Duas horas de catamarã para
chegar ao Morro de São Paulo, vindo de Salvador. Duas horas para voltar pelo
mesmo caminho: alto mar. Primeira travessia, sob chuva e mar agitado - tudo
cinza - ondas altas e espuma. Medo sim. Medo e certeza nenhuma. Porém, não
demorou muito para que aquela agitação provocasse náuseas e isso fosse muito
maior que o medo. Nada mal. O único desejo ali era pisar terra firme de novo. Não
havia nenhum outro pensamento sequer.
Em terra e restabelecida daquela
travessia, disse a mim mesma que não voltaria nem em sonhos por aquele caminho,
mais curto e rápido. Ledo engano! Descobri depois que os caminhos que nos levam
aos melhores lugares são os mais difíceis de percorrer.
E na segunda travessia, mesmo
percurso e tempo. Mesmo barco e tripulação. Apenas com a diferença de um dia
lindo e ensolarado e o mar quase tranquilo, quase! Não pensei duas vezes e
embarquei. De estômago quase vazio, à base de líquidos para evitar as náuseas.
Sem companhia; apenas os companheiros da viagem. Agarrei-me na fé e fui...
Inicialmente movida pelas
lágrimas e a saudade daqueles que deixei para trás, depois os pensamentos fluindo
com rapidez, como o barco sobre o oceano. Até que me veio a lembrança da
primeira viagem e a sensação nenhuma de medo! E brotou a reflexão sobre aquela
primeira vez, do medo do mar, da angústia diante daquelas ondas agitadas,
enormes, das “bicadas” que o barco investia contra elas. E me lembrei de São
Pedro com Jesus caminhando no meio do mar.
“Então Pedro lhe disse: Senhor,
se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água. E Jesus
respondeu: Venha! Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em
direção a Jesus. Mas ficou com medo quando sentiu o vento e, começando a
afundar, gritou: Senhor, salva-me. Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro e
lhe disse: ‘Homem fraco na fé, por que você duvidou?” (Mt 14,28-31)
Não conheço nenhum outro relato
de quem já andou sobre as águas, senão Cristo e Pedro. E andando como um pedaço
de isopor, na maior leveza! Mas confesso, não é fácil. Pedro quis sair do
barco, ousou. Mas como eu e nós, também ele foi humano. Se ele não ousasse, não
teria acontecido nada. Desafiou o medo, mesmo fraquejando na fé.
Também tive medo: do mar, do
vento, da escuridão do oceano sem nenhuma outra embarcação por perto. E do
desconhecido, da solidão humana, da morte! Mesmo sabendo que Deus é muito maior
que esses fenômenos todos. Até que veio aquele enjoo.
E diante daquele panorama
tranquilo da volta, com as ideias e sensações aflorando, pensei nas vezes em
que queremos sair do barco: ousar, aventurar, investir. Seja num projeto de
vida, seja mudando de emprego, construindo novos relacionamentos. Quantas vezes
encaramos o medo nessa investidura, na coragem de nos abrirmos, revelarmos quem
somos, os sentimentos e anseios, mesmo que os outros não nos compreendam, não
nos aceitem...
Arriscar é preciso sempre, para
se auto afirmar, crescer e amadurecer. E aprender com as experiências concretas
que a vida nos mostra em detalhes, no dia a dia. Sobretudo, amadurecer na fé,
na certeza de que Jesus é o grande amigo que está sempre conosco e nunca nos
abandona mesmo em situações como essa, de mares agitados. Tudo passa. Só Deus
permanece e é fiel!
Pela Inclusão e pela Vida!
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