais e chás com as mães. Desta
forma, a convivência tornava-se como que uma extensão, uma comunidade com a
escola.
Num tempo onde a tecnologia não
existia, nem havia cursos de formação e aprimoramento para professores, muito
menos os termos da deficiência e inclusão, ela soube como ninguém criar, inventar e,
sobretudo, deixar sua marca. Seu diferencial chamava-se ação.
Mulher determinada, franzina,
extrovertida e perspicaz, temperada com a doçura necessária. Era este seu
caráter, foi esta tua dedicação em vida!
Obrigada tia Elita! Tive tuas
atenções, teus olhares e foi grande teu desvelo, como também tuas correções
merecidas, broncas benfazejas. Teus traços, teu jeito, tua ginga levo-os no
coração! Fostes uma luz em minha vida e na de tantos outros, que te amaram cá nesta existência, onde cumpriste fielmente tua missão. Fique na paz com Deus!
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PRETENSÃO
Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
À MESTRA COM CARINHO
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