PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

segunda-feira, 10 de maio de 2021

QUEM CUIDARÁ DEPOIS?  



É a pergunta que faço a mim mesma toda vez que vejo uma mãe idosa acompanhar o (a) filho (a) com deficiência. Seja no ônibus, na rua, nos consultórios, em qualquer lugar.
Falei mãe porque a maioria é a mãe mesmo que está ali ao lado. Difícil vê-las largar seu rebento, mesmo na velhice, com todas as surpresas que a vida vai moldando...
Aqui na rua passa uma única linha de ônibus. A linha 281. Em seu itinerário, tem uma parada – a mais longa e demorada – num centro de especialidades médicas que, além de atender o público em geral, tem uma ala exclusiva para atendimento de pessoas com deficiência (modéstia à parte, uma conquista árdua que conseguimos implementar alguns anos atrás junto ao poder público). Pois bem, ali é o mais movimentado ponto de parada daquela linha, cujos veículos adaptados não dão conta de tamanho contingente.
E nesses anos todos, o que se pode verificar dentre os usuários da linha, é a grande quantidade de PcDs que a utilizam para frequentar os serviços oferecidos nas especialidades médicas dali. Destes, a deficiência mais numerosa é a intelectual, seguida pela deficiência física. Como os avanços da inclusão tem sido positivos, hoje está mais visível a presença dos deficientes aos meios comuns, que deixam o isolamento da sua casa e interagem com um número maior de pessoas, sejam médicos, fisioterapeutas, educadores, enfim com companheiros iguais de condição. Resumindo: saem da “caixinha” para o mundo.
Por ali, vê-se que são tantas as mães que pegam o filho de 30, 40 ou mais anos pela mão e atravessam a rua. Dão sinal para o coletivo e os ajudam a superar cada degrau. Atravessam a catraca e procuram por um assento amarelo – aqueles disputados entre idosos e deficientes, ou então algum cedido com benevolência. E na hora de descer, tem que ir à frente mesmo e segurando igual criança, sob risco de tropeço e fuga pelas ruas.
Dá para imaginar como é a vida dessas mães todo santo dia! As leoas objeto deste post, as lutadoras que impulsionam tal movimento adiante. O que seria dos filhos sem elas?
E a pergunta que não cala: depois delas quem virá, quem cuidará? Qual tutor levará adiante esse ânimo todo com coragem e esperança de algo bom e saudável para pessoas tão especiais? Será a irmã ou o irmão? Os sobrinhos ou os padrinhos?
O Estado?


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Nove horas da manhã, sexta-feira. Adentrei o portão que dá acesso à instituição. Do outro lado adentrava também um veículo oficial, vindo de uma pequena cidade do interior. Além do motorista, um casal já idoso desembarcava com dificuldades, um deles auxiliado por um andador. Foi somente uma observação e segui para a atividade do dia.
Mais tarde, num intervalo, atravessando a alameda sob o sol que aquecia aquela manhã fria, observei sentados juntinhos aquele casalzinho e o filho deles, paciente da casa. Desfrutavam da visita, apagando a saudade e curtindo afetos. A cena indicava que chegara aquela etapa de quem já não reúne mais forças para o cuidado daquele que foi um sonho que sonharam juntos. O rapaz, aparentando mais de quarenta anos, aquecia-se também ao sol recostado em sua cadeira de rodas e envolto de agasalhos, silencioso, alheio a tudo em redor. Mas bem amado, bem cuidado...
Toda vez que vejo cenas assim, vem a pergunta: Quem cuidará depois?
Meu anseio é que haja sempre um Anjo cuidador. Com asas, sem asas. Mas com amor!

(Postagem de maio/2018)

Pela Inclusão e pela Vida!

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