Diante das notícias diárias,
constantes e trágicas do avanço de bebês nascidos com microcefalia, sinto-me
com aquela sensação de algo atravessando na garganta...
Tal como se engole um pedaço, uma
casca crocante de pão, e que de repente entala e causa um arranhão e posterior
sangramento. Para evitar o pior, nessas horas a solução é imobilizar a boca, como
que dando um tempo para que a saliva, nesta imobilidade, vá amolecendo o pão até
que seja possível ser engolido.
Refiro-me às “cascas” duas
notícias que li neste início da semana. A primeira, sobre o crescente aumento
de bebês microcéfalos no estado de Sergipe, e que não tem relação nenhuma com o
vírus da zika. A outra, sobre o abandono de bebês nascidos com a anomalia por
parte de suas famílias. O destaque foi para uma família do interior de
Pernambuco, que doou o filho com microcefalia a uma parenta do Recife, por não
ter recursos necessários às atenções que o caso requer. O casal já tem quatro
filhos, um deles com deficiência intelectual. Quantas famílias mais? Agora
falam em aborto...
Sinceramente, não tenho
palavras sobre o que dizer a respeito. O silêncio tem tomado conta, dando lugar
à reflexão, tentando entender. Mas como entender as implicações e complicações
do vírus em relação à anomalia, se não há um conhecimento exato ainda? Ciência
e medicina não têm demonstrado conceitos sobre a doença com clareza.
E nessa dúvida que permeia em
todas as direções, o que se vê é a aversão demonstrada para com vidas que
desabrocham, lutando ainda desde o útero para sobreviver, mesmo que com surdez,
cegueira e paralisias decorrentes do cérebro diminuto... E que vingaram, estão
sobrevivendo, estão mamando no peito e tem chances, mesmo que limitadas, de
superar, de avançar, de provar que o impossível é possível.
Se estes bebês pudessem balbuciar
algumas primeiras palavras logo após o nascimento, com certeza pediriam apenas
que lhes déssemos somente um tempo, uma chance, um alento!
Somos milhares e milhares de
pessoas com deficiências neste universo diverso em raças, línguas e culturas.
Tivemos a chance, um dia, de poder vir ao mundo e fazermos a diferença com
nossas singularidades, nossas habilidades. Provamos e construímos valores
empoderadores que colaboram numa sociedade mais plural, à nossa maneira,
devagar e diferente, mas com amor e competência.
E agora que aqui estamos, é
nossa vez de conceder a chance a outros!
Enquanto o diagnóstico da
doença não se resolve totalmente, e uma vacina eficaz venha como solução a essa
tragicidade que afeta a paz e o sono de muitos, temos uma arma a nosso alcance e
dela todos devemos dispor, que é a prevenção e o cuidado do meio em que vivemos:
cuidando do lixo com a responsabilidade de não poluir; evitando acúmulos de água
em recipientes destampados; varrendo a calçada e os quintais; limpando hortas e
jardins e eliminando recipientes que sejam focos de mosquitos; usando repelentes
e também protegendo as janelas.
Cuidados simples e básicos,
feitos em conjunto e que podem inclusive mudar hábitos de melhor cuidar da nossa
Casa Comum.
E, para finalizar, que tal
demonstrarmos mais carinho e respeito com as nossas grávidas, sendo apoio e
colaboração que minimize o medo e a ansiedade na travessia da gestação, elas
para as quais todos os olhares se voltam, elas que tem o dom de gerar e formar
Vidas!!!
Pela Inclusão e pela Vida!
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