DEIXA A LUZ BRILHAR
“Ao
passar, Jesus viu um homem que era cego desde o nascimento. Os discípulos
perguntaram: Rabi, quem foi que pecou, para ele nascer cego? Foi ele, ou foram
seus pais?
Jesus
respondeu: Não foi ele que pecou, nem seus pais, mas isso aconteceu para que as
obras de Deus se manifestem nele.”
(João 9,1-3 - Nova Bíblia Pastoral, Paulus,
2014)
Ainda hoje persiste ideia similar a
esta narrativa, a concepção que certas pessoas têm da ligação entre
deficiência e doença, coisa quase inseparável. Registro logo de início que a
maioria das deficiências é causada, senão congenitamente, pelas variadas
doenças tais como: meningite, caxumba, rubéola, poliomielite, diabetes, etc.,
mas que não há correlação entre ambas. Doença é um fenômeno ocasional que
acomete a pessoa, o quadro apresenta uma melhora e cura, ou então causa um dano
irreversível. Deficiência é uma limitação física permanente ou não, provocada
pelas sequelas da doença a que foi acometida a pessoa; que pode afetar um ou
mais membros do seu corpo, sem deixar de ser ele mesmo, um ser inteiro. Isso
não significa que a pessoa seja um eterno doente.
E a narrativa tem seu início com uma
dúvida, idêntica a que certas pessoas já fizeram alguma vez a si mesmas, ou
desabafaram com amigos: “Que fiz eu para que meu filho nascesse com uma
deficiência?” Ou: “Qual foi meu erro para que Deus me castigasse com este
sofrimento?”.
A resposta que Jesus apresenta não se
trata necessariamente de uma abordagem da deficiência em si, mas da abertura da
pessoa à fé e a um novo projeto de vida que Ele vem trazer, gerando uma
transformação radical na pessoa. É uma reflexão educativa, a partir de um fato
concreto, não só a seus discípulos como também a nós hoje, sobre a inclusão. Delineia
uma visão teológica da deficiência - é pelos limites e pela diferença que Deus
se revela nesse meio, e se dá a conhecer. Cristo tem um ver – julgar - agir
muito peculiar: as diferenças são visíveis “para que as obras de Deus
nela se manifestem”.
Máxima usual naquele legalismo
religioso de que “todo pecado que os pais cometem é descontado nos filhos”
encontramos no livro de Ezequiel (AT), ele próprio que já pregava pela extinção
dessa tese, quando dizia: “Que sentido tem para vocês este ditado que se
repete na terra de Israel: ‘Os pais comeram uva verde, e a boca dos filhos
ficou amarrada’... vocês não vão mais repetir esse ditado em Israel. Todas as
vidas são minhas, tanto a vida do pai como a vida do filho.” Ez 18,2-4.
Jesus reafirma com palavras e com atos
que a deficiência não é castigo nem abominação como consequência dos erros
cometidos, seja de quem for, mas motivo de acolhimento, crescimento e superação
tanto pessoal como social. Se aquele cego não fosse cego, Jesus nem teria
passado por ali, nem devolvendo a visão e muito menos deixado uma mensagem rica
de adesão pela liberdade e pela vida.
O que dizer do comportamento de
famílias que tem pessoas com deficiência em seu meio? Como se comportam diante
dessa realidade? São pais ou filhos acolhedores e compreensivos? Estão
presentes nas situações diárias e buscando sempre o melhor, bem como lutando
para que a família seja coesa e aberta à partilha das necessidades de outras
famílias? Ou são como os pais do cego, ora aqui narrados, omissos e alienados,
que entregam a pessoa com deficiência à própria sorte, ou preferem que viva
numa redoma, longe da realidade?
Acreditar no potencial de pessoas cegas
ou com deficiência visual é nutrir a esperança, nutrindo metas com qualidade de
vida, onde a luta pela igualdade de oportunidades com os demais promova o
caminhar com as próprias pernas numa sociedade promotora de direitos, respeito
e liberdade.
Pela Inclusão e pela Vida!
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