PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

CENA INEVITÁVEL


Entre aqueles dois vulcões em chamas, preferi o abraço...


Daria tudo para evitar aquela cena.
Como evitar?
Era inevitável... Foi e ainda é! Até quando?

Foi tudo tão rápido que, quando olhei de novo, o menino já estava sentado no chão sobre o primeiro degrau da escada que dá para a porta da saída, bem no meio do corredor do coletivo. A mãe, que mal atravessara a catraca, foi logo puxá-lo para junto de si. Nem deu tempo de ver com que agilidade ele passou pela cancela, a arrastar consigo a malinha da escola.
Sentada logo atrás, só me dei conta daquela cena na hora da confusão.
Dizem que talvez seja um dom os momentos em que, onde quer que esteja, consigo com facilidade desligar de uma situação e ficar em stand by. Quiçá porque a não convivência com o som favoreça este estado. Dentro de um coletivo, mesmo com todo o escarcéu ao redor e sem saber de fatos não captados, é possível ficar zen. Outras vezes fico numa situação de insegurança por não poder entender rapidamente a ocorrência de um fato e, querendo, nele agir. É como uma faca de dois legumes...
Mas a alteração daquela mãe tirou a todos ali do estado de letargia, se é que assim estavam logo cedo. Alguns passos à minha frente, ela pedia aos ocupantes dos bancos especiais reservados - identificados por tarja amarela – próximos da catraca do cobrador, um lugar para sentar ali o seu menino irrequieto, e que ora estavam todos ocupados. Não sei e nem pude ouvir a conversa que rolou na hora e depois. Apenas pude ver a exaltação daquela mãe a exibir quase no rosto da outra passageira que cedeu seu lugar e sob protestos, o crachá de acesso que identificava seu filho como sendo um passageiro especial.
Aquela outra mulher cedeu o lugar e ficou reclamando, atraindo atenção e olhares. Cedeu por que então?

Sua ação e reação foi o suficiente para exasperar aquela mãe que, como uma leoa ferida, puxou o filho pelo braço retirando-o daquele assento maldosamente oferecido e, atravessando o corredor do coletivo em movimento, saiu em busca de outro mais ao fundo, pelo qual não precisasse implorá-lo.
Inquieto e hiperativo, o garoto de uns oito anos veio sentar-se ao meu lado enquanto a mãe desfiava o desaforo ouvido. Cochichos se formaram e olhares observavam o quanto era difícil para aquela mulher manter o menino comportado mesmo que em fração de segundos, o que transparecia sua deficiência intelectual.
Pré-conceitos, preconceitos. Aparência, enganos...
Senti-me pequena. Nada entendi do que discutiram. Ofendente e ofendido, quem estava com razão? Como dar a minha solidariedade?
Mães que tem filhos pequenos sabem o quanto é difícil o cuidar. Depois que eles crescem, começam a andar sozinhos, deixam as fraldas e tem autonomia. Então elas têm um pouco de alívio e conseguem enfim, respirar. Porém, as mães dos DI considerados severos e profundos não chegam a esse ponto: os filhos crescem de tamanho, mas não do intelecto, não tem controle. São inquietos, arredios, lidam com situações de perigo o tempo todo. Então as mães tem que ficar alertas 100%.
Como ser solidária nesta hora com um desconhecido e em fração de tempo?
Apontar culpados? Cobrar posturas dos condutores? Apaziguar as partes e mostrar o direito?
Quatro bancos identificados em amarelo. Quatro adesivos colados ao lado e indicando a reserva especial em figuras visíveis. O que ainda falta? Quem não vê? Quem se importa?
É de educação e de respeito que se faz um País.


Inclusão é vida.

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