Foi na areia úmida, misturada às conchinhas, folhas escuras e galhos trazidos pelas ondas que encontramo-la naquela manhã. A chuva torrencial do dia anterior, bem como a força das águas, empurraram-na à margem pouco acima do nível da praia, à espera de quem a encontrasse.
A caminhada diária até o rio, percorrida normalmente pela areia fofa da
praia, que exigia maior esforço físico, desta vez foi facilitada pelo efeito da
chuva que, endurecendo-a tornou mais leve as passadas.
Mesmo em pleno inverno e num canto recolhido da praia, onde vegetação e
águas se encontram... Como ninguém a descobriu antes? Talvez ela estivesse
mesmo ali à nossa espera.
Seu tamanho não era tão insignificante e ela estava totalmente exposta,
de bruços, cujo manto branco perolado característico contrastava com o
encardido úmido da areia. Ao recolhê-la, constatamos tratar-se da Virgem de
Fátima. Não era uma imagem de gesso, mas de um material mais resistente e a
cobertura de seu vestido e manto apresentavam leve descamação, principalmente
na região da cabeça e do pescoço, fruto das constantes investidas das ondas e areia.
Em algumas dobras era visível a incrustação de algas e calcificações de
“cracas”.
De onde será que foi trazida? Por quanto tempo estaria vagando pelas
águas?
O que impressionou neste achado foi o brilho que permanecia em seu
olhar, que em nada se assemelhava a pintura, mas algo brilhante que fora
incrustado no lugar dos olhos, intactos.
Tão original como conhecemos nas imagens de Nossa Senhora de Fátima, as
suas mãozinhas juntas, postas em sentido de oração e sob as quais está
entrelaçado o rosário, estas mesmas mãozinhas fizeram a diferença na pequena
imagem resgatada na praia: não havia nenhuma, nem quaisquer fragmentos delas ou
de que tivessem sido arrancadas!
Foi o olhar brilhante daquele rosto com sorriso leve que fez com que a trouxéssemos para casa.
Agora, depois de uma limpeza básica, ainda conserva o forte cheiro da
maresia. Penso em encontrar meios de como restaurá-la, devolvendo-lhe as formas
e cores características, com exceção das mãos.
Desde o início, não pensei dar-lhe novas mãos, sejam de gesso, argila ou outro material próprio. Melhor deixá-la do modo como foi encontrada. Há um motivo e significado muito forte para isso..
Desde o início, não pensei dar-lhe novas mãos, sejam de gesso, argila ou outro material próprio. Melhor deixá-la do modo como foi encontrada. Há um motivo e significado muito forte para isso..
Mãos juntas, mãos postas em sinal de humildade, docilidade e bondade
simbolizam a disposição, o poder da fé e da oração. Ao olhar para a Virgem sem suas mãos,
veio-me ao pensamento emprestar-lhe minhas mãos para que Ela siga e permaneça
intercedendo por todos nós, pelas nossas mães, nossas famílias e sobretudo, pela paz neste conturbado mundo.
Não apenas as minhas...
Que tal também as suas? As nossas?
Ave Maria...
Ave Maria...
(Texto escrito em julho
de 2012, quando do achado)
Pela Inclusão e pela Vida.
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