Sim, o olhar conta quando está
voltado para uma realidade de dor e despojamento do outro. Mas só olhar não
basta! É preciso muito mais que o olhar. É de impulso, de atitudes que movem e
transformam a vida do outro que acontecem os laços da mudança.
Só olhar de complacência fica
apenas aquela sensação de dó e pena, que nada transforma.
Olhar de compaixão vai além,
muito além pois mexe no coração, que não é estático, e vê refletido a imagem do
outro em si mesmo como num espelho.
Na Bíblia tem uma história bonita
sobre isso, de olhar e atitudes. Está no Novo Testamento, mais precisamente no Evangelho
de Lucas
10, 25-37, conhecido como a Parábola do Bom Samaritano. A narrativa
conta que havia um homem caído na estrada e muito machucado (deveria ter sido
roubado e espancado). Passou por ele um sacerdote que descia pela estrada rumo
à sinagoga e, quando o viu, atravessou para o outro lado e seguiu adiante. O
mesmo aconteceu com um levita (homem da lei) que atravessava por ali, viu o
homem caído e também mudou de lado, seguindo caminho. Finalmente, um samaritano
que viajava por aquela estrada (os samaritanos não se davam com os judeus) e
viu o pobre homem. Chegou perto e teve compaixão, cuidou das feridas e o levou
para uma pousada, desembolsando certa quantia de dinheiro e recomendando que
cuidassem dele até que ele voltasse da viagem.
Trata-se de uma parábola que
Jesus contou. Quem quiser saber o final dela, pode conferir na fonte indicada
acima.
Mencionei apenas esse trecho – SER UM BOM SAMARITANO - porque, nestas duas
últimas semanas, quando as notícias da tragédia de Brumadinho se avolumaram, estampando
o cenário de dor e sofrimento, de morte e destruição que se alojou na pequena
cidade e seus habitantes desolados, paralelamente, sinais de vida e
solidariedade brotaram, pipocaram com inúmeros gestos de boa vontade e empenho vindos
de todos os cantos do país, e de voluntários que ali se instalaram para somar
forças e apoio.
A nação, profundamente tocada
pelos incansáveis esforços dos bombeiros na busca de corpos desaparecidos,
acompanha estupefata nobre missão sob sol, calor, chuva, lama e cansaço
extenuantes; salários atrasados e 13º não pago; distantes da família, do
aconchego do lar, de relaxamento físico e psicológico enfim, empenhados numa
dedicação exemplar que só comparada à missão de uma mãe: dar a vida para
encontrar vidas!
E, como não bastasse essas atitudes
aguerridas que acalmam nossas mentes e corações diante de cenários de morte e
desolação, uma névoa de acalanto, a bruma mansa que dissipa e revela não só
olhos, como também mãos e corações que se unem num galpão improvisado bem ali
no front, com suas máquinas de lavar
roupas e de secar, mangueiras com jatos d’água, varais improvisados, mesas
estendidas e tudo, tudo arranjado e organizado para lavar as roupas daqueles incansáveis
homens e mulheres.
Roupas impregnadas pelas feridas da dor e tristeza, da lama,
do cheiro da morte e do vazio existencial ante o poder do capital que explora a
riqueza do solo, da água, do verde e paga com morte...
Lavadas e secas, dobradas,
empacotadas individualmente num plástico transparente, acompanhando uma barra
de cereal, uma mensagem de fé e esperança e um exemplar do Novo Testamento.
A farda que cada soldado um dia, aprendeu
a lavar ao final de cada expediente no regimento, desta vez está ali, disposta sobre
as mesas, à espera de seus donos, agora impregnadas pela dedicação, alegria e
carinho de olhares, mãos e corações que desejam ser um bálsamo a curar feridas,
regenerar os espíritos nesta caminhada chamada VIDA.
Pela Inclusão e pela Vida!
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