PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

domingo, 25 de outubro de 2015

O CEGO BARTIMEU




“Senhor, eu quero ver de novo!”
Mc 10,51


Quanto já me ocorreu de encontrar pelas ruas um ‘caminhar de dois’ cegos ou deficientes visuais, munidos de suas bengalas a tatear o chão, na busca de algum destino conjunto.

Compassados ou não, é uma cena que está ficando muito comum pelas ruas, graças à formação que lhes são oferecidas de “Orientação e Mobilidade” em algumas instituições. De início, não é um curso fácil. Tal como aprender a andar de bicicleta, a ginga só vem depois de muitos tropeções e quedas com joelhos, braços e pernas roxos e ralados. Porém, com paciência, disciplina e perseverança o caminho vai se fazendo a cada passo dado, o que é uma vitória.

O leitor já deve ter se deparado também com grupos de dois ou até três cegos caminhando juntos pelas ruas, onde apenas um deles vai tateando com a bengala e o (s) outro (s) seguem-no apoiados pelo braço.

Uma versão mais avançada desta mobilidade é o caso dos cegos ou deficientes visuais que possuem um cão guia. Isto sim, é uma verdadeira locomoção com independência e segurança. Quem dera todos tivessem seus cães. Mas faltam cachorros treinados. O custo é alto e demorado, a demanda grande!

E cada vez que os vejo em grupos, caminhando e senhores de seu destino, me recordo daquela frase de Jesus certa vez:

“Pode um cego guiar outro? Não cairão os dois no mesmo buraco?” (Lucas 6,39)

Embora o direcionamento da mensagem tivesse outros destinatários, literalmente, costumo até brincar com esta máxima, de que naquele tempo não havia esses cursos de Orientação e Mobilidade e daí os cegos caiam sim, nos buracos.

Falando sobre isto, gosto de extrair a profundidade das atenções que Jesus oferecia a seus seguidores, seus ouvintes e daqueles que a Ele acorriam com curiosidade e com fé. São Marcos conta em seu evangelho que havia um cego, de nome Bartimeu, que além de cego era também um pobre a mendigar esmolas, logo um excluído. Já ouvira falar da fama de Jesus e assim que soube que Ele passava por ali não perdeu a oportunidade de aproximar-se. Mas como? Sendo excluído, ninguém dava a mínima. Porém, sendo também inteligente, soube usar aquilo que mais tinha de afinado além da audição: a língua. Passou então a gritar e chamar por Jesus, que o ouviu, chamou-o e fê-lo enxergar de novo pela veracidade manifesta de sua fé.

Da margem, Jesus traz o sujeito para o centro. E mostra que se interessa por aquilo a que ninguém está. E deixa manifesta a falsidade reinante que dá lugar então à hipocrisia excludente daquela sociedade de então.

Hipocrisias nós também vemos por toda parte, todos os dias: descasos, omissões, preconceitos, piadinhas de mau gosto contra deficientes, anões, obesos, dentre outros. Temos leis para tudo que atendam às necessidades das pessoas com deficiência, muitas ainda no papel. É simplesmente tudo devagar... Nada para hoje.

Como se não bastasse nosso Ordenamento Jurídico garantindo que somos seres iguais, com plenos direitos assegurados, a prática tem-se mostrado muitas vezes inversa e não devemos permitir que nos rotulem com aquilo que realmente não somos – limitados e desiguais.

Tal o ocorrido com Bartimeu, que voltou a ver de novo através da cura, precisamos reforçar também a nossa fé em querer ver de novo; andar de novo; ouvir de novo que comporta igualmente fazer justiça, devolver o direito, a igualdade, o compromisso social e comunitário de mudança de mentalidade e atitudes frente às situações que dificultam e impedem a vida plena das pessoas.

A fé e o empenho dão essa capacidade de acreditar que, mesmo  sendo necessário suportar as contradições da vida, nunca deixar o lugar dos desafios, mas nele aprendendo a superar-se para transformá-lo.




Pela Inclusão e pela Vida!





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