PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quarta-feira, 2 de março de 2016

CHANCE E AMOR



Diante das notícias diárias, constantes e trágicas do avanço de bebês nascidos com microcefalia, sinto-me com aquela sensação de algo atravessando na garganta...

Tal como se engole um pedaço, uma casca crocante de pão, e que de repente entala e causa um arranhão e posterior sangramento. Para evitar o pior, nessas horas a solução é imobilizar a boca, como que dando um tempo para que a saliva, nesta imobilidade, vá amolecendo o pão até que seja possível ser engolido.

Refiro-me às “cascas” duas notícias que li neste início da semana. A primeira, sobre o crescente aumento de bebês microcéfalos no estado de Sergipe, e que não tem relação nenhuma com o vírus da zika. A outra, sobre o abandono de bebês nascidos com a anomalia por parte de suas famílias. O destaque foi para uma família do interior de Pernambuco, que doou o filho com microcefalia a uma parenta do Recife, por não ter recursos necessários às atenções que o caso requer. O casal já tem quatro filhos, um deles com deficiência intelectual. Quantas famílias mais? Agora falam em aborto...

Sinceramente, não tenho palavras sobre o que dizer a respeito. O silêncio tem tomado conta, dando lugar à reflexão, tentando entender. Mas como entender as implicações e complicações do vírus em relação à anomalia, se não há um conhecimento exato ainda? Ciência e medicina não têm demonstrado conceitos sobre a doença com clareza.

E nessa dúvida que permeia em todas as direções, o que se vê é a aversão demonstrada para com vidas que desabrocham, lutando ainda desde o útero para sobreviver, mesmo que com surdez, cegueira e paralisias decorrentes do cérebro diminuto... E que vingaram, estão sobrevivendo, estão mamando no peito e tem chances, mesmo que limitadas, de superar, de avançar, de provar que o impossível é possível.

Se estes bebês pudessem balbuciar algumas primeiras palavras logo após o nascimento, com certeza pediriam apenas que lhes déssemos somente um tempo, uma chance, um alento!

Somos milhares e milhares de pessoas com deficiências neste universo diverso em raças, línguas e culturas. Tivemos a chance, um dia, de poder vir ao mundo e fazermos a diferença com nossas singularidades, nossas habilidades. Provamos e construímos valores empoderadores que colaboram numa sociedade mais plural, à nossa maneira, devagar e diferente, mas com amor e competência.

E agora que aqui estamos, é nossa vez de conceder a chance a outros!

Enquanto o diagnóstico da doença não se resolve totalmente, e uma vacina eficaz venha como solução a essa tragicidade que afeta a paz e o sono de muitos, temos uma arma a nosso alcance e dela todos devemos dispor, que é a prevenção e o cuidado do meio em que vivemos: cuidando do lixo com a responsabilidade de não poluir; evitando acúmulos de água em recipientes destampados; varrendo a calçada e os quintais; limpando hortas e jardins e eliminando recipientes que sejam focos de mosquitos; usando repelentes e também protegendo as janelas.

Cuidados simples e básicos, feitos em conjunto e que podem inclusive mudar hábitos de melhor cuidar da nossa Casa Comum.

E, para finalizar, que tal demonstrarmos mais carinho e respeito com as nossas grávidas, sendo apoio e colaboração que minimize o medo e a ansiedade na travessia da gestação, elas para as quais todos os olhares se voltam, elas que tem o dom de gerar e formar Vidas!!!



Pela Inclusão e pela Vida!







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