O FOGO QUE NOS TRANSFORMA
Por Rubem Alves
“Como
o milho duro, que vira pipoca macia, só mudamos para melhor quando passamos pelo
fogo: as provações da vida!
A
transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por
que devem passar os homens, para que eles venham a ser o que devem ser. O milho
da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, mas que, pelo
poder do fogo, podemos, repentinamente, voltar a ser crianças!
Mas
a transformação só acontece pelo poder do fogo. O milho de pipoca que não passa
pelo fogo, continua a ser milho de pipoca. Assim acontece com a gente. As
grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo
fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
O
fogo é quando a vida nos lança em uma situação que nunca imaginamos. Pode ser
fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego,
ficar pobre.
Pode
ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas
causas ignoramos.
Há
sempre o recurso dos remédios que apagam o fogo. Sem fogo, o sofrimento
diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino
que a pobre pipoca, fechada na panela, lá dentro, ficando cada vez mais quente,
pense que a sua hora chegou: “vou morrer”!
De
dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino
diferente. Mas subitamente, a transformação acontece: pum! E ela aparece como
outra coisa, completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Mas
existem pessoas PIRUÁS que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas
serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida, perdê-la-á”. A sua
presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino
delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira.
Não
vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado
o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás, que não servem
para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto
às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem
que a vida é uma grande brincadeira...”
Pela Inclusão e pela Vida!
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