PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O GUARDA-CHUVA






Já estava com saudade de tomar chuva nestes dias de verão. Daquela chuva refrescante, que cai compassada por algumas horas, que enche lagos e açudes e rega generosamente as plantas deixando o ar, o quintal e calçada limpos.

A Dona Chuva, porém, não tem sido assim tão compassada. Cai de repente e de uma vez só; não apenas molha como também inunda, alaga tudo. Não a culpo se ela também sofre das interferências humanas que desnorteiam o ritmo da natureza...

Só queria tomar uma chuva e matar saudade daquela água geladinha refrescando do calor, ensopando a roupa que vai colando contra o corpo. O chinelo cantando contra as poças e que vai espirrando lama pelas pernas, pelos pés. Nesse desejo, saí de casa sem o guarda-chuva.

Deixar acontecer!

E o que aconteceu foi um temporal de assustar, sem chance nenhuma de andar e cantar na chuva. Como encarar trovões e relâmpagos quando as notícias apontam várias mortes provocadas por raios logo neste início de ano???

Na volta para casa resolvi esperar baixar a intensidade e volume da água. Pegaria o ônibus com pouco risco de molhar o corpo. Mas essa espera ficou longa e nada de Dona Chuva ir embora. Fui eu então!

Caminhando encarei as gotas graúdas, pesadas e geladas. No ponto de ônibus, sem abrigo nem assentos, os transeuntes se aglomeravam ansiosos pelo coletivo e pressurosos com aquele tempo. Como eu, quase ninguém tinha guarda-chuva!

O temporal que dera trégua mas voltava a engrossar, a molhar os cabelos e ensopar a roupa não era nada agradável. Até que uma cutucada pelas costas me fez deparar com uma senhorinha tão pequena, carregada de sacolas e munida por um também pequeno guarda-chuva, que oferecia abrigo mesmo que minúsculo.

Só coube a cabeça e parte de um braço. Ofereci então para segurá-lo, e assim coube um pedaço das costas. Era cômico, mas ficara agradecida pelo gesto. E a senhorinha desistiu de esperar pelo demorado coletivo, tamanho era o volume de suas sacolas, que acenou com o braço e chamou um táxi. Acomodou no interior do mesmo suas sacolas e depois adentrou. Esperei que se compusesse para então passar-lhe o guarda-chuva. Com um aceno de mão ela despediu-se e disse que ficasse com ele, pois eu ainda tinha necessidade daquela serventia...

Aquele gesto valeu mais que um banho de chuva: a cordialidade e a generosidade!

Carrego agora dois guarda-chuvas. Alguém terá necessidade de uma das serventias.



Pela Inclusão e pela Vida.










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