PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

E SE FECHAR OS OLHOS?


“O dia ao outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete. Não é uma língua nem são palavras, cujo sentido não se perceba, porque por toda a terra se espalha o seu ruído, e até os confins do mundo a sua voz...”
(Salmo 19,3-5)



Perguntinha aos ouvintes: - A linguagem e o som que dela brota, seria o som da linguagem ou a linguagem do som?
Num almoço entre amigas que aconteceu na casa de uma delas, a Cris, além da deliciosa comida, aproveitamos matar a saudade da patotinha e colocar o verbo em dia. Um detalhe, porém, focou a atenção.
A anfitriã, tendo ela mesmo preparado todos os pratos com esmero e, mesa posta, convidou a nós outras para uma prece pela refeição. Embora já convivamos há certo tempo juntas e, mesmo professando confissões religiosas diferentes, nunca tive a oportunidade de vê-la orar como ali naquele momento. Não sei se pelo fato de estar em casa ou se pelo seu firme propósito de fé.
Até onde sei, os evangélicos tem o hábito de baixar a cabeça e fechar os olhos para a oração. Sobre este assunto chegamos a conversar muitas vezes, inclusive certa vez disse-lhe que essas posturas corporais adotadas não só por sua igreja, como também pela minha própria, considerava como que sendo uma realidade fora do contexto para pessoas com surdez, pelo fato de não ouvir e, com isso deixar de participar dos acontecimentos, pelo simples fato de ter que fechar os olhos para tal. Mas que respeitava aquilo e as posturas de cada um. E se viesse a ocorrer comigo, continuaria mantendo os olhos bem abertos, senão ficaria “boiando” no clima.
E ocorreu que, inesperadamente, a Cris tomou a iniciativa de informar que ela faria uma oração e que eu ficasse bem à vontade, inclusive com os olhos bem abertos. E não é que aquela mulher tem um dom maravilhoso, leve, solto e decidido para a prece. Nada de amadorismo, mas de uma constância tal e assídua, que flui espontaneamente. Coisa linda, própria de quem nutre sua fé.
Se eu fechasse os olhos, não participaria daquele ritual tão bonito, simples e despojado. Quanto respeito naquele gesto foi possível ser captado! Respeito de amizade, da partilha do pão, da profissão de fé, da condição. Que bonito é poder compartilhar das diferenças religiosas, quando sabemos e cremos que nosso Deus e Pai é Único. Somos como o pão repartido em vários pedaços que, mesmo fragmentados, provêm do mesmo pão inteiro.


A diversidade forma a unidade! Que coisa boa.



Se fecho os olhos...
Não vejo cores, não sei dos movimentos,
Não vejo pessoas, nem sinto a presença.
Deixo a comida queimar, o leite derramar...
Perco o ponto do ônibus e o bonde da história
Perco meu eixo no universo.
Porque os olhos são a direção, estão sempre atentos: veem, veem, veem!
É preciso ver a beleza por traz do olhar, Deus fala por ele!


Olhar também é oração...




Pela Inclusão e pela Vida.





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