Se for tão complicado para os ouvintes
ser surpreendido pelo estrago do celular, imagine para quem não ouve e também dele
depende para se comunicar, seja com ouvintes ou não.
A velocidade com que a tecnologia
abastece o mercado com aparelhos cada vez mais modernos e potentes, dotados de
aplicativos que facilitam a comunicação, muitas vezes, deixa qualquer um de nós
em estado de insegurança na hora de trocar o aparelho avariado por outro.
E corremos atrás de quem já passou pela
experiência, no intuito de uma ajudinha diante da insegurança no manejo da
maquininha...
Que saudade dos tempos em que nem sonhava
ter meu próprio celular; das ligações que vivia pedindo aos outros que fizessem
por mim!
Confesso que a tecnologia trouxe grandes
avanços ao proporcionar acessibilidade digital, que facilita a vida de cegos e
surdos e condiciona certa independência a estas pessoas. Meu saudosismo refere-se aos tempos em
que podia desfrutar do ouvido dos outros, do telefone dos outros para que a
comunicação se efetivasse. Essa tarefa envolvia as pessoas, fazia com que
participassem do assunto, do problema ou da solução; unia enfim, ideias e
sentimentos.
Lembro-me de quando viajava a lugares
distantes e sem companhia, e os celulares nem eram febre no mercado e menos ainda os e-mails, pois nem todo mundo tinha computador em casa, e chegando ao
destino precisava avisar alguém da minha chegada, procurava logo comprar as
fichinhas de telefone público e pedia a algum passante que fizesse a ligação. As pessoas a quem solicitava geralmente olhavam
com espanto, não pela petição ou pela surdez, mas pela confiança que depositava
nelas em fazer tal ligação.
Houve certa vez que viajei ao interior e
ali o sistema mudara de ficha para cartão local e resolvi pedir que fizessem
ligação a cobrar. A primeira pessoa que encontrei foi a
gari da rodoviária. Entre deslumbrada e desconfiada, perguntou se eu não estava
de pegadinha. Expliquei então que eu não ouvia e precisava daquele favor, ao
qual ela retrucou:
- Mas por que tenho que ligar, se você
fala tão bem???
As pessoas pensam que todo surdo, por não
ouvir, também não falam...
Tive que explicar que, mesmo que falasse
ao telefone, eu precisava ouvir a resposta de quem estava do outro lado da
linha. Enfim a ficha caiu.
Posturas humanas através do contato, pelo
aprendizado com o desconhecido ensinam a valorizar a relação e o afeto humanos. Como gregários que somos,
precisamos uns dos outros. E isto é saudável.
Pela Inclusão e pela Vida!
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