PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

POR QUE NÃO USO LIBRAS





ORALISMO OU LIBRAS?

Uma mãe de adolescente com deficiência auditiva chegou para mim e disse que sua filha pediu para fazer um curso de inglês, mas que ela estava com receio de atender ao pedido pelo motivo da garota apresentar muita dificuldade em relação à Língua Portuguesa na escola, sendo que ela utiliza a Libras como forma de comunicação. E queria saber o que eu achava a respeito.

- Brilhante! Respondi.

E acrescentei que ela deveria atender aquele pedido. Quanto mais informação, mais se amplia o universo das pessoas surdas!

Então a mãe me olhou meio ressabiada e finalmente perguntou por que eu não me utilizava da Libras também...

Pergunta simples. Simples como não ouvir!

Não ouvir é um denominador comum a muitas pessoas desprovidas da audição. Complexo é responder àquela pergunta e também explicar as várias formas de comunicação dessas mesmas pessoas.

Essas formas de comunicação entre surdos, podemos chamar de tipos de vias de comunicação. São eles:

Oral – pessoas com deficiência auditiva independente do tipo ou grau de surdez e que possuem voz, mesmo que soe diferente. É o chamado oralismo, o entendimento pela leitura labial do interlocutor. O oralismo favorece o relacionamento com qualquer pessoa, seja surda ou ouvinte.

Oralismo segue a fala e escrita da Língua Portuguesa.

Do oralismo, muitos optaram pelo Implante Coclear e assim são chamados de Implantados. Os implantados tem resistência a Libras.

Gestual – pessoas que não desenvolveram a fala por falta de intervenção precoce ou outro fator restritivo, geralmente os surdos de nascença. A Libras (Língua Brasileira de Sinais) é a comunicação predominante, sendo a primeira língua, e o português a segunda.

Os usuários de Libras, chamados sinalizados, tem resistência aos Implantados, pois para eles todo surdo que não se utiliza de Libras, não aceita a deficiência, a surdez.

Bimodal – é o uso da voz oral e gestual, ou seja, pessoas que se utilizam do oralismo e da Libras como forma de se comunicar.

Como eu disse acima, a deficiência auditiva – a perda da audição – é o denominador comum desses grupos todos. Contudo, não se pode dizer o mesmo em relação às vias de comunicação destes. O que muita gente não sabe é que são subgrupos divergentes, não se aceitando devido às correntes contrárias que defendem.

Com isso pode-se observar que a deficiência auditiva é a menos visível (em aparência) do que as outras deficiência, mas que é a mais resistente em trabalhar a Inclusão e a Diversidade.

Voltando à inicial, diante do questionamento não só daquela mãe, como também de muitos que me abordam sobre a questão em tela, por que não me utilizo de Libras, respondo que:

 1 – Nasci ouvinte, logo ouvi e falei naturalmente;

2 – Contraí caxumba aos cinco anos de idade, daí sou surda peri-lingual, que é a fase da formação da linguagem que se dá entre os dois e seis anos de idade;

3 – Não escolhi e nem optei pelo tipo de comunicação do qual me utilizo até hoje, o oralismo. Foi uma escolha múltipla: pais, médicos, fonoaudiólogos e professores em conjunto e baseados na realidade que encontraram no momento da instalação da surdez, após a caxumba;

4 – No oralismo cresci, desenvolvi e aprendi a me relacionar com qualquer pessoa, surdos e ouvintes, sem me identificar com “grupos” ou “tribos” específicas;

5 – Aprendi que a ferramenta mais preciosa nas relações interpessoais chama-se COMUNICAÇÃO, não importando os meios para efetivá-la: palavras, sinais, sons, escritas, olhares, toques etc.;

6 – Estou sempre à disposição e em sentido de diálogo com os grupos mencionados, apoiando e incentivando voluntariamente suas lutas por direitos. Contudo, não me enquadro em nenhum. Meu campo de visão e de ação abrange todas as deficiências e não apenas a auditiva.

Por fim, RESPEITO é o verbo que aprendi a conjugar convivendo com os contrários e acreditando que só assim se promove a Inclusão e a Diversidade entre as pessoas. E Viva as diferenças!



Pela Inclusão e pela Vida!


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