PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sexta-feira, 5 de maio de 2017

QUATRO HORAS SOBRE AS ÁGUAS




Duas horas de catamarã para chegar ao Morro de São Paulo, vindo de Salvador. Duas horas para voltar pelo mesmo caminho: alto mar. Primeira travessia, sob chuva e mar agitado - tudo cinza - ondas altas e espuma. Medo sim. Medo e certeza nenhuma. Porém, não demorou muito para que aquela agitação provocasse náuseas e isso fosse muito maior que o medo. Nada mal. O único desejo ali era pisar terra firme de novo. Não havia nenhum outro pensamento sequer.

Em terra e restabelecida daquela travessia, disse a mim mesma que não voltaria nem em sonhos por aquele caminho, mais curto e rápido. Ledo engano! Descobri depois que os caminhos que nos levam aos melhores lugares são os mais difíceis de percorrer.

E na segunda travessia, mesmo percurso e tempo. Mesmo barco e tripulação. Apenas com a diferença de um dia lindo e ensolarado e o mar quase tranquilo, quase! Não pensei duas vezes e embarquei. De estômago quase vazio, à base de líquidos para evitar as náuseas. Sem companhia; apenas os companheiros da viagem. Agarrei-me na fé e fui...

Inicialmente movida pelas lágrimas e a saudade daqueles que deixei para trás, depois os pensamentos fluindo com rapidez, como o barco sobre o oceano. Até que me veio a lembrança da primeira viagem e a sensação nenhuma de medo! E brotou a reflexão sobre aquela primeira vez, do medo do mar, da angústia diante daquelas ondas agitadas, enormes, das “bicadas” que o barco investia contra elas. E me lembrei de São Pedro com Jesus caminhando no meio do mar.

“Então Pedro lhe disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água. E Jesus respondeu: Venha! Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas ficou com medo quando sentiu o vento e, começando a afundar, gritou: Senhor, salva-me. Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro e lhe disse: ‘Homem fraco na fé, por que você duvidou?” (Mt 14,28-31)

Não conheço nenhum outro relato de quem já andou sobre as águas, senão Cristo e Pedro. E andando como um pedaço de isopor, na maior leveza! Mas confesso, não é fácil. Pedro quis sair do barco, ousou. Mas como eu e nós, também ele foi humano. Se ele não ousasse, não teria acontecido nada. Desafiou o medo, mesmo fraquejando na fé.

Também tive medo: do mar, do vento, da escuridão do oceano sem nenhuma outra embarcação por perto. E do desconhecido, da solidão humana, da morte! Mesmo sabendo que Deus é muito maior que esses fenômenos todos. Até que veio aquele enjoo.

E diante daquele panorama tranquilo da volta, com as ideias e sensações aflorando, pensei nas vezes em que queremos sair do barco: ousar, aventurar, investir. Seja num projeto de vida, seja mudando de emprego, construindo novos relacionamentos. Quantas vezes encaramos o medo nessa investidura, na coragem de nos abrirmos, revelarmos quem somos, os sentimentos e anseios, mesmo que os outros não nos compreendam, não nos aceitem...

Arriscar é preciso sempre, para se auto afirmar, crescer e amadurecer. E aprender com as experiências concretas que a vida nos mostra em detalhes, no dia a dia. Sobretudo, amadurecer na fé, na certeza de que Jesus é o grande amigo que está sempre conosco e nunca nos abandona mesmo em situações como essa, de mares agitados. Tudo passa. Só Deus permanece e é fiel!


Pela Inclusão e pela Vida!



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