PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

segunda-feira, 9 de março de 2015

DIAS CINZENTOS






A fraca luz que entrou pelas frestas da janela indicava que ele não viria. Talvez o senhor sol cansou-se daquele verão intenso que se instalou em plena primavera quente e sufocante e resolveu tirar alguns dias de folga.

Que maravilha: uma manhã nublada, mas sem chuva! Há quanto tempo não contemplava uma manhã assim? Tudo cinza, sem vento nem frio ou calor, nem sequer orvalho. Tudo cinza e seco, ansiando pela água.

Mais algumas horas e aquele cinza-médio vai se alterando para um cinza-chumbo. Nuvens carregadas vão se aproximando e se juntando, engrossando. Corro para o varal, tenho pressa. A roupa recém-estendida não pode esperar por mais vento - o substituto em exercício - porque as nuvens avisam que muita água vem pela frente.

Feliz, corro a recolhê-la. A vizinha faz o mesmo com sua roupa!

Alegria, alegria, alegria!

Alegria por acordar sem aquele brilho intenso invadindo o aposento...

Alegria pelo cinza tão esperado, ao contrário do amarelo e laranja, do vermelho...

Alegria pela escuridão que anuncia a chegada da água! Que vontade de cantar...


Chove chuva, chove sem parar

Hoje eu vou fazer uma prece...

Pra essa chuva inundar a represa, o ribeirão.

E a gente aprenda de vez a lição...


***

Faz muitos anos após aquela temporada no sertão. Sento Sé, Xique-Xique, Pilão Arcado. Sobradinho e, finalmente, Remanso. Dali a Malhada. Esqueci-me de quantas léguas percorremos. Sol, muito sol. Nenhuma gota de chuva. Céu azul e nuvens de algodão alvejado.

Terra seca, só mandacaru. O sol ardendo de manhã à tarde. Paulista fica triste em ver tamanha secura, acostumados que estamos a um dia muito quente que promete chuva à tarde, nosso normal.

Profetizo:

- Nossa, como hoje está quente! Vai chover.

Olhos arregalados observam. Ouvidos apenas ouvem. Nenhum comentário.

- Puxa, hoje está demais! Arremato. 

- Vejam aquelas nuvens carregadas se aproximando. Sim, hoje vai chover.

Sorrisos se multiplicam, gargalhadas até... Enfim alguém diz:

- Não 'dona', não vai chover. Nem hoje nem amanhã. Não é tempo de chuva!

- Quanto tempo sem chuva então? Perguntei.

- De seis a oito meses. Dois anos até!

Santo Deus, quem aguenta???


Reviro o baú de lembranças. Experiências de tristeza, saudade, afeto. Quanto aprendizado.

Quem diria que, passados tantos anos, hoje observo as mudanças com preocupação. Como a que está deixando de ser normal para o paulista, onde os dias quentes de verão são seguidos pela chuva refrescante da tarde...

Preocupação, planejamento e atitudes. Agir é preciso.

Quanta diferença o cinza faz!


(Post editado na última e seca primavera, enquanto se aguardavam a estação das chuvas).




Pela Inclusão e pela Vida.






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