Quem consegue? Quantas vezes?
É tão incômodo assim?
...
Ele se esforçou por desvencilhar do colo da mamãe e conseguiu ficar em pé, virou-se para trás apoiando as duas mãozinhas nas barras de apoio do banco. Ali, a vista era bem melhor pois, só assim conseguiria visualizar a grande parte dos passageiros. Afinal, o maior compartimento de pessoas num ônibus é sempre aquele após a catraca.
Uma vez conquistada nova posição, passou a jogar o que de melhor sabia: o olhar!
Olhar sem palavras,
Olhar sem frescura, sem malícia...
Olhar sem cobranças, sem timidez ou medo.
Olhar sem tristezas nem desespero,
Olhar sem vaidade nem ambição!
Simplesmente olhar com um sorriso doce, macio e terno!
Quem resiste? Quem consegue encarar por tanto tempo, sem fugir?
Que custa apenas olhar e deixar-se envolver apenas por ele, que fala mais que mil palavras?
Decidi brincar com ele! E ver quem desistia primeiro, desviando-o.
Ele não só desviou, como voltou tantas vezes a encarar, olhar de novo e de novo. E a cada vez surgia um risinho em seu rostinho até que...
Até que a mamãe levantou-se, aninhou-o no colo, puxou a cordinha e desceu.
Aprendi muito sobre esse brincar. Ah, o olhar!
Pela Inclusão e pela Vida!
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