Depois
daquela tarde agitada, as brincadeiras, suas comidinhas prediletas, recortes e
colagens, ele foi jogar dominó com o avô.
Finalmente,
consegui uma pausa para descansar espreguiçando no sofá. Mas sabia que aquilo
duraria pouco...
Pronto,
lá vem ele:
-
Posso deitar aí do seu lado? Perguntou.
-
Claro, vem aqui, no cantinho. Que jogo rápido, não?
-
É, ganhei do vô!
Ele
se ajeitou sobre o canto e aquietou. Continuei olhando aquela série na TV.
Silêncio
e nenhuma troca de olhares. Apanhei o controle e aumentei o som.
Silêncio
de novo.
-
Ei, ele falou. Por que você colocou o som?
-
Ué, respondi. É para você ouvir!
-
Mas eu sei que você ouve sem o som.
-
É, e justamente por isso que coloquei o som. Se estiver só, eu deixo
assim e quando chega alguém, é normal colocar o som para que possa ouvir.
-
Mas eu não quero fazer!
-
Fazer o quê?
-
Ouvir.
-
Não entendi...
-
Tira o som que vou ver igual você!
-
Ver o quê?
-
Como você vê.
-
Mas como você vai entender?
-
Olhando, né!
-
Eu sei, respondi, mas para você entender do meu jeito você terá que ler aquelas
letrinhas que vão aparecendo rápido naquela faixa preta, ali embaixo. Agora que
você está aprendendo a ler, vai levar um tempinho ainda para acompanhar essa
coisa que te falei.
Ele
calou-se. Novo silêncio.
E
veio então a dúvida real, concreta:
-
Por que você tira o som, então?
-
É porque uma vez, faz tanto tempo, alguém que desligou a TV por último saiu,
viajou. Fiquei só por uns dias. Quando voltava do trabalho, ligava a TV e ela
estava lá no último volume. E eu nem dava conta disso. Ficou assim por uns dois
dias, até que a vizinha veio dar um toque. Daí eu comecei a tirar o som! Já
imaginou a rua inteira ouvindo aquele volume?
Satisfeito,
mudou de canal e foi ver seus desenhos...
(Editado em outubro/2013)
(Editado em outubro/2013)
Pela Inclusão e pela Vida.
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