“O dia ao
outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete. Não é uma língua
nem são palavras, cujo sentido não se perceba, porque por toda a terra se
espalha o seu ruído, e até os confins do mundo a sua voz...”
(Salmo
19,3-5)
Perguntinha aos ouvintes: - A linguagem e o som que
dela brota, seria o som da linguagem ou a linguagem do som?
Num almoço entre amigas que aconteceu na casa de
uma delas, a Cris, além da deliciosa comida, aproveitamos matar a saudade da
patotinha e colocar o verbo em dia. Um detalhe, porém, focou a atenção.
A anfitriã, tendo ela mesmo preparado todos os
pratos com esmero e, mesa posta, convidou a nós outras para uma prece pela
refeição. Embora já convivamos há certo tempo juntas e, mesmo professando confissões
religiosas diferentes, nunca tive a oportunidade de vê-la orar como ali naquele
momento. Não sei se pelo fato de estar em casa ou se pelo seu firme propósito
de fé.
Até onde sei, os evangélicos tem o hábito de baixar
a cabeça e fechar os olhos para a oração. Sobre este assunto chegamos a
conversar muitas vezes, inclusive certa vez disse-lhe que essas posturas
corporais adotadas não só por sua igreja, como também pela minha própria,
considerava como que sendo uma realidade fora do contexto para pessoas com
surdez, pelo fato de não ouvir e, com isso deixar de participar dos
acontecimentos, pelo simples fato de ter que fechar os olhos para tal. Mas que
respeitava aquilo e as posturas de cada um. E se viesse a ocorrer comigo,
continuaria mantendo os olhos bem abertos, senão ficaria “boiando” no clima.
E ocorreu que, inesperadamente, a Cris tomou a
iniciativa de informar que ela faria uma oração e que eu ficasse bem à vontade,
inclusive com os olhos bem abertos. E não é que aquela mulher tem um dom
maravilhoso, leve, solto e decidido para a prece. Nada de amadorismo, mas de
uma constância tal e assídua, que flui espontaneamente. Coisa linda, própria de
quem nutre sua fé.
Se eu fechasse os olhos, não participaria daquele
ritual tão bonito, simples e despojado. Quanto respeito naquele gesto foi
possível ser captado! Respeito de amizade, da partilha do pão, da profissão de
fé, da condição. Que bonito é poder compartilhar das diferenças religiosas,
quando sabemos e cremos que nosso Deus e Pai é Único. Somos como o pão
repartido em vários pedaços que, mesmo fragmentados, provêm do mesmo pão
inteiro.
A diversidade forma a unidade! Que coisa boa.
Se fecho
os olhos...
Não vejo
cores, não sei dos movimentos,
Não vejo
pessoas, nem sinto a presença.
Deixo a
comida queimar, o leite derramar...
Perco o
ponto do ônibus e o bonde da história
Perco meu
eixo no universo.
Porque os
olhos são a direção, estão sempre atentos: veem, veem, veem!
É preciso
ver a beleza por traz do olhar, Deus fala por ele!
Olhar
também é oração...
Pela Inclusão e pela Vida.
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