Como não notei antes que ela
estava ali naquele ponto de ônibus? Teria sido minha total imersão nos
problemas daquele dia a ofuscar a vista, ou será que foi porque estava ali
sentada de costas?
Só percebi depois que me
cansei de tanto esperar pelo ônibus, cansaço esse acumulado por outros, da
correria de tanto por fazer... E sentei-me no banco bem ao lado dela, ainda de
costas.
Mal esbarrei e de imediato ela
se virou me assustando. Foi então que notei que era uma garota Down linda,
rechonchuda e de belos olhos azuis. Não falava e pouco enxergava, pois digitava
no laptop infantil encostando-o quase na ponta do nariz.
Só eu falava. Nenhuma resposta,
nenhum aceno. Será que não ouvia também?
Mas os sinais estariam por vir.
Quase desistindo de uma reação
dela, fiquei mais atenta à procura de vestígios do coletivo, que já
aparecia ao longe. Aprontei-me então para levantar, qual não foi outro susto ela
provocou: agarrou-me pelo braço, reclinou a cabeleira loira de cachos ondulados sobre o peito, como que pedindo um abraço, um afago...
Devolvi, envolvi e
desmontei. Eu, que também queria um afago, que evaporasse o cansaço e as preocupações. Clareasse a mente, sossegasse o coração...
Coração com coração no silêncio
e sob a vista de curiosos, tudo ali aconteceu em questão de segundos. Sem
palavra, sem noção, conceito e direção.
Cenas assim me convencem de que
na vida, seja em mares revoltos ou brisa mansa, há momentos inesperados que nos
sinalizam como que uma pausa nos movimentos, na mente e coração. Que nos
transportam para um cenário de paz e acalanto inexplicáveis, encontro sem
palavras e entendimento, mas que inebria e traz profunda alegria, motivação.
Assim age Deus!
Assim age Deus!
Pela Inclusão e pela Vida!
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