D. Geny - Entrevista com café |
Conheci Geny Maria de Lourdes
da Silva, ou simplesmente d. Geny durante a militância pelos direitos das
pessoas com deficiência em Guarulhos. Foi lá pelos idos de 1997, quando dirigia
o Conselho Municipal de Assuntos e Direitos da PcD e ela representava nele a
APAE local, onde militou por vários anos, em sequências na presidência. Tivemos um trabalho muito árduo e bonito, aí
incluindo algumas turbulências também, pois buscávamos a transparência e a ética
na luta por saúde, educação e transporte especiais, dentre outros.
Nas voltas que o mundo dá, vez
ou outra o destino dava um jeito de nos encontrarmos. E foi numa reunião preparatória para
voluntários das Casas André Luiz, há uns quatro anos, que ocorreu o mais
significativo deles: a coincidência de duas amigas que se encontram inesperadamente
e partilham a idêntica opção por deixar a militância para abraçar a causa de
simples voluntárias, até porque ser “cacique” também tem lá aquele ato
de “sair de cena”, abrindo espaço a novos personagens. Ah, como é bom voltar a
ser índio!
E, por admirar a
determinação e o brilho dessa mulher, convidei-a para deixar aqui um pouco
de sua narrativa de vida!
- D. Geny, gosto muito de
valorizar a história das pessoas. Todos temos uma origem e isso é único e bonito.
Fale um pouco sobre a sua história.
Nasci em 1937, em
Pederneiras/SP. Meus pais, José Brumatti e Henriqueta Frascarelli, descendentes
de italianos, eram pessoas humildes e trabalhavam como lavradores e oleiros. Tiveram
sete filhos, sendo eu a quarta deles.
Casal honesto e batalhador, não
mediram esforços para melhorar a criação dos filhos, mudando por várias cidades
até chegar a Guarulhos, por volta de 1947 onde fixaram residência.
Casei-me aos 19 anos com Noel, meu
esposo já falecido. Era uma moça humilde criada no campo e inexperiente ante os
desafios da vida. Tivemos três filhos Edson, Edna e Edgar e estávamos concordes
com o tamanho da família. Passados seis anos, engravidei novamente. Meu marido
não gostou. Disse para ele que se foi a vontade de Deus que se manifestou, esse
filho viria sim.
Em seis de setembro de 1968,
nasceu a Elisabete, “Bete”, “Betinha” como era chamada carinhosamente. Era um
anjo, uma professora que veio para nos ensinar o Caminho do Pai. E veio com o
seu corpinho todo deformado, pois tinha uma síndrome quase desconhecida na
época, e que apresentava deficiência física associada com deficiência
intelectual.
Enquanto mãe de uma criança com
deficiência, foi muito difícil de aceitar os inúmeros desafios que iam surgindo,
não por mim, pois estava disposta a tudo fazer, mas pela Bete. Eu me perguntava
por que ela tinha que passar por tanto sofrimento? Foram tantas as cirurgias realizadas
na Santa Casa de São Paulo e eu residia no bairro das Lavras, aqui em
Guarulhos, e que não tinha nenhum tratamento específico. A locomoção era muito
precária. Naquela época os pais não podiam ficar na companhia dos filhos no
hospital e isso trazia muito sofrimento para a família.
A angústia aumentava a cada
comentário que os médicos faziam sobre os diagnósticos da Bete. Argumentavam
que ela teria uma vida muito curta. Muito pelo contrário, ela foi uma guerreira
e viveu até os quatro dias que faltavam para completar seus 41 anos.
Frequentou a APAE. Teve uma
vida muito engajada com a família, os amigos da APAE; tinha decisões
próprias; gostava de passear. Participava das missas de quarta-feira, no
Santuário de São Judas Tadeu de Torres Tibagi, e só aceitava receber a
Eucaristia das mãos do Pe. Bosco, seu amigo.
A Elisabete faleceu em 2009, em decorrência
de uma cirurgia.
Bete descontraída |
- A senhora tem sido muito
guerreira. Como foi superar a perda da Bete, e um mês depois, do seu esposo?
Não dá para explicar. Ver uma
filha simplesmente sair de sua vida e achar que nunca mais poderia vê-la é de uma
dimensão imprecisa. Mas graças a Deus encontro na Doutrina a consolação, pois
sei que ela cumpriu a sua missão, aliás, uma linda missão porque ela nos
ensinou muito.
No início, foi o trabalho junto
à APAE que me dava forças para continuar vivendo. Quando terminei o mandato,
encontrei nas Casas André Luiz, muitas “Betinhas” que precisam de amor. Ai eu
continuei ao lado da Elisabete.
- Onde dedica hoje seu tempo
precioso?
Hoje trabalho voluntariamente
duas vezes por semana nas Casas André Luiz. E uma vez por semana dou plantão no
Centro Espírita Joana D’Arc.
- Poderia deixar uma mensagem
para os leitores, em especial, para as mães que tem filhos com deficiência?
O que posso dizer às mães com
filhos especiais é que eles são realmente especiais, pois, com eles temos a
oportunidade de crescer espiritualmente no amor, na ajuda ao próximo, porque a
nossa dedicação ao nosso filho reflete em todos à nossa volta, e com certeza é
sempre uma benção que Deus nos ofertou.
Momento tiete |
Muito obrigada D. Geny, pela sua generosidade e seu testemunho aqui depositados. Sua história demonstra que tem ainda muitas outras páginas de sua vida escritas com suor, lágrimas e também com alegrias e gratidão, com amor! São elas que fazem tua caminhada. E a senhora mostrou que o amor não se fecha em si mesmo, mas faz-nos compartilhar a vida com as pessoas. Uma missão!
Pela Inclusão e pela Vida!
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