PRETENSÃO

Ampliar os horizontes da inclusão é a pretensão deste blog. E inclusão não apenas entendida como movimento de pessoas com deficiência, senão também abordar a ecologia, os movimentos de luta por direitos e cidadania, etc. Falar de inclusão, portanto, significa acolher o meio e todas as pessoas. Significa também respeitar e tolerar a singularidade, fazendo da compreensão uma forma de convivência pacífica e plural. Na inclusão ninguém pode ficar de fora!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

OLHAI AS AVES DO CÉU






“Observem as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros, e o Pai de vocês que está nos céus as alimenta. Por acaso vocês não valem mais que elas?” Mt 6,26



A foto é da janela de um quarto no segundo andar de um hospital. Não ficou tão nítida como gostaria, mas pode-se avistar um pequeno ninho de rolinha entre os arbustos de uma árvore que alcançava aquele andar.

O leito onde ficava minha mãe, em sua estadia, dava para ver perfeitamente o casalzinho se revezando no cuidado dos dois filhotinhos. De manhã, eles se postavam de frente para a janela e era possível assistir as refeições que eram depositadas no bico dos pequenos. Quando já satisfeitos, ficavam escondidos sob a penugem, ora do pai, ora da mãe. E quando o sol da tarde batia com mais força sobre o ninho, eles se postavam de costas para a janela, de modo a proteger seus rebentos do calor.

Foi assim durante uma semana, até que minha mãe submeteu-se a uma cirurgia e foi transferida para a uti. Quando teve alta desta, foi transferida para outro quarto e ali, mesmo com outra árvore próxima, não havia ninho algum.

Mais uma semana naquele ambiente hospitalar e, para espantar o tédio, fui algumas vezes visitar as pacientes que se encontravam naquele primeiro quarto, no intuito de avistar também a família de rolinhas da qual tanto me afeiçoei.

Felizmente o ninho estava vazio. Elas partiram...

Aqui e agora, enquanto este texto vai se distendendo, recordo-me das três noites e três dias em que minha genitora perdeu por completo o sono, depois da cirurgia. Foram as noites mais desafiadoras que enfrentei na vida, revezando-as com Céu, minha cunhada e companheira de luta.

O estresse hospitalar, o cansaço, a desnutrição, a mistura de drogas fortes somadas aos efeitos das anestesias, as dores constantes deixaram-na num estado de “delirium” difícil de lidar e cansativo por demais, a ponto de uma exaustão.

E houve um momento numa daquelas madrugadas, em questão de minutos apenas, onde ela conseguiu cochilar e pude vislumbrar, mesmo sob o peso das pálpebras querendo cerrar, luzes amarelas e vermelhas por entre a escuridão, onde nuvens claras passavam em movimentos suaves sobre a abóbada celeste.

Assim, uma calma, uma paz se instalou em meu peito, revolto em misturas de sentimentos: dor, medo, insegurança, perda... E serenou meu coração. Aquele sinal no céu da madrugada era um prenúncio: tudo passa, tudo passará! O Pai do Céu cuida muito melhor de seus filhos, melhor que das aves do céu!

A vida é muito preciosa. Devemos cuidar com amor, esperança e fé!

Quem ama cuida!



Pela Inclusão e pela Vida!

  


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