Oito e quarenta e cinco da
manhã. Sexta-feira. Rua do Carmo, centro velho de São Paulo.
Em direção à estação do Metrô,
deparamo-nos com uma fila imensa. Fila ordenada e vagarosa de semblantes
incertos, tristes. Não sabíamos onde começava porque não tínhamos tempo a
procurar. Nem sabíamos onde terminava, visto que circundava uma pequena praça e
continuava adiante.
Mas pelas pessoas que a seguiam,
a maioria homens, empunhando sacolas, sacos ou nada mesmo, indicava que se
dirigiam para receber o café da manhã ou então algum kit de refeição. Todos
moradores de rua.
Caminhando rumo à estação. Nada
no pensamento. Somente sentimentos e uma sensação de vazio que tornava pesada
as pisadas no longo corredor...
O relógio andou mais um pouco. Dez
e vinte e três. Uma conta em atraso a pagar, consequência de uma correria de
casamento. Ainda bem que casas lotéricas aliviam algumas tarefas como essas.
Procurei a mais próxima, junto ao supermercado Extra.
Outra fila!
Não a fila da lotérica, mas da
entrada da loja. Parecia um formigueiro: agitada, nervosa, barulhenta (sim
deveria ser mesmo), numa disputa corpo a corpo por cada produto em oferta.
Nem havia me dado conta que era
dia de Black Friday. Televisores gigantes, celulares, pneus, freezer, micro-ondas
e uma infinidade de mercadorias sem fim. Difícil entrar ali. Paguei a conta e sumi!
No caminho de volta o
pensamento fervia. Sentimentos? Só medo. Sim, muito medo e preocupação.
Para onde caminhamos com as
filas da vida?
A fila da fome, onde só alguns
poucos querem repartir, compartilhar a comida, o amor e a fé.
A fila do aço, do plástico, do
chumbo, dos nano que tantos procuram e disputam sem pensar no lixo que
representam com o descarte, que torna imundo o planeta, os mares e os ares. E
mata homens e animais. É, estou pensando...
E lembro-me do refrão da
canção de tempos idos, mas não do autor. Cantava assim:
“Meu Deus eu Te pergunto se Tu
ouves minha voz,/ se é este o teu povo e o queres de nós,/ milhões de homens
pobres. Porque poucos têm demais./ milhões de homens pobres porque poucos
poucos que têm mais...”.
Pela Inclusão e pela Vida.
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