A fraca luz que entrou pelas
frestas da janela indicava que ele não viria. Talvez o senhor sol cansou-se
daquele verão intenso que se instalou em plena primavera quente e sufocante e resolveu tirar alguns dias de
folga.
Que maravilha: uma manhã
nublada, mas sem chuva! Há quanto tempo não contemplava uma manhã assim? Tudo
cinza, sem vento nem frio ou calor, nem sequer orvalho. Tudo cinza e seco,
ansiando pela água.
Mais algumas horas e aquele
cinza-médio vai se alterando para um cinza-chumbo. Nuvens carregadas vão se
aproximando e se juntando, engrossando. Corro para o varal, tenho pressa. A
roupa recém-estendida não pode esperar por mais vento - o substituto em
exercício - porque as nuvens avisam que muita água vem pela frente.
Feliz, corro a recolhê-la. A
vizinha faz o mesmo com sua roupa!
Alegria, alegria, alegria!
Alegria por acordar sem aquele
brilho intenso invadindo o aposento...
Alegria pelo cinza tão
esperado, ao contrário do amarelo e laranja, do vermelho...
Alegria pela escuridão que
anuncia a chegada da água! Que vontade de cantar...
Chove
chuva, chove sem parar
Hoje
eu vou fazer uma prece...
Pra
essa chuva inundar a represa, o ribeirão.
E
a gente aprenda de vez a lição...
***
Faz muitos anos após aquela
temporada no sertão. Sento Sé, Xique-Xique, Pilão Arcado. Sobradinho e,
finalmente, Remanso. Dali a Malhada. Esqueci-me de quantas léguas percorremos.
Sol, muito sol. Nenhuma gota de chuva. Céu azul e nuvens de algodão alvejado.
Terra seca, só mandacaru. O sol
ardendo de manhã à tarde. Paulista fica triste em ver tamanha secura,
acostumados que estamos a um dia muito quente que promete chuva à tarde, nosso
normal.
Profetizo:
- Nossa, como hoje está quente!
Vai chover.
Olhos arregalados observam.
Ouvidos apenas ouvem. Nenhum comentário.
- Puxa, hoje está demais! Arremato.
- Vejam
aquelas nuvens carregadas se aproximando. Sim, hoje vai chover.
Sorrisos se multiplicam,
gargalhadas até... Enfim alguém diz:
- Não 'dona', não vai chover. Nem
hoje nem amanhã. Não é tempo de chuva!
- Quanto tempo sem chuva então? Perguntei.
- De seis a oito meses. Dois
anos até!
Santo Deus, quem aguenta???
Reviro o baú de lembranças.
Experiências de tristeza, saudade, afeto. Quanto aprendizado.
Quem diria que, passados tantos
anos, hoje observo as mudanças com preocupação. Como a que está deixando de ser normal
para o paulista, onde os dias quentes de verão são seguidos pela chuva
refrescante da tarde...
Preocupação, planejamento e
atitudes. Agir é preciso.
Quanta diferença o cinza faz!
(Post editado na última e seca primavera, enquanto se aguardavam
a estação das chuvas).
Pela Inclusão e pela Vida.
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