PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Eu posso, você pode? Eu quero, você quer?





Elas são tão pequenas e indefesas que sempre chegam por último até o comedouro sobre a árvore, ou então quando os outros já se foram. Gostaria de protegê-las das aves maiores que as espantam com bicadas na cabecinha, enxotando-as, como a dizer que ali elas não são bem vindas... Como advogar em defesa desses pássaros tão minúsculos?

Enquanto permaneci entretida numa pequena tarefa durante boa parte da manhã, próxima das árvores, pude observar a aproximação das pequeninas corruíras que vem se alimentar das laranjas dispostas na bandeja do comedouro, donde extraem cada bolsinha de suco do qual se alimentam, deixando a casca das laranjas completamente limpas. Tentei espantar qualquer vestígio de outras aves para que elas pudessem comer em paz.

Mas a tentativa de nada adiantou com o local sendo invadido pela revoada constante de pássaros famintos em pleno outono. Dei-me conta da limitação, de como a natureza é selvagem ao mesmo tempo em que rodeada de serezinhos tão delicados e inofensivos como as corruíras.

Por que não posso? Por que não podemos?

Interrompi então a tarefa para dar lugar à reflexão sobre nossos limites. Falo da defesa dos seres mais fracos e indefesos, desprovidos de maldade e malícia, mas que enfrentam a vida tal como ela é: enfrentando, lutando, sobrevivendo.

E estendi para além das corruíras aquela preocupação latente: as aves engaioladas, traficadas; animais de nossa fauna e flora capturados e exterminados; os animais marinhos cada vez mais afetados por toda sorte de lixo que deixamos nas praias e rios; o aquecimento dos oceanos e a falta de água potável. Na maior seca da história de São Paulo, vemos o bombeamento de água do último poço, o volume morto, como a solução para enfrentamento da falta de chuvas.

O que posso? O que podemos?


º-º-º-º-


Hoje, enquanto seguia por aquela rua, na calçada deparei-me com o velhinho lavando seu carro simplório com um pano e a água de uma garrafa pet apenas. Parei para observar o que ele fazia bem devagar, mas com muito gosto: metade da água para lavar e a outra metade para o enxágue.

Não me contive e fui logo elogiar sua façanha nesses tempos de racionamento. Risonho e agradecido, ele respondeu que estava apenas “tirando o pó”, aquilo que estava a seu alcance, em sua consciência. E lamentou como são poucos os que agem em favor do bem, apontando para, logo à frente, duas vizinhas que vertiam o precioso líquido sobre seus quintais sem o menor pudor.

Voltando às corruíras, penso que elas são vulneráveis, mas não desistem de buscar e encontrar seus espaços, a forma de sobreviver em meio à selvageria das outras aves. Enfrentar e superar é preciso!

O que posso e podemos fazer é cada um começar a tomar consciência de que algo que está faltando, um dia pode acabar de vez. Precisamos fazer a consciência descer ao coração, para sentirmos a necessidade e a urgência daquilo que precisamos para sobreviver. Daí é lutar por ele (a)!

Vamos lutar pela nossa água, nossos rios e nossos mares!

E São Francisco de Assis que rogue por nós!


(Post publicado em maio de 2014)



Pela Inclusão e pela Vida!






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