PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O OLHAR CONTA, MAS SÓ O CORAÇÃO FAZ





Sim, o olhar conta quando está voltado para uma realidade de dor e despojamento do outro. Mas só olhar não basta! É preciso muito mais que o olhar. É de impulso, de atitudes que movem e transformam a vida do outro que acontecem os laços da mudança.

Só olhar de complacência fica apenas aquela sensação de dó e pena, que nada transforma.

Olhar de compaixão vai além, muito além pois mexe no coração, que não é estático, e vê refletido a imagem do outro em si mesmo como num espelho.

Na Bíblia tem uma história bonita sobre isso, de olhar e atitudes. Está no Novo Testamento, mais precisamente no Evangelho de Lucas 10, 25-37, conhecido como a Parábola do Bom Samaritano. A narrativa conta que havia um homem caído na estrada e muito machucado (deveria ter sido roubado e espancado). Passou por ele um sacerdote que descia pela estrada rumo à sinagoga e, quando o viu, atravessou para o outro lado e seguiu adiante. O mesmo aconteceu com um levita (homem da lei) que atravessava por ali, viu o homem caído e também mudou de lado, seguindo caminho. Finalmente, um samaritano que viajava por aquela estrada (os samaritanos não se davam com os judeus) e viu o pobre homem. Chegou perto e teve compaixão, cuidou das feridas e o levou para uma pousada, desembolsando certa quantia de dinheiro e recomendando que cuidassem dele até que ele voltasse da viagem.

Trata-se de uma parábola que Jesus contou. Quem quiser saber o final dela, pode conferir na fonte indicada acima.

Mencionei apenas esse trecho – SER UM BOM SAMARITANO - porque, nestas duas últimas semanas, quando as notícias da tragédia de Brumadinho se avolumaram, estampando o cenário de dor e sofrimento, de morte e destruição que se alojou na pequena cidade e seus habitantes desolados, paralelamente, sinais de vida e solidariedade brotaram, pipocaram com inúmeros gestos de boa vontade e empenho vindos de todos os cantos do país, e de voluntários que ali se instalaram para somar forças e apoio.

A nação, profundamente tocada pelos incansáveis esforços dos bombeiros na busca de corpos desaparecidos, acompanha estupefata nobre missão sob sol, calor, chuva, lama e cansaço extenuantes; salários atrasados e 13º não pago; distantes da família, do aconchego do lar, de relaxamento físico e psicológico enfim, empenhados numa dedicação exemplar que só comparada à missão de uma mãe: dar a vida para encontrar vidas!

E, como não bastasse essas atitudes aguerridas que acalmam nossas mentes e corações diante de cenários de morte e desolação, uma névoa de acalanto, a bruma mansa que dissipa e revela não só olhos, como também mãos e corações que se unem num galpão improvisado bem ali no front, com suas máquinas de lavar roupas e de secar, mangueiras com jatos d’água, varais improvisados, mesas estendidas e tudo, tudo arranjado e organizado para lavar as roupas daqueles incansáveis homens e mulheres. 

Roupas impregnadas pelas feridas da dor e tristeza, da lama, do cheiro da morte e do vazio existencial ante o poder do capital que explora a riqueza do solo, da água, do verde e paga com morte...

Lavadas e secas, dobradas, empacotadas individualmente num plástico transparente, acompanhando uma barra de cereal, uma mensagem de fé e esperança e um exemplar do Novo Testamento. 

A farda que cada soldado um dia, aprendeu a lavar ao final de cada expediente no regimento, desta vez está ali, disposta sobre as mesas, à espera de seus donos, agora impregnadas pela dedicação, alegria e carinho de olhares, mãos e corações que desejam ser um bálsamo a curar feridas, regenerar os espíritos nesta caminhada chamada VIDA.




Pela Inclusão e pela Vida!





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