“Observem
as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros, e o Pai
de vocês que está nos céus as alimenta. Por acaso vocês não valem mais que elas?”
Mt 6,26
A foto é da janela de um quarto
no segundo andar de um hospital. Não ficou tão nítida como gostaria, mas
pode-se avistar um pequeno ninho de rolinha entre os arbustos de uma árvore que
alcançava aquele andar.
O leito onde ficava minha mãe,
em sua estadia, dava para ver perfeitamente o casalzinho se revezando no
cuidado dos dois filhotinhos. De manhã, eles se postavam de frente para a
janela e era possível assistir as refeições que eram depositadas no bico dos
pequenos. Quando já satisfeitos, ficavam escondidos sob a penugem, ora do pai,
ora da mãe. E quando o sol da tarde batia com mais força sobre o ninho, eles se
postavam de costas para a janela, de modo a proteger seus rebentos do calor.
Foi assim durante uma semana,
até que minha mãe submeteu-se a uma cirurgia e foi transferida para a uti. Quando
teve alta desta, foi transferida para outro quarto e ali, mesmo com outra
árvore próxima, não havia ninho algum.
Mais uma semana naquele
ambiente hospitalar e, para espantar o tédio, fui algumas vezes visitar as
pacientes que se encontravam naquele primeiro quarto, no intuito de avistar
também a família de rolinhas da qual tanto me afeiçoei.
Felizmente o ninho estava
vazio. Elas partiram...
Aqui e agora, enquanto este
texto vai se distendendo, recordo-me das três noites e três dias em que minha
genitora perdeu por completo o sono, depois da cirurgia. Foram as noites mais
desafiadoras que enfrentei na vida, revezando-as com Céu, minha cunhada e
companheira de luta.
O estresse hospitalar, o cansaço,
a desnutrição, a mistura de drogas fortes somadas aos efeitos das anestesias, as
dores constantes deixaram-na num estado de “delirium” difícil de lidar e
cansativo por demais, a ponto de uma exaustão.
E houve um momento numa
daquelas madrugadas, em questão de minutos apenas, onde ela conseguiu cochilar e
pude vislumbrar, mesmo sob o peso das pálpebras querendo cerrar, luzes amarelas
e vermelhas por entre a escuridão, onde nuvens claras passavam em movimentos
suaves sobre a abóbada celeste.
Assim, uma calma, uma paz se
instalou em meu peito, revolto em misturas de sentimentos: dor, medo,
insegurança, perda... E serenou meu coração. Aquele sinal no céu da madrugada
era um prenúncio: tudo passa, tudo passará! O Pai do Céu cuida muito melhor de
seus filhos, melhor que das aves do céu!
A vida é muito preciosa.
Devemos cuidar com amor, esperança e fé!
Quem ama cuida!
Pela Inclusão e pela Vida!
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