Ao refletir sobre uma matéria
interessante, ao mesmo tempo que excludente, fiz um paralelo imaginário do
longínquo tempo das cavernas, de quando humanos engatinhavam a comunicação por
meio de desenhos e sinais - antes mesmo do uso da palavra oral - até aos dias
atuais... E o que vejo? Simplesmente a necessidade que ainda temos de aprender.
E o direito de entender!
Foi uma notícia divulgando o
número de pessoas com surdez ou deficiência auditiva que se inscreveram para o
ENEM/2014, que teve um aumento de 88%!!! Precisamente foram 8.799 pessoas. Uma
maravilha que mostra a inclusão forjando o terreno da educação como meta à promoção
de direitos e cidadania àquelas pessoas, em igualdade de oportunidades.
Porém, como nem tudo são
flores, alguns ficaram de fora da prova. E eliminados. Não porque chegaram
atrasados e encontraram os portões fechados, nem porque esqueceram algo que os
habilitava (e aqui há de se convir que sempre temos as regras a cumprir e
nenhum direito a usufruir). Para constar, cito apenas dois casos: um cego do
Espírito Santo que esperou 40 minutos por uma prova ampliada que não veio (solicitada
quando da inscrição) e perdeu a chance de ingressar no curso de Medicina. E uma
garota de Santos, que possui surdez e se utiliza de Libras, mas que não
entendeu a prova.
Atenho-me apenas ao caso da
garota que, como muitos surdos sinalizados não possuem familiaridade com a
Língua Portuguesa, que se apresenta muito complexa para quem se utiliza de
Libras como primeira língua, no caso os sinalizados, necessitando de
Intérpretes de Sinais para tradução e posterior entendimento.
Foram disponibilizados pelo
ENEM/2014, 4.775 profissionais de apoio, sendo 3.332 em Libras e 1.443 em leitura
labial para atender a demanda de surdos. O que faltou, especialmente aos
sinalizados não foram profissionais, mas a forma com que estes acataram a ordem
de traduzir apenas palavras e não frases e contextos apresentados nas provas,
que era de fato, a grande dificuldade daquele público.
Para o leitor ter uma ideia da
dificuldade de algumas pessoas usuárias de Libras, a interpretação é a
necessidade que o surdo tem de captar e entender em sua língua, a montagem com que
foi feita a frase ou o texto em Português.
Um exemplo de frase simples em
Português: “No próximo domingo nós viajaremos ao Rio”.
Em Libras é: “Domingo vamos Rio”.
Libras é simples, enxuta,
descomplicada, sem proposições. Dá para imaginar a dificuldade que
o surdo apresenta para frases mais complexas. A agravante esteve na forma como a
organização do exame aplicou regras para a interpretação por parte dos
Intérpretes, sendo permitido apenas sobre as palavras e não texto inteiro, que
dificultou a “montagem do cenário” pelo surdo e posterior entendimento.
E pensar que no próximo exame,
mesmo que este seja anulado, repetem-se novamente situações que não permitem
que pessoas detentoras dos mesmo direitos que os demais, possam entender o que
tem diante de si, em pleno gozo de corresponder ao que é exigido, se para isto
é necessário que tenham disponíveis todos os meios acessíveis para alcançá-los.
Um pouco mais de
profissionalismo, de técnica, praticidade e, sobretudo de humanidade no trato
com sujeitos que, mesmo em suas limitações, tem todas as habilidades para uma
comunicação plena e feliz.
(Repostado no blog)
Pela Inclusão e pela Vida!
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