“ Amor, Ah se eu pudesse te abraçar agora
Poder parar o tempo nessa hora
Prá nunca mais eu ver você partir...”
Daniel
Estava atrasada e tinha que
correr contra o relógio, pois o dever chamava.
Cedinho ainda, coloquei a
água a ferver para o café enquanto espiava o tempo lá fora, meio nublado e
indicando...
- Um chupim? Um azulão? Mas
o que é aquilo dependurado no suporte do varal?
- Não pode ser! É bem maior
do que um chupim ou um azulão! Tratava-se de um Pássaro Preto, também conhecido
como graúna, que dizem ser manso e canta deliciosa melodia.
Passei o café ainda espiando-o.
Coloquei os pães para aquecer e o leite a ferver, afinal, quem consegue sair de
casa sem um café caseiro?
Fiz o desjejum tão rápido e
intrigada com o bichinho postado de frente às árvores do quintal, onde se
encontra o comedouro de aves que mantemos há quase três anos e que naquele
momento já apresentava a diária revoada de pássaros que vem ali logo cedo para
fazer (talvez) a primeira refeição (Tratei deste assunto no post anterior).
Não me contendo de
curiosidade diante daquela figura nova no pedaço, abri a porta devagar e pé
ante pé, subi até a lavanderia para ter uma melhor visão. Ele nem se mexeu.
Como ainda estava frio, mais parecia um repolhinho negro de tão encolhido sob
as penas. Aproximei mais um pouco e ele notou minha presença para, em seguida,
pular do suporte do varal aos galhos do ipê, ficando na observação das outras
aves a brigar entre si por espaço do comedouro. Como queria que o tempo parasse
naquela hora!
Saí em disparada, tão feliz
com a natureza, com aquela visita, desejando encontrá-lo de novo na volta.
Ele estava lá, e voltou no
dia seguinte, e no seguinte e no seguinte. Serviu-se das frutas e das migalhas,
da sombra e da companhia das outras aves. Só disputava do comedouro com os
sabiás (por serem os maiores), inclusive espantando as maritacas. De resto,
convivia bem com os demais. E desatou a cantar (bem, isso já não me compete
especificar) de modo que passou a ser observado pelos vizinhos e também pelos passantes,
virando inclusive, alvo de cobiçosos e felinos.
Sua doce e pujante
presença alegrou mais minhas manhãs, adoçou meus cafés, esticou minhas tardes
na cadeira a contemplar aquela negra beleza.
Como tudo que é bom dura
pouco... Durou apenas uma semana sua presença ali no quintal. De quinta a
quinta! Não sei se foi caçado, nem se foram os gatos. Nem sei ainda se foi uma
bela de plumagem negra que o enfeitiçou...
E aquela tristeza que deixou,
também ensinou:
Tudo o que vem, também segue,
como o rio que precisa correr...
Tudo que chega também parte,
como as pessoas de nosso coração, de nossas vidas...
Tudo faz sentido nas idas e
vindas da existência: deixam um pouco de si, levam um pouco de nós...
A liberdade e o amor! O que
dizer? Como compreender?
***
Agora que tudo volta ao normal, delicio-me a contemplar as algazarras das aves
que ficam, aquelas que todos os anos voltam a desfrutar do comedouro, e
namoram, e se multiplicam, trazendo então os filhotes e aumentando a alegria, a
fidelidade. A natureza é perfeita!
Pela Inclusão e pela Vida.
Pela Inclusão e pela Vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário