Toda semana passo por ali,
afinal fica bem no caminho. Inevitável não entrar naquele bazar nem que seja para uma olhadinha apenas. Vez ou outra compro algo, se bem que a renda é revertida
para sustentar o trabalho social. Gosto de ambientes diversos, que tem de tudo
um pouco como que uma mistura de antiquário e brechó.
Naquele dia, garimpando objetos
por curiosidade, eis que encontro duas raridades que cativou logo à primeira
vista. Demorei-me na observação daqueles achados, virando e revirando,
apalpando a beleza, a delicadeza. E o olhar, logo de cara, entrou em sintonia
com o cérebro, que enviou uma mensagem ao coração e finalmente ordenou às mãos
que fossem em busca da carteira e finalizasse a operação para aquisição daquela
preciosidade.
Mas não havia dinheiro
suficiente, nem cartão ou qualquer indício de crédito que cobrisse a oferta. Talvez
esse aprendizado de criar o hábito no andar com pouco dinheiro como forma de
praticar o desapego... Justo naquela hora de difícil prova, como se encontrasse
uma pérola preciosa!
Tratei então de pedir ao
funcionário do caixa a guarda ou reserva dos objetos até a semana seguinte. A
permissão foi negada, afinal quem trabalha com pouco e ainda mais, fiado? E a resignação
diante do desfecho inconcluso daqueles achados provocou certa apatia, diria, uma
tristeza que se prolongou até o final do dia e que me colocou a questionar a
forte inclinação pela aquisição dos objetos em questão.
Na semana seguinte, movida pela
sensação de que poderia encontrá-los ainda por lá, como tem ocorrido com
frequência a alguns produtos que ali ficam por determinado tempo até serem
vendidos, rumei para o bazar antes de todas as atividades daquele dia, na
esperança de poder rever e arrematá-los. Em vão.
Passaram-se duas semanas daquele
ocorrido e vejo-me agora refletindo uma das parábolas que Jesus contou – a do
Tesouro – encontrada em Mateus 13,44:
“O Reino do Céu é como um
tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de
alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”.
Não é preciso dizer que a vida
é feita de ciclos que se repetem. Mas é preciso dizer que essa mesma vida, com
todas as surpresas que carrega, traz sempre um ensinamento, um aprendizado com
os pequenos sinais que nos sucedem no cotidiano: tudo é relativo debaixo dos
céus para nos ensinar que é através deles que alcançamos passo a passo o
supremo, eterno e definitivo.
E vejo a psicologia e a pedagogia
de que Jesus se utiliza ao narrar tal parábola: desejo, empenho, alcance,
realização... Nada dispensando nossos sentimentos terrenos e humanos, comum. E,
com simplicidade e ternura aponta para a compreensão de que o Reino, tal qual objeto
de grande valor pelo qual empenhamo-nos a conquistá-lo, somente se dá através
da partilha, da compaixão e da solidariedade vividas, que trazem a verdadeira alegria.
“Onde está o seu tesouro, aí
estará seu coração”!
Pela Inclusão e pela Vida.
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