“Em
Jerusalém, perto da porta das ovelhas, existe uma piscina rodeada por cinco
corredores cobertos. Em hebraico a piscina chamava-se Betesda. Muitos doentes
ficavam aí deitados: eram cegos, coxos e paralíticos, esperando que a
água se movesse (porque um anjo descia de vez em quando e movimentava a água da
piscina. O primeiro doente que entrasse na piscina, depois que a água fosse
movida, ficava curado de qualquer doença que tivesse).
Aí ficava um homem que
estava doente há trinta e oito anos.
Jesus ficou sabendo e perguntou:
-Você quer ficar
curado?
-Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina
quando a água está se movendo. Quando vou chegando, outro já entrou na minha
frente.
E Jesus disse: Levante-se, pegue a sua cama e
ande.”
Trinta e oito anos? É praticamente quase uma
vida inteira em estado de espera, levando-se em conta a estimativa de vida naquele tempo!
Analisando a narrativa, penso que seria
mais fácil aquele homem acertar na loteria do que alcançar a fonte.
Como nunca me dei bem com os números, nem com
jogos, acho que na verdade, aquele homem havia mesmo entregue os pontos!
Vivendo em função da agitação das águas da piscina, de acordo com o texto,
difícil mesmo seria acreditar, dada as circunstâncias, de quando é que chegaria
realmente a sua vez.
Mas, olhando para esse homem que representa o
povo oprimido e excluído, tamanha a negligência e abandono por parte dos
poderes político e religioso, não há alternativa que se vislumbre no horizonte,
senão a submissão e a resignação. O que é pior que a resignação: Esmorecer?
Isolar? Desacreditar? Letargia que tira o sabor da existência para a qual fomos
criados, assim como a água da piscina: parada, que só se movimentava vez ou
outra.
Água parada para que serve? Hoje, por aqui,
diríamos que apenas para criar mosquitos da dengue!
Até que um turbilhão passou por ali na figura de
Jesus, nada parado, nada neutro nem morno. Olhou (bastava apenas olhar) aquele
homem, bem como o tempo que ali estava. E lá vem o movimento e a mudança: “Você
quer ficar curado?” Jesus não faz uma pesquisa de opinião, mas a questão
desafiadora, contundente, radical e direta!
Assim como perguntou, quer a resposta. Mas o
homem não foi tão decidido e certeiro: dúvidas, insegurança, medos, comodismo
como a maioria dos mortais:
- “Ah, Senhor, não tenho ninguém que me leve até
a piscina...”
Como Jesus é paciente! Ele é a expressão máxima
da compaixão, mas nunca da passividade e falta de fé! Fé é crer, é adesão, envolvimento
determinado que impregne pela e para a vida. É movimento de correspondência.
Jesus age para libertar como também para
provocar. Ele cura, devolve os movimentos ao homem e ainda provoca a sociedade,
que nada faz nem promove e onde se perde tempo e oportunidades. Sua ação não é
mágica, como se agisse sozinho, aliás, não foi para isso que veio. Sua missão é
estrada de mão dupla: age “com”, “entre” e em parceria. Junto!
Movimento é isso: Levantar-se, por-se a caminho!
É sair do estado de apatia, de imobilidade, medo e descrença. A mensagem de Cristo, como
toda a mensagem bíblica é para hoje, aqui e agora, o exato momento. De que
adianta viver em função do amanhã, se não se constrói ele hoje?
Aderir à ação incisiva e inclusiva de Jesus é
encontrar a liberdade e decidir pelo caminho, seguindo os sonhos com os pés no
chão e construindo a história, na experiência de amar e ser amado, para que
outros façam também esta experiência e cresçam na liberdade, na autonomia e
diversidade.
A lição que podemos tirar desta prática evangélica
é aprender que na vida tudo é movimento que impulsiona a avançar sempre, nunca
esperar nem andar de ré ou freio de mão. É virar a mesa e tomar a iniciativa,
criando alternativas e estratégias que favoreçam relações humanas vivas,
correntes e fomentadoras de convívio e superação.
Levanta-te, pegue tua bagagem e anda. O mundo te
espera!
PELA INCLUSÃO E PELA VIDA
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