D. Ana atravessou a rua tão
depressa que nem percebi se tratar da antiga vizinha da rua de baixo.
Mas será mesmo a D. Ana?
Perguntei a mim mesma, e tornei a relançar o olhar de modo que pudesse reconhecê-la
de fato.
Quando ela se aproximou, as
primeiras e inesperadas palavras que consegui pronunciar foram:
- Olha só o milagre de Deus na
tua vida!
D. Ana sorriu, agradeceu e
assentiu com a cabeça como que concordando com a verdade, ela que sofreu anos a
fio com as dores atrozes de ossos e músculos atrofiados numa das pernas,
chegando à rigidez que a impedia de adentrar até num carro, com toda a
dificuldade e malabarismos por equilibrar o corpo sobre os membros inferiores
no interior do veículo. Consultas e tratamentos ineficazes acabaram por colocá-la
enfim, numa fila de espera por cirurgia de prótese.
E não é que apenas um ano se
passou, e ontem me surpreendi com aquela senhorinha, antes de passo devagar se arrastando
sob o apoio da bengala, a atravessar a avenida tão depressa e desinibida, assustando meu
olhar numa cena completamente nova.
Seria o fator tempo? Ou o fator
olhar? Só sei que milagres existem!
O milagre se dá na
transformação. Não no ato, ou nos meses, nos anos até. Mas que importa, se ele
está ali claro e real, visível, palpável. Como não percebi isso antes?
Milagres são a somatória de uma
entrega positiva e esperançosa: doença, fé, oração, tecnologia, ciência, persistência
e amor! Não é magia que se faz apenas com uma varinha e plim plim que já se
pode sair andando, ouvindo, enxergando por aí...
Envolvimento, evolução,
transformação são nossos milagres de cada dia!
Pela Inclusão e pela Vida.
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