Nunca me esqueci da tia Raquel.
A única professora que tive em sala especial antes de ingressar
em sala comum. Com ela pude adentrar no mundo das letrinhas mesmo antes de ser
alfabetizada em classe comum.
Durante um ano aprendi com
aquela professora a forma de comunicação oralizada, como uma via secundária pós-caxumba.
É um método que foi sendo deixado de lado na atualidade, ultrapassado pelas
Libras, que se utiliza do formato orofacial na captação das palavras por meio
da leitura dos lábios do nosso interlocutor, criando o diálogo, fomentando e
interpretando a conversa.
Quando a tia Raquel chegou à
conclusão que estava na hora de eu partir para o ensino na classe comum, ela
aconselhou minha mãe a comprar um dicionário e fazer dele meu companheiro
inseparável. Não compreendi bem isso quando criança. Com o tempo fui percebendo
que tinha sido lógico aquele conselho, pois as pessoas que tem surdez vivem
alheias ao palavreado que corre solto no mundo ouvinte e por isso, muitas vezes,
não acompanham as pronúncias corretas das palavras e linguajar que são ditos
oralmente.
Embora o dicionário esteja
sempre presente na minha vida como uma ferramenta facilitadora, algumas vezes devo
recorrer à opinião das pessoas para tirar dúvidas quanto à pronúncia correta de
certas palavras, principalmente as de língua estrangeira.
Vejam só, quando nos deparamos
com as palavras estrangeiras, por exemplo: Whatsapp e sua pronúncia é “uatzapi”;
ou ainda wi-fi que é “uai fai”, ou então daquelas batatinhas deliciosas
Pringles, que se pronuncia “pringous”, acabo ficando tontinha de tanto tentar
acertar a pronuncia... E quando me deparo com uma desconhecida, é sempre um
começar de novo!
Outro dia encontrei meio ao
acaso o perfil “Como Fala” no Facebook,
é muito legal e trata de explicar
como se diz a pronúncia. Achei até engraçado.
Então, o que motivou o tema de
hoje é justamente isso - a pronúncia!
Outro domingo, na chácara com a
família, estava aproveitando as sobras de arroz para fazer um risoto com
legumes e me deparei com a marca do molho de tomate “Heinz” que por ali
encontrei. Na hora nem me dei conta, entretida que estava com a comida, também
pela falta de familiaridade com aquela marca. Eis que na hora da refeição
soltei o verbo:
- Muito bom esse molho h-e-i-n-z, né? Falei pronunciando o
mesmo que se lia na embalagem.
Claro que gargalhadas soaram,
como soam sempre quando me enrosco com elas. E fui corrigida com a pronúncia
correta: ráinz... tão parecida com “raiz”.
Daí recordei o nome da médica
com quem me consulto, a Dra. Huri, que eu pronunciava no início com o h mudo
mesmo, até ser corrigida pelo meu cardiologista que havia me encaminhado a ela.
Ele foi tão legal que escreveu o nome dela no papel: Ruri. E emendou que tinha
a mesma pronúncia de carro “Ronda” (Honda).
Que aventura é a nossa
língua!!!
E pensar que a oitava letra do
nosso alfabeto fosse tão insignificante por ser sem som, tal como “homem, horas, hein, hã”, mas que tem lá
sua importância, seu choque, seu lugar!
Pela Inclusão e pela Vida!
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