Já estava com saudade de tomar
chuva nestes dias de verão. Daquela chuva refrescante, que cai compassada por
algumas horas, que enche lagos e açudes e rega generosamente as plantas deixando
o ar, o quintal e calçada limpos.
A Dona Chuva, porém, não tem
sido assim tão compassada. Cai de repente e de uma vez só; não apenas molha
como também inunda, alaga tudo. Não a culpo se ela também sofre das
interferências humanas que desnorteiam o ritmo da natureza...
Só queria tomar uma chuva e
matar saudade daquela água geladinha refrescando do calor, ensopando a roupa
que vai colando contra o corpo. O chinelo cantando contra as poças e que vai espirrando
lama pelas pernas, pelos pés. Nesse desejo, saí de casa sem o guarda-chuva.
Deixar acontecer!
E o que aconteceu foi um
temporal de assustar, sem chance nenhuma de andar e cantar na chuva. Como
encarar trovões e relâmpagos quando as notícias apontam várias mortes
provocadas por raios logo neste início de ano???
Na volta para casa resolvi
esperar baixar a intensidade e volume da água. Pegaria o ônibus com pouco risco
de molhar o corpo. Mas essa espera ficou longa e nada de Dona Chuva ir embora.
Fui eu então!
Caminhando encarei as gotas
graúdas, pesadas e geladas. No ponto de ônibus, sem abrigo nem assentos, os
transeuntes se aglomeravam ansiosos pelo coletivo e pressurosos com aquele
tempo. Como eu, quase ninguém tinha guarda-chuva!
O temporal que dera trégua mas
voltava a engrossar, a molhar os cabelos e ensopar a roupa não era nada
agradável. Até que uma cutucada pelas costas me fez deparar com uma senhorinha
tão pequena, carregada de sacolas e munida por um também pequeno guarda-chuva, que
oferecia abrigo mesmo que minúsculo.
Só coube a cabeça e parte de um
braço. Ofereci então para segurá-lo, e assim coube um pedaço das costas. Era
cômico, mas ficara agradecida pelo gesto. E a senhorinha desistiu de esperar
pelo demorado coletivo, tamanho era o volume de suas sacolas, que acenou com o
braço e chamou um táxi. Acomodou no interior do mesmo suas sacolas e depois
adentrou. Esperei que se compusesse para então passar-lhe o guarda-chuva. Com
um aceno de mão ela despediu-se e disse que ficasse com ele, pois eu ainda
tinha necessidade daquela serventia...
Aquele gesto valeu mais que um
banho de chuva: a cordialidade e a generosidade!
Carrego agora dois guarda-chuvas. Alguém terá necessidade de uma das serventias.
Pela Inclusão e pela Vida.
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