PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quarta-feira, 29 de junho de 2016

ENTREVISTA COM D. GENY



D. Geny - Entrevista com café


Conheci Geny Maria de Lourdes da Silva, ou simplesmente d. Geny durante a militância pelos direitos das pessoas com deficiência em Guarulhos. Foi lá pelos idos de 1997, quando dirigia o Conselho Municipal de Assuntos e Direitos da PcD e ela representava nele a APAE local, onde militou por vários anos, em sequências na presidência. Tivemos um trabalho muito árduo e bonito, aí incluindo algumas turbulências também, pois buscávamos a transparência e a ética na luta por saúde, educação e transporte especiais, dentre outros.

Nas voltas que o mundo dá, vez ou outra o destino dava um jeito de nos encontrarmos. E foi numa reunião preparatória para voluntários das Casas André Luiz, há uns quatro anos, que ocorreu o mais significativo deles: a coincidência de duas amigas que se encontram inesperadamente e partilham a idêntica opção por deixar a militância para abraçar a causa de simples voluntárias, até porque ser “cacique” também tem lá aquele ato de “sair de cena”, abrindo espaço a novos personagens. Ah, como é bom voltar a ser índio!

E, por admirar a determinação e o brilho dessa mulher, convidei-a para deixar aqui um pouco de sua narrativa de vida!


- D. Geny, gosto muito de valorizar a história das pessoas. Todos temos uma origem e isso é único e bonito. Fale um pouco sobre a sua história.

Nasci em 1937, em Pederneiras/SP. Meus pais, José Brumatti e Henriqueta Frascarelli, descendentes de italianos, eram pessoas humildes e trabalhavam como lavradores e oleiros. Tiveram sete filhos, sendo eu a quarta deles.

Casal honesto e batalhador, não mediram esforços para melhorar a criação dos filhos, mudando por várias cidades até chegar a Guarulhos, por volta de 1947 onde fixaram residência.

Casei-me aos 19 anos com Noel, meu esposo já falecido. Era uma moça humilde criada no campo e inexperiente ante os desafios da vida. Tivemos três filhos Edson, Edna e Edgar e estávamos concordes com o tamanho da família. Passados seis anos, engravidei novamente. Meu marido não gostou. Disse para ele que se foi a vontade de Deus que se manifestou, esse filho viria sim.

Em seis de setembro de 1968, nasceu a Elisabete, “Bete”, “Betinha” como era chamada carinhosamente. Era um anjo, uma professora que veio para nos ensinar o Caminho do Pai. E veio com o seu corpinho todo deformado, pois tinha uma síndrome quase desconhecida na época, e que apresentava deficiência física associada com deficiência intelectual.

Enquanto mãe de uma criança com deficiência, foi muito difícil de aceitar os inúmeros desafios que iam surgindo, não por mim, pois estava disposta a tudo fazer, mas pela Bete. Eu me perguntava por que ela tinha que passar por tanto sofrimento? Foram tantas as cirurgias realizadas na Santa Casa de São Paulo e eu residia no bairro das Lavras, aqui em Guarulhos, e que não tinha nenhum tratamento específico. A locomoção era muito precária. Naquela época os pais não podiam ficar na companhia dos filhos no hospital e isso trazia muito sofrimento para a família.

A angústia aumentava a cada comentário que os médicos faziam sobre os diagnósticos da Bete. Argumentavam que ela teria uma vida muito curta. Muito pelo contrário, ela foi uma guerreira e viveu até os quatro dias que faltavam para completar seus 41 anos.

Frequentou a APAE. Teve uma vida muito engajada com a família, os amigos da APAE; tinha decisões próprias; gostava de passear. Participava das missas de quarta-feira, no Santuário de São Judas Tadeu de Torres Tibagi, e só aceitava receber a Eucaristia das mãos do Pe. Bosco, seu amigo.

A Elisabete faleceu em 2009, em decorrência de uma cirurgia.

Bete descontraída


- A senhora tem sido muito guerreira. Como foi superar a perda da Bete, e um mês depois, do seu esposo?

Não dá para explicar. Ver uma filha simplesmente sair de sua vida e achar que nunca mais poderia vê-la é de uma dimensão imprecisa. Mas graças a Deus encontro na Doutrina a consolação, pois sei que ela cumpriu a sua missão, aliás, uma linda missão porque ela nos ensinou muito.

No início, foi o trabalho junto à APAE que me dava forças para continuar vivendo. Quando terminei o mandato, encontrei nas Casas André Luiz, muitas “Betinhas” que precisam de amor. Ai eu continuei ao lado da Elisabete.


- Onde dedica hoje seu tempo precioso?

Hoje trabalho voluntariamente duas vezes por semana nas Casas André Luiz. E uma vez por semana dou plantão no Centro Espírita Joana D’Arc.


- Poderia deixar uma mensagem para os leitores, em especial, para as mães que tem filhos com deficiência?

O que posso dizer às mães com filhos especiais é que eles são realmente especiais, pois, com eles temos a oportunidade de crescer espiritualmente no amor, na ajuda ao próximo, porque a nossa dedicação ao nosso filho reflete em todos à nossa volta, e com certeza é sempre uma benção que Deus nos ofertou.


Momento tiete

Muito obrigada D. Geny, pela sua generosidade e seu testemunho aqui depositados. Sua história demonstra que tem ainda muitas outras páginas de sua vida escritas com suor, lágrimas e também com alegrias e gratidão, com amor! São elas que fazem tua caminhada. E a senhora mostrou que o amor não se fecha em si mesmo, mas faz-nos compartilhar a vida com as pessoas. Uma missão!

Pela Inclusão e pela Vida!


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