PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PRESENTES...






Não sei o nome dele ainda... Mas sei que não para de andar. E onde quer que vá, carrega consigo a inseparável lata pintada, envolta pela grossa camada de linha branca já amarelada, não pelo cerol (nem pensar) mas do manuseio ininterrupto.


Não, ele não tem a pipa! E nem pode tê-la, ao menos ali, por questões de segurança.

Então, quando ele entrou naquela alegre fila para retirar o seu presente, pensei que, pelo largo pacote recebido, talvez fosse o que imaginara... Enganei-me!

E chegada a hora de encerrar ali as atividades, ao passar pela alameda que antecede o portão, vi-o sentado num dos bancos com a inseparável lata e também com o presente ganho, como que pronto para sair, viajar. Às suas costas estava a mochila nova e bem cheiinha e ele, como que num estado de espera. Não sei se esperava por alguém de fato, ou se era a constante fantasia que o acompanha. Mas fiquei feliz de saber que uma mochila era sinal de que caberia uma muda de roupas. E esta o acompanharia a algum lugar. E neste lugar alguém poderia dedicar um tempo só para ele, soltando uma pipa apenas pelos ares, para que ele sentisse o sabor do sonho, da realização com aquele simples presente.

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Esqueci-me do nome deste, mas não esqueci seu rosto. Afinal, eles são tantos e só o tempo se encarregará de ir apresentando um a um...

Um rosto tão lindo e doce. Os cabelos espetados como que raspados à máquina. Já crescidos, estavam macios para um bom cafuné. Aquele homem feito deve ter uma altura que ultrapasse a minha, coisa que não dá para saber porque ele fica ora na cama, ora na cadeira.

Quando entrei no quarto para buscá-lo ele já estava pronto. Era só dar meia volta e seguir o corredor até o elevador. Sim, um presente também o esperava. Tímido, mostrou-se avesso a qualquer olhar, toque ou gesto, demonstrado através do incontrolável impulso de morder as próprias mãos.

Naquele longo corredor, nenhuma palavra! Nenhuma reação senão aquela em que correspondeu com um sorriso a uma das cuidadoras que atendia em outro quarto. Parei, voltei de ré e deixei aquela relação se intensificar mais um pouco, mesmo que da porta apenas. Se ele ficara feliz, por que não prolongar aquele prazer?

Ele sorriu mais ainda para a senhora que foi se aproximando até abraçá-lo com a ternura de uma mãe. Ela chamou-o pelo nome e ele gargalhava. Não sabia e nem podia abraçá-la. Que importaria, se era tão visível aquela comunicação completa?

E quando chegamos naquela alegre fila de presentes e seu nome foi anunciado, nenhuma reação ele esboçou. Com dificuldade em uma das mãos, ajudei-o a abrir o pequeno pacote e, num rápido movimento da outra mão, ele levou a colorida caneca à boca com sofreguidão, como a satisfazer o desejo mais explícito: morder.

∞   ∞    ∞

Presentes... O que é um presente? Algo que se dá e recebe apenas? Algo que se troca? Agrado ou desagrado?

Meus olhos viram ali um significado envolvente... Um presente que não existe, outro que não agrada! E um gesto que se espera, se recebe... Este sim faz feliz!

Não é preciso ter razão, raciocínio. Nem intelecto ou esperteza, porque o AMOR é algo que qualquer um pode dar e receber, entender e captar. E esse misterioso segredo embutido, cuja linguagem é gostosa e completa emana do Amoroso, Bondoso e Eterno Pai do Céu!

(Texto postado em dezembro/2013)




Pela Inclusão e pela Vida.











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