PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sábado, 19 de outubro de 2019

DUAS FILAS




Oito e quarenta e cinco da manhã. Sexta-feira. Rua do Carmo, centro velho de São Paulo.
Em direção à estação do Metrô, deparamo-nos com uma fila imensa. Fila ordenada e vagarosa de semblantes incertos, tristes. Não sabíamos onde começava porque não tínhamos tempo a procurar. Nem sabíamos onde terminava, visto que circundava uma pequena praça e continuava adiante.
Mas pelas pessoas que a seguiam, a maioria homens, empunhando sacolas, sacos ou nada mesmo, indicava que se dirigiam para receber o café da manhã ou então algum kit de refeição. Todos moradores de rua.
Caminhando rumo à estação. Nada no pensamento. Somente sentimentos e uma sensação de vazio que tornava pesada as pisadas no longo corredor...
O relógio andou mais um pouco. Dez e vinte e três. Uma conta em atraso a pagar, consequência de uma correria de casamento. Ainda bem que casas lotéricas aliviam algumas tarefas como essas. Procurei a mais próxima, junto ao supermercado Extra.
Outra fila!
Não a fila da lotérica, mas da entrada da loja. Parecia um formigueiro: agitada, nervosa, barulhenta (sim deveria ser mesmo), numa disputa corpo a corpo por cada produto em oferta.
Nem havia me dado conta que era dia de Black Friday. Televisores gigantes, celulares, pneus, freezer, micro-ondas e uma infinidade de mercadorias sem fim. Difícil entrar ali. Paguei a conta e sumi!
No caminho de volta o pensamento fervia. Sentimentos? Só medo. Sim, muito medo e preocupação.
Para onde caminhamos com as filas da vida?
A fila da fome, onde só alguns poucos querem repartir, compartilhar a comida, o amor e a fé.
A fila do aço, do plástico, do chumbo, dos nano que tantos procuram e disputam sem pensar no lixo que representam com o descarte, que torna imundo o planeta, os mares e os ares. E mata homens e animais. É, estou pensando...
E lembro-me do refrão da canção de tempos idos, mas não do autor. Cantava assim:
“Meu Deus eu Te pergunto se Tu ouves minha voz,/ se é este o teu povo e o queres de nós,/ milhões de homens pobres. Porque poucos têm demais./ milhões de homens pobres porque poucos poucos que têm mais...”.

Pela Inclusão e pela Vida.


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