"Capiqueiqui" –
foi assim que eu li direitinho nos lábios da professora de culinária, cujo
curso me inscrevi, como forma de aperfeiçoar este achado delicioso.
Febre do momento aprendi a
fazê-lo assistindo um vídeo legendado na web, mas o resultado poderia ser
comparado a miniaturas das serras de Minas Gerais; o sabor, porém, foi aprovado
pelas crianças.
Só não posso dizer se o som
com que a professora pronunciou o CUP
CAKE saiu correto. Bastou poder
compreender a palavra em inglês, mesmo que acaipirada.
*****
Dia desses, fazendo
companhia no café da manhã a meu afilhado Lucas, falando em um tipo de geleia,
perguntei a ele a pronuncia correta daquela frutinha arroxeada e, inclusive
pedi, que me corrigisse quando fosse minha vez de repeti-la: BLUEBERRY
- Bluberi, ele disse.
- Blueberri? Retornei eu.
- Não tia, diz assim... mais
leve e solto: blu-be-ri...
- Blu-be-ri, soletrei como quem acaba de ler nos lábios do interlocutor a palavra pausada e sem som.
Ah, esse mirtilo...
Pensando nisso, vejo o
desafio de uma pessoa com surdez falar uma segunda ou terceira língua. Tanto
para o surdo oralizado como o surdo sinalizado, que se comunica por meio de
Libras, lidar com a língua pátria já é um esforço, uma língua estrangeira então...
É sempre uma incógnita.
Todavia que não seja
impossível. Mas que é complicado, isto é.
Numa sala inclusiva, por
exemplo, como ministrar a disciplina de inglês concomitante para surdos e
ouvintes, ainda com a presença do intérprete de Libras? Se o professor fala
inglês para os ouvintes, como o intérprete que não obrigatoriamente sabe
inglês, fará na sua transmissão aos surdos?
E se o professor resolve
falar em português para que o intérprete possa interpretar, não estaria ele
anulando seu esforço em se fazer entender em inglês?
Minha teoria é aquela que um
professor particular de línguas dá mais resultado. Pessoalmente, já fiz um
curso intensivo de italiano com professora particular, o que foi um sucesso,
com bom desempenho na escrita e na pronúncia. Porém, na hora do vamos ver, isto
é, do treinamento da conversação com pessoas fluentes na língua, foi um
suadouro só. Em se contando que os italianos falam com a boca, com as mãos e o
corpo todo, haja olhos para acompanhar...
Pesquisando na net, quase
nada encontrei que seja oferecido aos surdos sinalizados como opção de uma
terceira língua. Digo terceira porque para aqueles que se utilizam de Libras,
esta é a primeira língua, ao passo que o português é a segunda. Daí a grande
dificuldade com a formação de frases, grafia e ortografia que apresentam.
Tanto eu como os demais
surdos oralizados, não consideramos a Libras como língua primeira. O português
é a nossa língua-mãe. Então uma segunda língua pode ser o inglês, ou espanhol e
por aí vai.
Complicado, né? Mas que não
deixa de ter os encantos próprios!
Pela Inclusão e pela Vida.
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