A forte ventania precedida pela
chuva fez as lâmpadas piscarem por três vezes seguidas até que veio a
escuridão.
Estava no andar de cima
descartando papéis e naquele breu, pensei nas velas que costumo guardar no
armário da cozinha.
Fazia tempo que não ocorria uma
escuridão tão completa. Soube depois que houvera um blecaute na região
central da cidade e seus arredores, incluindo o bairro aqui.
À procura de luz, tateando
paredes e arrastando os pés, procurei encontrar o limite entre o piso e os
degraus da escada.
Com uma mão na parede e a outra
deslizando pelo corrimão, pé ante pé, desci os degraus vagarosamente e alcancei
o ponto do contorno sobre os últimos quatro, que finalizam a escada.
Finalmente em chão plano, tateei
pelo corredor rumo à cozinha onde um pequeno clarão ao fundo permitia enxergar
as sombras por ali. No preciso canto do armário
encontrei os fósforos e também o isqueiro. De posse de ambos, foi mais fácil encontrar
as velas, ou seja, uns tocos delas, mas que daria para aguentar algumas horas
na escuridão. Afinal, sabemos de rotina, que a escuridão provocada pela queda de
energia costuma durar algumas horas apenas. Ah, e foram quarenta e oito horas
com um transformador danificado aqui no bairro...
Com o brilho das pequenas
luzinhas, fui distribuindo a chama pelos cantos mais obscuros do recinto, pensando
no que faria em seguida e sem energia elétrica. Ela, a quem estamos sempre
atrelados, vivendo como que num “piloto automático”.
Nas dúvidas,
confesso que toda vez que enfrento situações de escuridão assim, penso na vida
das pessoas com deficiência visual ou de cegueira. Muitas que já se empenharam
aprender AVD - Atividades de Vida Diária, que são oferecidas por ONGs que lutam
pela causa. Infelizmente outros, em maioria, sequer conhece e nem sabe do que se trata.
AVD nada mais são do que atividades
de aprendizado em lidar com a vida do dia a dia: cuidados e higiene
pessoal; lidas da casa como lavar roupas e louças e cozinhar; arrumação e
organização na guarda de objetos e utensílios. Sobre este último, uma amiga
cega já comentou que se deve sempre guardar as coisas (por mais simples que
sejam) no mesmo lugar para facilitar a vida deles e que a família vidente deve
colaborar nisso, sob risco deles se confundirem quando da procura.
A AVD colabora para uma vida mais
adaptada e equilibrada de pessoas com deficiência visual ou de cegueira,
auxiliando na superação de alguns obstáculos e melhorando a qualidade de vida.
Super indico!
A dica de organização vale também
para pessoas idosas que tem facilidade de esquecer onde guardam seus objetos.
Quanto aprendizado se pode tirar
em momentos como este de plena escuridão. Muita luz para você!
Pela Inclusão e pela Vida.
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