Certo dia, enquanto esperava minha vez de ser atendida em determinada fila, já de posse de uma senha, cuja única consoante que antecedia os algarismos era “Y”. Viajante que sou no mundo das ideias, botei os miolinhos para pensar numa forma de descobrir o porquê escolheram aquele “Y” como inicial de senhas.
Olhei
por um tempo o painel de chamadas e tinha também um “P” na inicial de outros
algarismos. Observei que quem portava aqueles “Pês” na maioria eram as
cabecinhas brancas, ou seja, os idosos. Saquei então que aqueles “Pês” seriam
as senhas preferenciais. Logo, eu não era uma preferencial...
Sem
problemas! Minha deficiência muitas vezes passa como que sendo “embutida”, ou
seja, não é notada assim como os cadeirantes e os cegos, sendo confundida
muitas vezes mais como uma estrangeira pelo sotaque do que deficiente
propriamente. Ora, prefiro que as preferências sejam direcionadas àqueles que
dela necessitam de fato, pelas suas agravantes.
Voltei
então ao pensamento tentando descobrir aquele “Y” da questão! Não conseguia
imaginar nenhuma palavra de referência cuja letra, apesar de compor nosso
alfabeto, não tem muitas raízes e seus derivados em nossa língua.
Nesses
devaneios, ocorreu que o número seguinte ao da minha senha era exibido no
painel. Rapidamente olhei para o balcão
e vi que estavam chamando pela minha senha verbalmente, isto é, gastando o gogó
ao invés de eletronicamente. Apresentei-me ao balcão e perguntei do ocorrido. E
a atendente, com um mau humor tão assustador, respondeu que estava ajudando a
colega ao lado a agilizar o atraso das senhas, onde a minha não foi possível de
ser visualizada no painel.
Tem dia que é assim...
Entre
exigir um atendimento com acessibilidade naquele órgão ou valorizar o trabalho
de equipe em benefício da demanda, escolhi a segunda opção. Não sem antes alertar
aquela funcionária que, embora reconhecendo sua atitude colaborativa de equipe,
entretanto, ficou prejudicada a forma de acesso garantido através daqueles
painéis eletrônicos, instrumentos positivos para quem não ouve.
Na
luta por direitos adquiridos, muitas vezes deparamos com comportamentos nem
sempre simpáticos de agentes públicos ou privados. Mais do que bater o pé, o
diálogo é também outro caminho facilitador da Inclusão, com informação
embutida.
Pela
Inclusão e pela Vida!
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