PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

TELEFONE COM TOQUES HUMANOS







Se for tão complicado para os ouvintes ser surpreendido pelo estrago do celular, imagine para quem não ouve e também dele depende para se comunicar, seja com ouvintes ou não.
A velocidade com que a tecnologia abastece o mercado com aparelhos cada vez mais modernos e potentes, dotados de aplicativos que facilitam a comunicação, muitas vezes, deixa qualquer um de nós em estado de insegurança na hora de trocar o aparelho avariado por outro.

E corremos atrás de quem já passou pela experiência, no intuito de uma ajudinha diante da insegurança no manejo da maquininha...

Que saudade dos tempos em que nem sonhava ter meu próprio celular; das ligações que vivia pedindo aos outros que fizessem por mim!

Confesso que a tecnologia trouxe grandes avanços ao proporcionar acessibilidade digital, que facilita a vida de cegos e surdos e condiciona certa independência a estas pessoas. Meu saudosismo refere-se aos tempos em que podia desfrutar do ouvido dos outros, do telefone dos outros para que a comunicação se efetivasse. Essa tarefa envolvia as pessoas, fazia com que participassem do assunto, do problema ou da solução; unia enfim, ideias e sentimentos.

Lembro-me de quando viajava a lugares distantes e sem companhia, e os celulares nem eram febre no mercado e menos ainda os e-mails, pois nem todo mundo tinha computador em casa, e chegando ao destino precisava avisar alguém da minha chegada, procurava logo comprar as fichinhas de telefone público e pedia a algum passante que fizesse a ligação. As pessoas a quem solicitava geralmente olhavam com espanto, não pela petição ou pela surdez, mas pela confiança que depositava nelas em fazer tal ligação.

Houve certa vez que viajei ao interior e ali o sistema mudara de ficha para cartão local e resolvi pedir que fizessem ligação a cobrar. A primeira pessoa que encontrei foi a gari da rodoviária. Entre deslumbrada e desconfiada, perguntou se eu não estava de pegadinha. Expliquei então que eu não ouvia e precisava daquele favor, ao qual ela retrucou:

- Mas por que tenho que ligar, se você fala tão bem???

As pessoas pensam que todo surdo, por não ouvir, também não falam...

Tive que explicar que, mesmo que falasse ao telefone, eu precisava ouvir a resposta de quem estava do outro lado da linha. Enfim a ficha caiu.

Posturas humanas através do contato, pelo aprendizado com o desconhecido ensinam a valorizar a relação e o afeto humanos. Como gregários que somos, precisamos uns dos outros. E isto é saudável.


Pela Inclusão e pela Vida!






Nenhum comentário:

Postar um comentário