ORALISMO OU LIBRAS?
Uma mãe de adolescente com
deficiência auditiva chegou para mim e disse que sua filha pediu para fazer um
curso de inglês, mas que ela estava com receio de atender ao pedido pelo motivo
da garota apresentar muita dificuldade em relação à Língua Portuguesa na
escola, sendo que ela utiliza a Libras como forma de comunicação. E queria
saber o que eu achava a respeito.
- Brilhante! Respondi.
E acrescentei que ela deveria atender
aquele pedido. Quanto mais informação, mais se amplia o universo das pessoas
surdas!
Então a mãe me olhou meio
ressabiada e finalmente perguntou por que eu não me utilizava da Libras
também...
Pergunta simples. Simples como
não ouvir!
Não ouvir é um denominador
comum a muitas pessoas desprovidas da audição. Complexo é responder àquela
pergunta e também explicar as várias formas de comunicação dessas mesmas
pessoas.
Essas formas de comunicação
entre surdos, podemos chamar de tipos de vias de comunicação. São eles:
Oral –
pessoas com deficiência auditiva independente do tipo ou grau de surdez e que
possuem voz, mesmo que soe diferente. É o chamado oralismo, o entendimento pela leitura labial do interlocutor. O oralismo favorece
o relacionamento com qualquer pessoa, seja surda ou ouvinte.
Oralismo segue a fala e escrita
da Língua Portuguesa.
Do oralismo, muitos optaram pelo
Implante Coclear e assim são chamados de Implantados. Os implantados tem
resistência a Libras.
Gestual –
pessoas que não desenvolveram a fala por falta de intervenção precoce ou outro
fator restritivo, geralmente os surdos de nascença. A Libras (Língua Brasileira
de Sinais) é a comunicação predominante, sendo a primeira língua, e o português
a segunda.
Os usuários de Libras, chamados
sinalizados, tem resistência aos Implantados, pois para eles todo surdo que não
se utiliza de Libras, não aceita a deficiência, a surdez.
Bimodal – é o
uso da voz oral e gestual, ou seja, pessoas que se utilizam do oralismo e da
Libras como forma de se comunicar.
Como eu disse acima, a
deficiência auditiva – a perda da audição – é o denominador comum desses grupos
todos. Contudo, não se pode dizer o mesmo em relação às vias de comunicação
destes. O que muita gente não sabe é que são subgrupos divergentes, não se aceitando devido às correntes contrárias que
defendem.
Com isso pode-se observar que a
deficiência auditiva é a menos visível (em aparência) do que as outras
deficiência, mas que é a mais resistente em trabalhar a Inclusão e a
Diversidade.
Voltando à inicial, diante do
questionamento não só daquela mãe, como também de muitos que me abordam sobre a
questão em tela, por que não me utilizo de Libras, respondo que:
1 – Nasci ouvinte, logo ouvi e falei
naturalmente;
2 – Contraí caxumba aos cinco
anos de idade, daí sou surda peri-lingual, que é a fase da formação da
linguagem que se dá entre os dois e seis anos de idade;
3 – Não escolhi e nem optei
pelo tipo de comunicação do qual me utilizo até hoje, o oralismo. Foi uma
escolha múltipla: pais, médicos, fonoaudiólogos e professores em conjunto e
baseados na realidade que encontraram no momento da instalação da surdez, após
a caxumba;
4 – No oralismo cresci, desenvolvi
e aprendi a me relacionar com qualquer pessoa, surdos e ouvintes, sem me
identificar com “grupos” ou “tribos” específicas;
5 – Aprendi que a ferramenta
mais preciosa nas relações interpessoais chama-se COMUNICAÇÃO, não importando
os meios para efetivá-la: palavras, sinais, sons, escritas, olhares, toques etc.;
6 – Estou sempre à disposição e
em sentido de diálogo com os grupos mencionados, apoiando e incentivando voluntariamente suas
lutas por direitos. Contudo, não me enquadro em nenhum. Meu campo de
visão e de ação abrange todas as deficiências e não apenas a auditiva.
Por fim, RESPEITO é o verbo que
aprendi a conjugar convivendo com os contrários e acreditando que só assim se
promove a Inclusão e a Diversidade entre as pessoas. E Viva as diferenças!
Pela Inclusão e pela Vida!
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