Coincidências ou não, o
julgamento do caso Mércia Nakashima trouxe-me algumas peculiaridades que não o
processo em si, mas o cruzamento de pessoas nele envolvidas, em cuja
convivência, destas, uma está ligada na esfera familiar, outras duas nos tempos
de universidade e uma terceira na vizinhança quando criança.
O fato pelo qual me refiro aqui,
findo o julgamento e aplicada a pena, está ligado à figura do juiz Leandro
Bittencourt Cano, que presidiu o júri com discrição e prudência. O que chamou
atenção foram suas poucas palavras durante a extensa semana, que deram lugar a
uma sentença eloquente, não enquanto condenação e aplicação da pena, mas como
uma pedagogia a ser ensinada, uma catequese de evocação ao amor, cuja lição
aponta para a necessidade de qualidade das relações humanas.
Sua fala: “Não confundas o amor
com o delírio da posse que acarreta os piores sofrimentos”; “O instinto de
propriedade, que é contrário ao amor, esse é o que faz sofrer”; “Os gestos de
amor são humildes” e “Quando amor é o que se sente, não há o mínimo desejo de
se livrar da pessoa amada”.
Tais palavras muito recordam as viscerais
definições que Erick Fromm aborda sobre o amor em sua obra - A arte de amar –
quando afirma com todas as letras que “O amor é uma ação, a prática de um poder
humano, que só pode ser exercido na liberdade e nunca como resultado de uma
compulsão”.
O juiz Leandro Cano agiu com recato, com
sabedoria e, assim como Salomão que soube pedi-la a Deus: “Ensina-me a ouvir,
para que eu saiba governar o teu povo e discernir entre o bem e o mal” (1Reis
3,9). Faço votos de que seu ofício seja sempre direcionado e iluminado no
julgar das contendas, através da equidade que fomenta a justiça, a concórdia e
a paz.
Salutar lembrar, em meio a tantas mentiras, as
palavras de Cesare Beccaria: “O sábio tem necessidades e interesses que o vulgo
desconhece; é para ele uma necessidade não desmentir, em sua conduta pública,
os princípios que estabeleceu nos seus escritos e o hábito que adquiriu de amar
a verdade por si mesma”. (Dos delitos e das penas).
*** Este artigo, transformado em post no extinto blog "Inclusão e Sagrado", foi publicado na Folha
Metropolitana em 20/03/2013. Escrevi-o por ocasião do veredicto do processo naquele ano. Transcrevo-o neste blog recordando a brilhante atuação, naquele caso, do Promotor Rodrigo Merli e que na atual conjuntura está sendo ameaçado de morte.
Plena Semana Santa e vemos teimar as ameaças contra a vida dos que lutam pela justiça. Em 14/04/2014.
(Repostado hoje, 11/08/2016 em homenagem a todos os Operadores do Direito, na ativa ou não, e que acreditam na justiça como solução de conflitos, com ética e transparência).
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