PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sábado, 28 de setembro de 2019

FALANDO DIFERENTE





Certa vez, no Juizado Especial, enquanto aguardava minha vez de ser atendida, busquei ocupar o tempo de espera lendo algo ou então falar com alguém ao celular. Assim como pessoas que se submetem a uma fila, se esta é regra e seja onde for, sou daquelas que buscam algo com que se entreter de forma a aproveitar o tempo.

Porém, diferente dos demais mortais, nem sempre posso me dar a essa tática, sob o risco de perder o "trem", isto é, perder a chamada da senha quando for minha vez, pois é necessário estar atenta à expressão labial da pessoa que for chamar oralmente pela senha.

Pessoas surdas ou com deficiência auditiva não tem aquela flexibilidade dos ouvintes ao processar a mensagem recebida, por mais espertas e inteligentes que sejam, e executá-las em duas ou mais ações concomitantes. Deve-se priorizar a ação principal e descartar a secundária. No caso, os olhos, além da função de enxergar, nas pessoas com surdez também eles desempenham a tarefa de ouvir, como resultado da adaptação assimilada no decorrer do tempo, prova de que o corpo humano é uma máquina magnífica.

Deste modo, o processamento de ações deve ser feito por etapas, permitindo a noção da ocorrência de um evento por vez, sua execução até o resultado final, para em seguida executar a próxima ação e assim por diante.

Voltando àquela cena, quando chegou minha vez de ser atendida, o funcionário surpreendeu-se com meu sotaque característico e emendou:

- Que legal, você fala. Uma surda que fala, né?

- É mesmo? Perguntei. Vocês nunca viram uma surda que fala?

- Não, a gente só vê "surdo que é mudo", ele respondeu.

Como se todo surdo tivesse que ser mudo por natureza...

Habituada a estas e outras tantas reações das pessoas num primeiro contato que, por curiosidade ou assombro em relação à minha voz de surda oralizada, arriscam perguntar qual é a minha língua ou qual o país que nasci, se tenho a língua presa, etc. Para elas, o que primeiro desperta a atenção é a voz e raramente a surdez, devido ao sotaque típico, já que nasci ouvinte e fui acometida pela caxumba aos cinco anos. Daí o que chamamos de surdez pós-lingual, que caracteriza as pessoas que perdem a audição depois da aquisição da fala.

Reações desse tipo tornam-se rotina e isto impede o anonimato, aparecendo sempre como destaque nas conversas. Algumas vezes, dependendo do astral, chega a cansar até. Por outro lado, vejo que na vida há momentos que são nossos unicamente, feitos sob medida e ocasião de mudança e transformação. Então canalizo a exposição como um meio de esclarecer o que as pessoas desconhecem e falar sobre a inclusão, os termos corretos, as diferenças. Enfim, promover a diversidade.

É meu jeito de ser.




Pela Inclusão e pela Vida.







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