PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Bolinho em outra língua





"Capiqueiqui" – foi assim que eu li direitinho nos lábios da professora de culinária, cujo curso me inscrevi, como forma de aperfeiçoar este achado delicioso.

Febre do momento aprendi a fazê-lo assistindo um vídeo legendado na web, mas o resultado poderia ser comparado a miniaturas das serras de Minas Gerais; o sabor, porém, foi aprovado pelas crianças.

Só não posso dizer se o som com que a professora pronunciou o CUP CAKE saiu correto. Bastou poder compreender a palavra em inglês, mesmo que acaipirada.


                                                           *****


Dia desses, fazendo companhia no café da manhã a meu afilhado Lucas, falando em um tipo de geleia, perguntei a ele a pronuncia correta daquela frutinha arroxeada e, inclusive pedi, que me corrigisse quando fosse minha vez de repeti-la: BLUEBERRY

- Bluberi, ele disse.

- Blueberri? Retornei eu.

- Não tia, diz assim... mais leve e solto: blu-be-ri...

- Blu-be-ri, soletrei como quem acaba de ler nos lábios do interlocutor a palavra pausada e sem som.


Ah, esse mirtilo... 


Pensando nisso, vejo o desafio de uma pessoa com surdez falar uma segunda ou terceira língua. Tanto para o surdo oralizado como o surdo sinalizado, que se comunica por meio de Libras, lidar com a língua pátria já é um esforço, uma língua estrangeira então... É sempre uma incógnita.

Todavia que não seja impossível. Mas que é complicado, isto é.

Numa sala inclusiva, por exemplo, como ministrar a disciplina de inglês concomitante para surdos e ouvintes, ainda com a presença do intérprete de Libras? Se o professor fala inglês para os ouvintes, como o intérprete que não obrigatoriamente sabe inglês, fará na sua transmissão aos surdos?

E se o professor resolve falar em português para que o intérprete possa interpretar, não estaria ele anulando seu esforço em se fazer entender em inglês?

Minha teoria é aquela que um professor particular de línguas dá mais resultado. Pessoalmente, já fiz um curso intensivo de italiano com professora particular, o que foi um sucesso, com bom desempenho na escrita e na pronúncia. Porém, na hora do vamos ver, isto é, do treinamento da conversação com pessoas fluentes na língua, foi um suadouro só. Em se contando que os italianos falam com a boca, com as mãos e o corpo todo, haja olhos para acompanhar...

Pesquisando na net, quase nada encontrei que seja oferecido aos surdos sinalizados como opção de uma terceira língua. Digo terceira porque para aqueles que se utilizam de Libras, esta é a primeira língua, ao passo que o português é a segunda. Daí a grande dificuldade com a formação de frases, grafia e ortografia que apresentam.

Tanto eu como os demais surdos oralizados, não consideramos a Libras como língua primeira. O português é a nossa língua-mãe. Então uma segunda língua pode ser o inglês, ou espanhol e por aí vai.

Complicado, né? Mas que não deixa de ter os encantos próprios!



Pela Inclusão e pela Vida.




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