Publiquei em 26 de abril, aqui
no blog, um post sobre a Década de Ação sobre Nutrição, cujo
assunto – alimentação e nutrição – enfocou a preocupação mundial com relação ao
aumento das desigualdades sociais e consequentemente da fome e desnutrição que tende
a aumentar daqui por diante.
Falando sobre isso com minha
sobrinha Bárbara, atualmente mestranda pela Unicamp, relembramos da análise que
eu havia feito em seu Trabalho de Conclusão de Curso, quando ela finalizava
Ciências Sociais pela Unifesp e fundamentava seu estudo na área da alimentação.
Embora a tese não aborde a
desnutrição e a fome como consta naquele post, achei interessante mencionar que
a Bárbara conseguiu tocar nas diferenças e distâncias entre camadas distintas
da população no quesito ligado à alimentação, ao escolher o tema: “Crenças,
distinções e práticas alimentares com a formação do gosto infantil em escolas
socialmente diferenciadas de SP”.
Percebi no desenrolar de tese
que, muitas vezes, o desenvolvimento do seu conteúdo oscilava entre o social e
a nutrição, e ela conseguia fazer uma ponte entre esses dois parâmetros, sem se
deixar levar unicamente pelas vertentes de um ou de outro, mas focando
exclusivamente o comportamento das crianças diante da alimentação.
Não pretendo discorrer sobre a
complexidade do feito, mas enfocar apenas alguns e poucos tópicos que chamaram
atenção em relação ao fato levantado como as crianças já tem noção, desde a
escola fundamental, a respeito de uma boa e saudável alimentação enquanto fator
decisivo que norteará o futuro de suas vidas.
Refiro-me ao questionário
elaborado para entrevistar as crianças, bem como suas famílias em escolas
socialmente diferenciadas da Capital.
Num apanhado geral, com
perguntas simples e básicas, o foco das perguntas estava estritamente voltado
para - o que se come - e – noção da qualidade do que se come -.
O questionário aplicado em
escolas da rede pública demonstrava primeiramente a forma aberta com que foi acolhido
pela direção da escola, das crianças e suas famílias, e em seguida, a maneira
simples e espontânea das respostas de alunos, em sala de aula ou no intervalo
diante da merenda ou da lanchonete escolar.
E percebi que, mesmo não
apresentando situações de desnutrição entre as crianças, as respostas revelaram
que muitos dos alimentos consumidos estão levando as crianças a outra
problemática: a obesidade infantil, o outro extremo, e que não deixa de ser
preocupante para a saúde pública.
Segue breve relato de algumas
crianças.
-
Eu gosto mesmo é de comer “besteiras” (salgadinhos, hambúrguer, refrigerante, chocolate);
-
Eu gosto é da comida da minha avó (alusão à mãe que trabalha fora);
-
Para mim a comida “normal” é arroz, feijão, carne e salada;
-
Eu vou de batatas fritas, coxinha e pastel.
-
A gente sabe que só come porcaria...
Perguntadas sobre as refeições que
são feitas junto à família, grande parte respondeu que ela acontecia na hora
“da janta” por ser o momento em que todos estavam em casa (maioria dos pais trabalham
fora), sendo que houve até quem afirmasse que existe uma observância das boas
maneiras junto à mesa na família.
Quanto à aplicação do
questionário na rede privada de ensino, infelizmente tornou-se infrutífera a
coleta de dados que contribuísse com o panorama da alimentação, dificultado
pelo pouco acesso da pesquisadora, mesmo diante de várias tentativas junto à
direção, onde a questão de segurança falou mais alto. A colaboração de uma
professora contribuiu para o acesso do questionário a alguns alunos. Pouquíssimos
retornaram, alguns questionando a pesquisa, outros negando informações.
A percepção ficou por conta de que, quanto
mais elitizado o ambiente escolar, mais difícil o acesso à pesquisa,
comprometendo assim ouvir relatos do que seja ou não uma boa alimentação
naquele estrato social, contribuindo assim para o equilíbrio da pesquisa.
Por isso que digo sempre que a
inclusão deve favorecer a todos os meios, ambientes e pessoas, independente de
credo, cor, classe social ou outra forma que trate com indiferença seres
dotados de igualdade e liberdade entre si.
Fecho o post com a resposta
de uma das crianças acima: “Feijão, arroz, carne e salada". Viva as
diferenças!
Pela Inclusão e pela Vida!
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