PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

UMA SEMANA APENAS









“ Amor, Ah se eu pudesse te abraçar agora

Poder parar o tempo nessa hora

Prá nunca mais eu ver você partir...” 

Daniel


Estava atrasada e tinha que correr contra o relógio, pois o dever chamava.

Cedinho ainda, coloquei a água a ferver para o café enquanto espiava o tempo lá fora, meio nublado e indicando...

- Um chupim? Um azulão? Mas o que é aquilo dependurado no suporte do varal?

- Não pode ser! É bem maior do que um chupim ou um azulão! Tratava-se de um Pássaro Preto, também conhecido como graúna, que dizem ser manso e canta deliciosa melodia.

Passei o café ainda espiando-o. Coloquei os pães para aquecer e o leite a ferver, afinal, quem consegue sair de casa sem um café caseiro?

Fiz o desjejum tão rápido e intrigada com o bichinho postado de frente às árvores do quintal, onde se encontra o comedouro de aves que mantemos há quase três anos e que naquele momento já apresentava a diária revoada de pássaros que vem ali logo cedo para fazer (talvez) a primeira refeição (Tratei deste assunto no post anterior).

Não me contendo de curiosidade diante daquela figura nova no pedaço, abri a porta devagar e pé ante pé, subi até a lavanderia para ter uma melhor visão. Ele nem se mexeu. Como ainda estava frio, mais parecia um repolhinho negro de tão encolhido sob as penas. Aproximei mais um pouco e ele notou minha presença para, em seguida, pular do suporte do varal aos galhos do ipê, ficando na observação das outras aves a brigar entre si por espaço do comedouro. Como queria que o tempo parasse naquela hora!

Saí em disparada, tão feliz com a natureza, com aquela visita, desejando encontrá-lo de novo na volta.

Ele estava lá, e voltou no dia seguinte, e no seguinte e no seguinte. Serviu-se das frutas e das migalhas, da sombra e da companhia das outras aves. Só disputava do comedouro com os sabiás (por serem os maiores), inclusive espantando as maritacas. De resto, convivia bem com os demais. E desatou a cantar (bem, isso já não me compete especificar) de modo que passou a ser observado pelos vizinhos e também pelos passantes, virando inclusive, alvo de cobiçosos e felinos.

Sua doce e pujante presença alegrou mais minhas manhãs, adoçou meus cafés, esticou minhas tardes na cadeira a contemplar aquela negra beleza.

Como tudo que é bom dura pouco... Durou apenas uma semana sua presença ali no quintal. De quinta a quinta! Não sei se foi caçado, nem se foram os gatos. Nem sei ainda se foi uma bela de plumagem negra que o enfeitiçou...

E aquela tristeza que deixou, também ensinou:

Tudo o que vem, também segue, como o rio que precisa correr...

Tudo que chega também parte, como as pessoas de nosso coração, de nossas vidas...

Tudo faz sentido nas idas e vindas da existência: deixam um pouco de si, levam um pouco de nós...

A liberdade e o amor! O que dizer? Como compreender?


*** Agora que tudo volta ao normal, delicio-me a contemplar as algazarras das aves que ficam, aquelas que todos os anos voltam a desfrutar do comedouro, e namoram, e se multiplicam, trazendo então os filhotes e aumentando a alegria, a fidelidade. A natureza é perfeita!


Pela Inclusão e pela Vida.


 (O texto foi feito no ano anterior, cuja ocorrência se deu por esta mesma época. Hoje, olhando os sabiás que vem trazer a ninhada para comer das frutas que colocamos sob a árvore do quintal, recordo-me daquele lindo pássaro preto e cultivo a esperança de que uma nova aparição venha alegrar o colorido de aves que se ajuntam ali quando vier a Primavera).




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