Elas são tão pequenas e indefesas
que sempre chegam por último até o comedouro sobre a árvore, ou então quando os
outros já se foram. Gostaria de protegê-las das aves maiores que as espantam
com bicadas na cabecinha, enxotando-as, como a dizer que ali elas não são
bem vindas... Como advogar em defesa desses pássaros tão minúsculos?
Enquanto permaneci entretida numa
pequena tarefa durante boa parte da manhã, próxima das árvores, pude observar a
aproximação das pequeninas corruíras que vem se alimentar das laranjas
dispostas na bandeja do comedouro, donde extraem cada bolsinha de suco do qual
se alimentam, deixando a casca das laranjas completamente limpas. Tentei
espantar qualquer vestígio de outras aves para que elas pudessem comer em paz.
Mas a tentativa de nada
adiantou com o local sendo invadido pela revoada constante de pássaros famintos
em pleno outono. Dei-me conta da limitação, de como a natureza é selvagem ao
mesmo tempo em que rodeada de serezinhos tão delicados e inofensivos como as
corruíras.
Por
que não posso? Por que não podemos?
Interrompi então a tarefa para
dar lugar à reflexão sobre nossos limites. Falo da defesa dos seres mais fracos
e indefesos, desprovidos de maldade e malícia, mas que enfrentam a vida tal
como ela é: enfrentando, lutando, sobrevivendo.
E estendi para além das
corruíras aquela preocupação latente: as aves engaioladas, traficadas; animais
de nossa fauna e flora capturados e exterminados; os animais marinhos cada vez
mais afetados por toda sorte de lixo que deixamos nas praias e rios; o
aquecimento dos oceanos e a falta de água potável. Na maior seca da história de
São Paulo, vemos o bombeamento de água do último poço, o volume morto, como a
solução para enfrentamento da falta de chuvas.
O
que posso? O que podemos?
º-º-º-º-
Hoje, enquanto seguia por
aquela rua, na calçada deparei-me com o velhinho lavando seu carro simplório com
um pano e a água de uma garrafa pet apenas. Parei para observar o que ele fazia
bem devagar, mas com muito gosto: metade da água para lavar e a outra metade
para o enxágue.
Não me contive e fui logo
elogiar sua façanha nesses tempos de racionamento. Risonho e agradecido, ele respondeu
que estava apenas “tirando o pó”, aquilo que estava a seu alcance, em sua
consciência. E lamentou como são poucos os que agem em favor do bem, apontando para,
logo à frente, duas vizinhas que vertiam o precioso líquido sobre seus quintais
sem o menor pudor.
Voltando às corruíras, penso
que elas são vulneráveis, mas não desistem de buscar e encontrar seus espaços,
a forma de sobreviver em meio à selvageria das outras aves. Enfrentar e superar
é preciso!
O que posso e podemos fazer é
cada um começar a tomar consciência de que algo que está faltando, um dia pode
acabar de vez. Precisamos fazer a consciência descer ao coração, para sentirmos
a necessidade e a urgência daquilo que precisamos para sobreviver. Daí é lutar
por ele (a)!
Vamos lutar pela nossa água,
nossos rios e nossos mares!
E São Francisco de Assis que
rogue por nós!
(Post publicado em maio de 2014)
(Post publicado em maio de 2014)
Pela Inclusão e pela Vida!
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