Quando é a fé que prolonga a festa
A tradicional Festa da Carpição de Nossa Senhora do Bonsucesso, a mais importante da cidade de Guarulhos, é conhecida pelo feito dos primeiros moradores do bairro de mesmo nome que ali, em regime de mutirão, reuniam-se para carpir o mato no entorno da Igreja e que, segundo a crença, com o tempo foi-se operando poderes milagrosos àqueles que se dedicavam naquela tarefa.
Os
primeiros registros que se tem da festa da Carpição no bairro de Bonsucesso
está datado de 1741.
Realizada
sempre na primeira segunda-feira do mês de agosto, e, por mais de dois séculos,
ainda hoje é possível vislumbrar uma festa que torna memorável, através do
gesto de fé de peregrinos de tantos rincões que ali acorrem, carregando
pequenos punhados de terra acoplando-a sobre partes do corpo, creditando assim o
poder curativo da terra para as enfermidades, sob a ótica da fé.
A
referida festa abre os festejos em honra a Nossa Senhora do Bonsucesso, que
ocorre no último domingo de agosto. Fé, terra e Nossa Senhora é um
entrelaçamento indissociável que está entranhado na religiosidade dos
peregrinos que ali acorrem.
Encontrei
um artigo de Benedito Prezia, na obra “Revelando a história de Bonsucesso” diversos
autores, que dá um sentido antropológico ao assunto:
“A terra, desde a mais
remota antiguidade,
está associada à vida, à
procriação e à regeneração.
Para alguns povos da
América, como os
incas, a terra é mãe, Pacha
Mama, e a ela se faziam
oferendas pedindo boa
colheita. Para outros,
como os astecas, a terra
é ambivalente: mãe
que alimenta,
oferecendo-nos vegetais e caça e,
ao mesmo tempo, ventre
voraz que devora os humanos,
que nela são enterrados.
Na tradição dos indígenas
das terras baixas
do Brasil é a mulher que
se relaciona com a terra,
sendo responsável pelo
plantio dos alimentos, já
que no seu ventre a
criança é gerada. Esta necessidade
de sinal concreto em
nosso culto religioso
remonta à antiguidade,
basta ver o simbolismo
do fogo, da água, do
sangue em quase todas as
religiões. Mas a terra,
como elemento de cura religiosa,
tal como um amuleto, é
inédita no Brasil
e certamente em outras
partes da América.
Seguramente herdamos de
nossos ancestrais
indígenas e africanos a
necessidade de se
ter símbolos materiais
eloquentes e eficazes para
acompanhar nossa vida.
Mas a maior eficácia do
efeito terapêutico da terra
da carpição está na fé
das pessoas que vão ali
buscar um auxílio para
suas necessidades do
corpo e da alma.
Pela Inclusão e pela Vida.
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