Entre aqueles dois vulcões em
chamas, preferi o abraço...
Daria tudo para evitar aquela
cena.
Como evitar?
Era inevitável...
Foi e ainda é! Até quando?
Foi tudo tão rápido que, quando
olhei de novo, o menino já estava sentado no chão sobre o primeiro degrau da
escada que dá para a porta da saída, bem no meio do corredor do coletivo. A
mãe, que mal atravessara a catraca, foi logo puxá-lo para junto de si. Nem deu
tempo de ver com que agilidade ele passou pela cancela, a arrastar consigo a
malinha da escola.
Sentada logo atrás, só me dei
conta daquela cena na hora da confusão.
Dizem que talvez seja um dom os
momentos em que, onde quer que esteja, consigo com facilidade desligar de uma
situação e ficar em stand by. Quiçá porque a não convivência com o som favoreça
este estado. Dentro de um coletivo, mesmo com todo o escarcéu ao redor e sem saber
de fatos não captados, é possível ficar zen. Outras vezes fico numa situação de
insegurança por não poder entender rapidamente a ocorrência de um fato e,
querendo, nele agir. É como uma faca de dois legumes...
Mas a alteração daquela mãe tirou
a todos ali do estado de letargia, se é que assim estavam logo cedo. Alguns
passos à minha frente, ela pedia aos ocupantes dos bancos especiais reservados
- identificados por tarja amarela – próximos da catraca do cobrador, um lugar
para sentar ali o seu menino irrequieto, e que ora estavam todos ocupados. Não
sei e nem pude ouvir a conversa que rolou na hora e depois. Apenas pude ver a
exaltação daquela mãe a exibir quase no rosto da outra passageira que cedeu seu
lugar e sob protestos, o crachá de acesso que identificava seu filho como sendo
um passageiro especial.
Aquela outra mulher cedeu o lugar
e ficou reclamando, atraindo atenção e olhares. Cedeu por que então?
Sua ação e reação foi o
suficiente para exasperar aquela mãe que, como uma leoa ferida, puxou o filho
pelo braço retirando-o daquele assento maldosamente oferecido e, atravessando o
corredor do coletivo em movimento, saiu em busca de outro mais ao fundo, pelo
qual não precisasse implorá-lo.
Inquieto e hiperativo, o garoto
de uns oito anos veio sentar-se ao meu lado enquanto a mãe desfiava o desaforo
ouvido. Cochichos se formaram e olhares observavam o quanto era difícil para
aquela mulher manter o menino comportado mesmo que em fração de segundos, o que
transparecia sua deficiência intelectual.
Pré-conceitos, preconceitos.
Aparência, enganos...
Senti-me pequena. Nada entendi do
que discutiram. Ofendente e ofendido, quem estava com razão? Como dar a minha
solidariedade?
Mães que tem filhos pequenos
sabem o quanto é difícil o cuidar. Depois que eles crescem, começam a andar
sozinhos, deixam as fraldas e tem autonomia. Então elas têm um pouco de alívio
e conseguem enfim, respirar. Porém, as mães dos DI considerados severos e profundos não chegam a esse ponto: os
filhos crescem de tamanho, mas não do intelecto, não tem controle. São
inquietos, arredios, lidam com situações de perigo o tempo todo. Então as mães
tem que ficar alertas 100%.
Como ser solidária nesta hora com
um desconhecido e em fração de tempo?
Apontar culpados? Cobrar posturas
dos condutores? Apaziguar as partes e mostrar o direito?
Quatro bancos identificados em
amarelo. Quatro adesivos colados ao lado e indicando a reserva especial em
figuras visíveis. O que ainda falta? Quem não vê?
Quem se importa?
É de educação e de respeito que se faz um País.
Inclusão é vida.
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