Fraternidade e Tráfico Humano é
o tema da Campanha da Fraternidade de 2014, que está sendo discutido não apenas
na Igreja do Brasil entre as comunidades eclesiais, como também entre os
setores e organismos sociais que lidam com a vulnerabilidade humana. Teve início
por ocasião da Quaresma, mas seu objetivo é que a temática seja discutida no
decorrer do ano, pois a problemática que aborda o tráfico não se restringe a um
determinado espaço de tempo, visto ser uma ilegalidade constante e rotineira,
que exige empenho.
A CF-2014 visa conscientizar cristãos
e não cristãos a denunciar, repudiar e prevenir toda e qualquer atividade
ligada à exploração humana. Busca também alertar Estado e Sociedade Civil no
empenho de coibirem tais ações, para que prevaleça a justiça e o respeito aos
direitos humanos.
Num artigo extraído da CNBB, D.
Aloisio Dilli - Bispo de Uruguaiana, melhor define a CF ao afirmar: “Em 2014
ocupa-se com todos aqueles e aquelas que são enganados e usados para o tráfico
humano, de trabalho, de órgãos e a prostituição. Normalmente o crime organizado
está por detrás das diversas modalidades de tráfico humano. As pessoas,
geralmente, são atraídas com falsas promessas de melhores condições de vida em
outras cidades ou países e ali são cruelmente usadas e escravizadas, gerando
fortunas para consciências inescrupulosas e vorazes. A maioria das pessoas
traficadas vive em situação de pobreza e grande vulnerabilidade. Isso facilita
o aliciamento com falsas promessas de vida melhor”.
Ao participar de um evento na
Arquidiocese de São Paulo, num intervalo enquanto folheava as páginas do
semanário “O São Paulo” – noticiário do referido arcebispado, deparei-me com
material farto e rico na abordagem da problemática do tráfico, em especial, o de
crianças. Transcrevo algumas linhas de autoria de Daniel Gomes e Edcarlos
Bispo, em conversa com o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador de
Infância e Juventude do TJSP:
“Devem existir políticas sociais adequadas, pois enquanto houver miséria,
família que passa fome, o tráfico vai existir”. Para o desembargador, a miséria
é a raiz dos problemas ligados ao tráfico humano, principalmente o tráfico de
crianças quer seja para exploração sexual, vendas de órgãos ou adoção ilegal. “O
traficante ou rouba a criança das mãos dos pais ou compra. ‘O senhor tem oito
filhos, está passando fome, me vende três e com o dinheiro que vou lhe dar o
senhor vai viver por mais um tempo sem passar fome com os outros filhos’”
comenta Malheiros, sugerindo um diálogo hipotético entre um traficante de
crianças e um pai que passa por necessidade e se vê na necessidade de vender os
filhos.
“O
tráfico humano está entre os três tipos de tráfico mais rentáveis do mundo.
Mesmo não afirmando com certeza, o desembargador acredita que o tráfico de
pessoas só perca para o tráfico de armas.”
“Dentro
das questões do tráfico de crianças para a adoção ilegal, existe uma forma
chamada “adoção à brasileira” em que a criança é vendida ou furtada de seus
pais e acaba sendo registrada pelos compradores como sendo sua filha e logo
depois passada para outras famílias...”.
Por ser um texto longo, transcrevi
apenas partes, mas que não deixam de mostrar toda a crueza que envolve a
vulnerabilidade com que crianças e adolescentes estão expostos aos perigos do
tráfico. Vale ressaltar ainda que, em relação ao tráfico para adoção, este
envolve pessoas poderosas e influentes – juízes, advogados, promotores - que
muitas vezes acaba sendo “protegido” pela própria justiça.
Fica então o desafio que a
CF-2014 lança a todos nós, o de não calar nem desviar o olhar de triste
realidade. Conscientizar, denunciar e prevenir é a meta para preservar os
direitos inerentes da criatura humana.
Pela Inclusão e pela Vida.
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