PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O DIREITO DE ENTENDER




Ao refletir sobre uma matéria interessante, ao mesmo tempo que excludente, fiz um paralelo imaginário do longínquo tempo das cavernas, de quando humanos engatinhavam a comunicação por meio de desenhos e sinais - antes mesmo do uso da palavra oral - até aos dias atuais... E o que vejo? Simplesmente a necessidade que ainda temos de aprender. E o direito de entender!

Foi uma notícia divulgando o número de pessoas com surdez ou deficiência auditiva que se inscreveram para o ENEM/2014, que teve um aumento de 88%!!! Precisamente foram 8.799 pessoas. Uma maravilha que mostra a inclusão forjando o terreno da educação como meta à promoção de direitos e cidadania àquelas pessoas, em igualdade de oportunidades.

Porém, como nem tudo são flores, alguns ficaram de fora da prova. E eliminados. Não porque chegaram atrasados e encontraram os portões fechados, nem porque esqueceram algo que os habilitava (e aqui há de se convir que sempre temos as regras a cumprir e nenhum direito a usufruir). Para constar, cito apenas dois casos: um cego do Espírito Santo que esperou 40 minutos por uma prova ampliada que não veio (solicitada quando da inscrição) e perdeu a chance de ingressar no curso de Medicina. E uma garota de Santos, que possui surdez e se utiliza de Libras, mas que não entendeu a prova.

Atenho-me apenas ao caso da garota que, como muitos surdos sinalizados não possuem familiaridade com a Língua Portuguesa, que se apresenta muito complexa para quem se utiliza de Libras como primeira língua, no caso os sinalizados, necessitando de Intérpretes de Sinais para tradução e posterior entendimento.

Foram disponibilizados pelo ENEM/2014, 4.775 profissionais de apoio, sendo 3.332 em Libras e 1.443 em leitura labial para atender a demanda de surdos. O que faltou, especialmente aos sinalizados não foram profissionais, mas a forma com que estes acataram a ordem de traduzir apenas palavras e não frases e contextos apresentados nas provas, que era de fato, a grande dificuldade daquele público.

Para o leitor ter uma ideia da dificuldade de algumas pessoas usuárias de Libras, a interpretação é a necessidade que o surdo tem de captar e entender em sua língua, a montagem com que foi feita a frase ou o texto em Português. 

Um exemplo de frase simples em Português: “No próximo domingo nós viajaremos ao Rio”.

Em Libras é: “Domingo vamos Rio”.

Libras é simples, enxuta, descomplicada, sem proposições. Dá para imaginar a dificuldade que o surdo apresenta para frases mais complexas. A agravante esteve na forma como a organização do exame aplicou regras para a interpretação por parte dos Intérpretes, sendo permitido apenas sobre as palavras e não texto inteiro, que dificultou a “montagem do cenário” pelo surdo e posterior entendimento.

E pensar que no próximo exame, mesmo que este seja anulado, repetem-se novamente situações que não permitem que pessoas detentoras dos mesmo direitos que os demais, possam entender o que tem diante de si, em pleno gozo de corresponder ao que é exigido, se para isto é necessário que tenham disponíveis todos os meios acessíveis para alcançá-los.

Um pouco mais de profissionalismo, de técnica, praticidade e, sobretudo de humanidade no trato com sujeitos que, mesmo em suas limitações, tem todas as habilidades para uma comunicação plena e feliz.


(Repostado no blog)


Pela Inclusão e pela Vida!






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